quinta-feira, 28 de maio de 2020

Meu nome é Tonho

“Meu nome é Tonho”, de Ozualdo Candeias (1969) Listado entre os 100 melhores filmes brasileiros pela Abraccine, “Meu nome é Tonho” é um bizarro e sensacional faroeste dirigido pelo cineasta do clássico “A margem”, realizado 2 anos antes e o filme que deflagrou o movimento do cinema marginal no Brasil. Pesquisei sobre o filme, que eu jamais tinha ouvido falar, e uma história de bastidores que eu li é absolutamente genial e merecia um filme por si só: Ozualdo Candeias trabalhou com José Mojica Marins como assistente de direção, produtor e co-diretor em várias produções. Mojica tinha uma escola de interpretação e constantemente convocava os alunos para os seus filmes. Ozualdo resolveu também chamar os alunos para estarem no elenco do seu filme. Mas Ozualdo, sabendo que os alunos eram amadores e muito crus, estabeleceu uma das diretrizes mais estranhas da história do cinema: praticamente sem diálogos, todos do elenco, principalmente os vilões, ao invés de falarem, deveriam gargalhar e rir. O mais louco é que eles riem em cenas onde inclusive, estão sendo mortos. Uma cena que também merece entrar para a história é quando Tonho ( Jorge Karan), o herói d filme, cruza na estrada com um peão e absolutamente do nada, mas do nada mesmo, o cavalo onde Tonho está e a égua onde o peão está resolvem transar. E Tonho e o peão começam a gargalhar! É um momento tão esdrúxulo, que chega a ser poético e comovente pela pureza e ingenuidade dos envolvidos. O filme foi rodado na mesma cidade do clássico “O cangaceiro”, de Lima Barreto: Vargem Grande do Sul, interior do estado de São Paulo. A história é comum aos faroestes da época, que têm como tema a vingança. Ozualdo pega um pouco da trama de “Rastros de ódio” e mistura com filmes de Sergio Leone. Tonho quando criança foi sequestrado pelos ciganos e conviveu com eles. Já adulto, resolve sair da comunidade e seguir o mundo. No caminho, ao chegar em um bordel, ele conhece uma bela jovem (Bibi Vogel) e descobre que ela é sua irmã. Sem contar para ela, ela narra que toda a família foi assassinada pelo bando de Manelão (Nivakdo Lima, sensacional). Tonho resolve se vingar então do bando, que massacrou várias famílias para ficar com as posses. Deliciosamente divertido pela pouca estrutura mas mesmo assim convincente, “Meu nome é Tonho” é uma quase paródia do universo dos western spaghetti, uma brincadeira que já começa no titulo comum aos filmes do gênero. Hoje em dia, o filme poderia ser visto por parte do público como sendo um exemplar de em cinema trash, tal a canastrice do elenco. Mas a delícia do trash, quando bem-feito, é se divertir com esse amor à arte, ao cinema, que mesmo em quesitos técnicos falhos, tem o seu valor histórico e cultural. Uma verdadeira pérola do cinema brasileiro.

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