segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Reviver

"Reviver", de Cavi Borges e Patricia Niedemeier (2018) Os Cineastas Cavi Borges e Patricia Niedemeier desenvolveram uma trilogia cinema/poesia intitulada "Filmes de viagem". "Salto no vazio", a 1a parte da trilogia, tinha como locações Países da Europa e do Oriente médio, e tinha como tema a liberdade do ser humano em tempos de angústia e de violência. A atriz e bailarina Patricia Niedemeier fazia performances em paisagens famosas para explorar a camaleônica função do artista: se mimetizar com aquilo que o rodeia. Agora em "Reviver", a paisagem se tornou brasileira, mais precisamente, São Luís do Maranhão e a paradisíaca Lençóis Maranhenses. O filme, co-produção Rio de Janeiro e Maranhão, teve o roteiro escrito pelos 2 protagonistas: Jorge Caetano e Patricia Niedemeier. Ele, Gustavo, roteirista de cinema, mora no Rio de Janeiro. Ela, Maria Guaranis, artista visual, atual paradeiro desconhecido. Seu apartamento, com toda sua obra, pegou fogo e não foram encontrados vestígios de seu corpo. Tentativa de suicídio? Ou de apagar a memória da sua obra? Há quem diga que ela está no Maranhão. Outros dizem que foi vista perambulando no Peru. Diferente de "Salto no vazio", "Reviver" é mais narrativo. Tem seus momentos poéticos e lúdicos, mas eles fazem parte da mente de Gustavo, que se encontra em crise criativa. Ele foi contratado por um produtor (Alexandre DaCosta) para escrever um roteiro de 70 páginas no prazo de 15 dias, caso contrário, perderão a inscrição em um edital de produção audiovisual. Gustavo não consegue sair da página 1. A memória e a arte de Maria, espalhadas em fotos sobre a sua mesa e em vídeos do Youtube que ele não cansa de assistir, o atordoam. Gustavo quer , inconscientemente, seguir os passos de Maria. O filme discute até onde a obra de um artista interfere em sua vida pessoal. Alguns enlouquecem, outros se matam, outros de acomodam. Gustavo se encontra nesse momento de inquietação: o que ele quer, como Artista? Cavi e Patricia seguem os passos de Woody Allen, que em determinado momento de sua filmografia, abriu um espaço para os tais "Filmes de viagem": Woody Allen filmou em Paris, Barcelona, Roma e criou obras memoráveis. Os brasileiros também encontram no filme de Fellini, "8 1/2", a semente de "Reviver: é na crise criativa que um Artista cria a sua melhor obra? O Ator e Diretor de Teatro Jorge Caetano é para mim, a grande surpresa do filme. Uma escalação nada óbvia e muito bem vinda, trazendo dignidade e uma performance naturalista para o atormentado roteirista. Gustavo e Maria são Yin e Yang, como todo Artista: em um Polo tem a pressão para que se produza algo. No outro, existe a liberdade, após a concepção de sua obra. Com imagens belíssimas captadas pelas lentes de 3 fotógrafos (Vinicius Brum, André Amado e Guilherme Verde - Um parênteses: não gosto de praia nem areia, mas as cores impressas dos Lençóis são acachapantes), o filme explora o que todo Artista busca: a sua Musa inspiradora e o tempo necessário para que ela se faça presente. Que venha a terceira parte.

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