domingo, 17 de maio de 2020

SuperOutro

“SuperOutro”, de Edgar Navarro (1989) Listado entre os 100 melhores filmes brasileiros pela Abraccine, “SuperOutro” é dirigido pelo cineasta baiano Edgar Navarro, um dos realizadores mais radicais a surgir no Nordeste, muito antes de enfant terribles como o pernambucano Claudio Assis. O cinema de contestação social e político de Navarro não deixa pedra sobre pedra: sai atirando para todos os lados da sociedade, como a igreja católica, a cultura pop, a classe média, o turismo que traz turistas ricos que ignoram a pobreza da população. Edgar interpreta o protagonista, um morador de rua que questiona a luta de classes: logo no início, ele conclama a sociedade gritando ”Acorda, humanidade”, como se fosse um grito de guerra para dar início à uma revolução social. Ele pega uma lata de lixo e joga contra porta de vidro de um prédio de ricos. A polícia chega, o espanca e começa um discurso homofóbico. Após passar um tempo no manicômio, o homem é solto. Ele vau para o lixão e ali encontra uma revista pornográfica. Teste seduzir uma moradora de rua, sedento de tesão. O homem caga na rua, em detalhe explícito das fezes saindo de seu ânus ( já mostrando antes em seu curta “O rei do cagaço”, de 1977. Em frente à uma loja de eletrodomésticos, as tvs estão ligadas no programa “Roletrando”, de Silvio Santos: é a deixa para o homem se masturbar até gozar, em detalhes também explícitos. Por último, o homem para em frente a um cinema chamado Glauber Rocha, onde está sendo exibido ‘Superman”, de Christopher Reevs. Começa a tocar a famosa trilha de John Willians, e de repente, o homem se transforma em um super-herói, o SuperOutro, cujo desejo é voar por sobre a cidade de Salvador. O filme tem todos os elementos que o aproximam do cinema marginal, mesmo sendo filmado em 1989: anarquia narrativa, onde forma e conteúdo abstraem totalmente o conceito de lógica. Edgar é visceral e quer chocar a sociedade conservadora cagando e se masturbando em cenas explícitas. Sue cinema é sujo, provocativo, barato, feito com os recursos técnicos que tem com seu parco orçamento. Definitivamente não é um filme para qualquer um. Em determinado momento, no mesmo cinema, ele homenageia o clássico de Leon Hirzman, ‘Eles não usam black tie”. Um título metafórico para o seu mendigo que se veste apenas de trapos. Navarro, além da trilha de John Willians, que certamente foi usado sem autorização, também usa a trilha de Nino Rota concebida para um filme de Fellini, Amarcord”, futuramente homenageado pelo próprio Navarro, em seu filme autobiográfico “Eu me lembro”, de 2005.

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