quinta-feira, 7 de maio de 2020

Pai Patrão

"Padre padrone", de Paolo Taviani e Vittorio Taviani (1977) Obra-prima do cinema italiano, foi vencedor da Palma de Ouro de melhor Filme e Prêmio Fipresci no Festival de Cannes 1977. O filme é a adaptação do livro autobiográfico de Gavino Ledda. Nascido em Siliga, vilarejo pobre da Sardenha no ano de 1938, Gavino foi retirado da escola municipal por seu pai, interpretado por Omero Antonutti. Seu pai acha um absurdo que o Governo torne obrigatório o estudo e sentencia a frase:" A pobreza, essa que é obrigatória". Sendo filho único, o pai quer que ele cuide das ovelhas e do pasto. De inicio, Gavino fica assustado de ter que dormir sozinho no pasto, sob a ameaça de cobras e raposas. Seu pai constantemente o bate. Com o passar dos anos, já com 20 anos, Gavino continua no pasto: analfabeto e sem saber se expressar verbalmente. A relação com seu pai continua de escravo e patrão, até que Gavino encontra a oportunidade de se alistar como soldado e lutar na 2a guerra , uma chance de poder sair do controle do seu pai. No exército, Gavino faz amizade com um soldado que lhe ensina a ler escrever. Com uma fotografia extraordinária de Mario Masini, que explora as grandes paisagens e os closes claustrofóbicos de forma bastante dramática. e uma trilha sonora de Egisto Macchi que intensifica a emoção das cenas, "Pai patrão" é um libelo contra a brutalidade das relações patriarcais. É até difícil assistir a primeira parte do filme, que envolve Gavino pequeno, em atuação comovente do pequeno Fabrizio Forte. É ele quem apanha mais, quem sofre a crueldade física do pai, por não entender o que está acontecendo e por ser frágil. A cena do pai retirando o filho da escola é um primor: a câmera revela as outras crianças, assustadas com a possibilidade do mesmo ato acontecer com elas. O filme se permite a ter cenas bem humoradas, como a das crianças fazendo sexo com as galinhas e cabras e os adultos se contagiando com essa extroversão sexual dos pequenos. A atuação do ator que interpreta o pai, Omero Antonutti, é fabulosa. Apesar de conter os excessos vilanescos de um homem bruto e ignorante, o filme lhe reserva alguns momentos de redenção, como a que o filho pega a mala debaixo d acama sob o seu olhar severo. são filmes como esse que me fazem amar o cinema de forma apaixonada, pela sua extrema relevância artística. A curiosidade é que o próprio Gavino Leddo abre e fecha o filme, narrando-o para o espectador em voz off. A cena dele entregando ao ator que interpreta o pai, um galho para ameaçar a criança que o interpreta pequeno, e no final, quando revelamos que é tudo uma filmagem, é uma visão muito interessante da metalinguagem e dos recursos de explorar as diversas formas de se narrar uma história.

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