domingo, 17 de maio de 2020

Memórias do cárcere

"Memórias do cárcere", de Nelson Pereira dos Santos. "Memórias do cárcere", de Nelson Pereira dos Santos (!984) Listado entre os 100 melhores filmes do cinema brasileiro pela Abraccine, “Memórias do cárcere” concorreu no Festival de Cannes em 1984 na Mostra Quinzena dos realizadores, de onde saiu com o prêmio Fipresci da crítica. O filme é uma adaptação do livro de memórias de Gracilano Ramos, escrito quando ele esteve preso pelo período de 11 meses em quartéis de Alagoas, Rio de Janeiro, até chegar em definitivo na Colônia de Ilha Grande. Com 185 minutos de duração, o filme é uma brilhante realização onde todos os quesitos técnicos estão primorosos: a direção de Nelson Pereira, que mostra ser um realizador eclético e eficiente em vários gêneros. O longa anterior, por exemplo, era uma biografia dos cantores sertanejos Milionário e Zé Rico, ‘ A estrada da vida”. Nelson já havia adaptado uma obra de Graciliano Ramos para o cinema, “Vidas secas”, em 1963. A fotografia de José Medeiros e Antonio Luis, dois mestres, acentuam o drama psicológico e claustrofóbico dos personagens. A direção de arte eficiente e detalhista de Irenio Maia e Emily Pirmez e o figurino de Ligia Medeiros reproduzem com categoria a época retratada, entre os anos de 1935 a 1937. Mas o destaque maior dessa produção ambiciosa e o suntuoso e impressionante elenco: Carlos Vereza está absurdamente genial em seu minimalismo naturalista, trazendo um Graciliano Ramos apaixonante; Glória Pires, tão talentosa também em um registro intimista; entre os presos, um elenco estelar com o melhor dos talentos: Nildo Parente, José Dumont, Tonico Pereira, Wilson Grey, Jofre Soares, Jurandir Noronha e mais um time de atores desconhecidos mas igualmente talentosos. A delícia é reconhecer rostos jovens de Marcos Palmeira, Cassia Kis, Clarice Abujamra, Stela Freitas em início de carreira. A destacar também uma maravilhosa cena de Nelson Dantas, onde ele diz uma frase brilhante: “Malditos seja quem manda presos que sabem escrever aqui pra colônia”. Atores queridos fazem participações também: Jayme del Cueto, Tião D’ávila, além do cineasta Fabio Barreto, que aqui interpreta um preso militar, e Ney Santanna, filho de Nelson. O filme coméca em 1935, em Maceió. Gracialiano Ramos trabalha como diretor da Imprensa Oficial, professor e diretor da Instrução Pública de Alagoas. Com o fracasso da Intentona comunista de 1935, que foi uma tentativa de de golpe contra o governo de Getúlio Vargas por militares, em nome da Aliança Nacional Libertadora e com o apoio do Partido Comunista, inicia-se uma verdadeira caça às bruxas no País. Graciliano tem sua prisão pedida, sem mesmo saber o motivo. Nos quartéis, Graciliano se envolve com presos políticos, comunistas, anarquistas. Ao ser enviado para a Colônia, se mistura a ladrões. O filme é repleto de cenas antológicas, mas três se destacam: a primeira visita de sua esposa Heloísa (Gloria Pires) na prisão, uma linda cena intimista e bastante apaixonante; a cena onde os presos se rebelam contra a comida e jogam os pratos no chão, e a cena quando Graciliano tem seus textos distribuídos entre os presos, para não serem pegos pelos soldados. Um filme obrigatório para estudantes de cinema, cinéfilos e historiadores.

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