quinta-feira, 7 de maio de 2020

Noite vazia

"Noite vazia", de Walter Hugo Khouri (1964) No mesmo ano que um dos marcos do cinema novo era lançado, "Deus e o Diabo na terra do sol", de Glauber Rocha, em 1964, o cineasta Walter Hugo Khpuri lançava o seu filme seminal, 'Noite vazia". Um grande sucesso comercial da Vera Cruz, e com um proposta narrativa absolutamente distante da turma do cinema novo e marginal, "Noite vazia" concorreu à Palma de Ouro de Cannes em 1965. Com uma fotografia magistral do húngaro Rudolf Icsey, que retrata a solidão de são Paulo em um preto e branco desenhado plano a plano com sombras quase expressionistas, o filme também tem um brilho da trilha sonora de Rogerio Duprat, que explora o drama melancólico e devastador das vidas entediadas dos seus quatro protagonistas. O filme é totalmente referenciado ao cinema existencialista de Michelangelo Antonioni, e ao cinema claustrofóbico e doloroso de Bergman. A câmera de Khouri invade corações e mentes de personagens sem perspectiva de um futuro, e que vivem o presente em olhares vazios e desesperançados. O mais divertido é ver como Khouri intensifica quase como em caricatura o tédio dos moradores de São Paulo: em uma cena em uma boite, todo mundo, incluindo figuração, interpreta tipos arrogantes, egocêntricos e individualistas, olhando sempre para um vazio e ignorando seus parceiros. 'É nossa noite morta de alma que Nelson (Gabriele Tinti, italiano, marido de Norma nemguell na época) e o playboy Luisinho (Mário Benvenutti, alter ego de vários filmes de Khouri) vão em busca de sexo e diversão. Ambos acabam esbarrando em Mara (norma Benguell) e Regina ( Odete Lara), prostitutas de luxo. Os quatro vão para um apartamento passar a noite regada à sexo e muita conversa sobre o nada, sobre um vazio que explora a grande tristeza interna de cada um. Luisinho e Regina têm semelhanças: são pragmáticos, objetivos e frios. Nelson e Mara se encontram em sua introspecção e melancolia. Todos os 4 estão ótimos em suas composições sofridas. A câmera e apaixonada por eles, que estão especialmente belos. Um filme que veio para mudar a história do cinema brasileiro da época, afeito a regionalismos e registro da pobreza do País. Khouri ousou em querer mostrar a vida fútil de ricos paulistas e de prostitutas, bonitos, de bem com a vida, mas sofrendo pela falta de motivação, que não são referentes à fome nem crise de identidade cultural.

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