terça-feira, 18 de dezembro de 2018

O beijo no asfalto

"O beijo no asfalto", de Murilo Benício (2017) Cinema e Teatro andaram de mãos juntas em muitas experiências cinematográficas, boa parte muito bem sucedida. "Querelle"e "Lágrimas amargas de Petra Von Kant", de Fassbinder, "Dogville", de Lars Von Triers, "Anna Karenina", onde se expunha a existência de uma coxia com técnicos trazendo cenários. Até mesmo no Brasil tivemos uma tentativa de metalinguagem, com "Todo mundo tem problemas sexuais", de Domingos de Oliveira. A peça "O beijo no asfalto", escrita no início dos aos 60, já ganhou diversas montagens, sendo a primeira com Zilka Salaberry e Fernanda Montenegro. Em 1981, Bruno Barreto fez a versão para o cinema, com Ney Latorraca no papel de Arandir e Cristiane Torloni no papel de Selminha. O Ator Murilo Benício, que tem investido em uma carreira mais autoral, tanto na frente como atrás das telas, estréia na Direção com uma proposta ousada e arriscada: apresentar os artifícios do cinema e do teatro durante a sua encenação metalinguistica. Com um elenco formidável que vai de Lazaro Ramos, Stenio Garcia, Debora Falabella, Fernanda Montenegro, Otavio Muller, Augusto Madeira, o filme mescla leitura de mesa com os atores, comandados pelo diretor teatral Amir Haddad, encenação fictícia e ao mesmo tempo, apresentação de cenários no palco de teatro. Isso sem falar na vida real, as ruas do centro da cidade, logo no início, mostrando a cena do atropelamento. Fosse uma obra atual, diríamos que o tema central seria o "Fake news"e a calúnia virtual. Como o filme é de época, e se passa no subúrbio, o que comanda é a mídia jornalística, encarregada de publicar uma matéria sensacionalista: um homem, Arandir, beija uma vítima de atropelamento na boca, antes desse morrer. Mas o mais surpreendente no filme nem é a peça de Nelson: é a discussão dos atores diante do conservadorismo, quase 60 anos depois da peça escrita, como a violência e a homofobia continuam iguais. Para Atores e Diretores, o filme tem uma espetacular digressão acerca da ARte e do papel do Ator. Presenciar Fernanda lendo o roteiro na mesa, com os outros atores, e dando vida à personagem, é algo impressionante. O elenco está todo formidável, assim como a ficha técnica, principalmente a fotografia de Walter Carvalho, a direção de arte de Thiago Marques e a edição de Pablo Ribeiro. Programa imperdível.

Nenhum comentário:

Postar um comentário