segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Estamos Vivos

"Estamos vivos", de Filipe Codeço (2016) Primeiro longa do Cineasta Filipe Codeço, escrito por Alvaro Chaer, também protagonista dessa história que traz à tona , traumas e fantasmas do passado de uma família desajustada. Durante o filme, recorri a 4 filmes que me vieram à mente: "Feliz Natal", de Selton Mello, "Festa de família", de Thomas Vintemberg, "As coisas simples da vida", de Edward Yang e "Arca russa", de Alexander Sokurov. Dos filmes de Selton e Vintemberg, vem a matriz da história, que é a lavanderia à céu aberto cuspida por integrantes de uma família criada no desamor e na desesperança. Do filme de Edward Yang, vem o olhar dos adultos através das lentes de uma criança: no filme chinês, o menino recebe uma câmera fotográfica e registra tudo. No filme de Codeço, Rafa, um menino autista de 8 anos, registra absolutamente tudo com sua filmadora. E do filme "A arca russa", vem esse olhar documental, apontando para cada detalhe, obra, parede, objeto de arte que compõe o Museu de Leningrado, através de um plano-sequência de quase 100 minutos, culminando em um baile desconcertante. Em 'Estamos vivos", o plano-sequência dura 84 minutos e termina com uma catarse coletiva, orquestrada em um baile performático pela Maestra Patrícia Niedermeier, uma atriz visceral interpretando a irmã mentalmente desequilibrada de Miguel, seu irmão. A produtora do filme, Cavideo filmes, é mestra em lançar curtas em planos-sequência, vide os premiados "7 minutos" e "Engano". O desafio agora foi experimentar essa sensação da vida real em tempo real em um longa. O Diretor Filipe Codeço assume a câmera e o alter ego de Rafa e filma tudo. É um olhar seletivo do menino, muitas falas são ditas em off, não vemos os atores falando, porquê a câmera de Rafa está mais preocupada em filmar os detalhes da casa envelhecida e parada no tempo do que registrar os rostos dos familiares que não parecem importante para ele. Afinal, o que importa para uma criança autista? Miguel vem com sua esposa e filho se reconectar com seus irmãos, após a morte do Pai. Miguel não os vê há exatos 11 anos: tempo o suficiente para ninguém mais se reconhecer ou pior, guardar mágoas por esse tempo todo. O filme é isso: uma DR mesclada à técnica do plano-sequência. Nos curtas citados, funcionou magistralmente. Aqui, para ter tido um resultado mais primoroso, uma enxugada na duração teria sido, acredito eu, mais efetivo. Existem tempos mortos demais ( resultado da busca pelo plano-sequência). E senti falta de uma interferência maior de Rafa, que não fosse apenas pela câmera, afinal, ele não fala nada, justificado pelo seu autismo. O ponto alto do filme é sem dúvida alguma, o trabalho do elenco. Parabéns ao Diretor pela preparação e pela organicidade da performance dos atores. https://vimeo.com/241297231?fbclid=IwAR1t4hWfrkoRU0yPQU3FXStiaaBEffIpexvstVJaU3HtP5UZEbSgfvMyqHk

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