sexta-feira, 15 de maio de 2020

Máquina de sonhos

“Máquina de sonhos”, de Nycolas Albuquerque (2019) Ótimo documentário que discute o processo da coletividade de se produzir audiovisual, mais especificamente, o Cinema. Primeiro filme produzido no Amapá, o documentário “Máquina de sonhos” foi produzido dentro de uma disciplina da Universidade de Artes visuais o Amapá, mais especificamente, a cadeira de Cinema, ministrada pelo Professor Nycolas Albuquerque. Selecionado para diversos Festivais, incluindo o de Brasília, o filme foi realizado com recursos praticamente nulos que a própria Universidade disponibilizou: uma sala, um panelão de luz e uma câmera e tripé. A proposta do professor realizada durante o período eta que os alunos criassem com ele um projeto intitulado “Máquina de sonhos”, onde voluntários estariam presentes no dia para serem entrevistados pelos alunos. Em processo democrático, o professor fez votação com os alunos sobre todos os processos do filme: direção, roteiro, direção de arte, conceito. É aí que o filme começa, apresentando o dia de gravação do projeto, e o mais instigante, como que os alunos reagiram ao verem que todo o processo discutido em sala de aula foi alterado. O filme começa com imagens do Amapá, gravados de dentro do carro do professor, em direção à Universidade. A cidade é apresentada para um público que desconhece a região. Logo depois, o professor chega na sala de aula e junto dos alunos, montam o cenário e os equipamentos. Para cada aluno, foi pedido levar no dia fotos e vídeos pessoais. Toda a realização do filme é bastante simples e pobre em recursos técnicos. Segundo o professor, foi o filme possível. O cenário consiste em um pano branco representando a tela do cinema, onde são projetados as fotos e vídeos que os alunos trouxeram. A poltrona onde os entrevistados sentarão é coberto por um pano branco. A iluminação é ruim, e o som, inaudível ( o filme é visto com legendas). A maior surpresa dos alunos é descobrirem que eles próprios serão os entrevistados. O professor alega que os voluntários faltaram, mas mais tarde saberemos que desde o início, a proposta do professor, não comunicada aos alunos, é de que eles sempre seriam o alvo do projeto e portanto, os entrevistados. Buscando referência no cinema de Eduardo Coutinho, o professor Nycolas Albuquerque procura extrair dos seus alunos respostas acerca de questões políticas, sobre a arte de detalhes da vida pessoal que os deixam emocionados. Entre os depoimentos, alguns alunos se sobressaem mais em discursos mais articulados e outros mais singelos. A turma é variada em idade. Tem alunos bem jovens e uma senhora da terceira idade. Um aluno diz que em três anos de curso, é a primeira vez que ela presencia um trabalho feito no coletivo. Outros acusam os colegas de falta de participação, desmotivando o próprio curso e as tarefas apresentadas. Outros falam sobre o que achavam que o filme seria, quando se falou no conceito de “Sonho”: que haveria efeitos, fumaça, um cenário mais lúdico, mas encontraram um ambiente minimalista e precário. A melhor parte do filme é quando o professor questiona os alunos sobre o processo d realização do projeto: durante o curso os alunos eram instigados a participar de um processo democrático: todos votarem no melhor roteiro, cenário, personagens, etc. Uma aluna questiona que da turma com 30 alunos, apenas 3 ou 4 levantavam a mão, abrindo o discurso para a metáfora da democracia no País, com seus votos nulos e uma população apática. Mais tarde uma aluna levanta a pergunta mais provocativa do filme: ela pergunta se pode fazer uma pergunta sincera ao professor, se ela não levaria nota zero caso ele não goste ou se sinta insultado. Ele diz que não: ela diz: “O trabalho é do professor, não deles. Os alunos montaram o cenário, a filmagem, mas no final, todo o processo de edição será do professor, apenas, sem a participação deles. Outra aluna fala do autoritarismo do Professor, que desde o início do processo impôs o projeto sem questionar os alunos sobre a opinião deles. Logo, o professor é colocado na poltrona e entrevistado pelos alunos, se ele se acha autoritário. A parte final, a menos interessante, é quando cada aluno relata o que seria um sonho para eles, culminando em depoimentos emocionantes e muitas lágrimas. Sendo o mais óbvio possível, o filme logo termina com imagens do Amapá debaixo de chuva. A provocação dos alunos me instigou bastante, afinal, o filme tem nos créditos apenas o nome do professor Nycolas Albuquerque como Diretor e roteirista. Não seria esse um filme coletivo?

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