sábado, 20 de junho de 2020

A mulher da areia

“Suna no onna”, de Hiroshi Teshigahara (1964) Obra-prima da nouvelle vague japonesa, “A mulher da areia” é adaptado do livro de Kobe Abe. A nouvelle vague japonesa foi um movimento que surgiu no final dos anos 50 no Japão, seguindo os preceitos da sua referência, a Nouvelle Vague francesa. Rompendo com o classicismo do cinema japonês, os jovens cineastas do movimento trouxeram um novo frescor aos temas, falando sobre sexualidade, independência feminina, existencialismo, angústia. Protagonizado pelo astro japonês Eiji Okada, do clássico de Alain Resnais, “Hiroshima, mon amour”. Inclusive, uma sequência lembra muito o filme francês: na cena de sexo, com a câmera colada na pele dos amantes, a areia colada ao corpo, refletindo tanto a pele quanto o brilho dos grãos de areia. Eiji interpreta o entomologista Niki, que vai até uma região de dunas para fazer pesquisa de insetos. Quando ele dorme, ao acordar, descobre por um aldeão que o último ônibus já partiu. O aldeão lhe oferece uma hospedagem na casa de uma senhora solteira. Ao chegar no local, Niki descobre que a casa fica dentro de um vale de areia. Ao descer de escadas de corda, ele conhece a solitária e angustiada mulher (Kyôko Kishida). Ela lhe diz que a tempestade de areia soterrou seu marido e sua filha. No dia seguinte, ao acordar, Niki descobre que a escada sumiu, e que ele foi enganado pelos aldeões: é uma armadilha, para que ele seja a partir de agora, parceiro dessa mulher, que passa as noites tirando areia do buraco para evitar que as casas dos aldeões sejam soterrada também. Misturando vários gêneros: drama, realismo fantástico, erotismo, filmes sobrenaturais e de terror, “A mulher da areia” é um primor de fotografia, em preto e branco expressionista, de trilha sonora, bastante assustadora, e de direção de arte e de efeitos. Toda a trucagem do barranco de areia deslizando, a casa sendo invadida pela areia, é impressionante. O filme pode ser visto de duas formas: realista, ou metafórico, falando de temas como fracasso do casamento, machismo, luta de classes, uso do poder. O filme tem um teor erótico bastante forte, inclusive trazendo fetiches como voyeurismo ( os aldeões querem ver o casal fazendo sexo para poder realizar o desejo do homem de querer ver o mar). Vencedor do Grande premio do júri no Festival de Cannes 1965, e concorrendo ao Oscar nas categorias de direção e filme estrangeiro, “A mulher da areia” é uma aula de direção, de construção de narrativa e defendido com garra por dois atores brilhantes, que se permitiram se envolver em uma sofrida e penosa produção onde certamente, o luxo e conforto não existiram.

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