terça-feira, 5 de maio de 2020

Bom dia

"Ohayô", de Yasujiro Ozu (1959) Um dos últimos filmes realizados pelo Mestre Yasujiro Ozu, falecido em 1963, 'Bom dia", de 1959, é uma obra-prima e uma das poucas comédias escritas por ele. O filme, que possui uma fotografia com cores tão belas, e os enquadramentos clássicos no olhar de quem está sentado no tatame, tem todos os elementos clássicos de sua narrativa: o plano e contra-plano com os personagens olhando para a câmera, os famosos planos "pillow talks", que são a natureza morta com encantamento e elementos sensoriais, e o roteiro que descreve o cotidiano, sem grandes transformações bruscas, tudo muito sutil. O filme se passa no pós-guerra, com o Japão em processo de reconstrução e modernização. É clara a mensagem de Ozu sobre a ocidentalização da cultura japonesa, através da introdução da cultura americana ( as aulas de inglês, os jogos de baseball). E mais: o consumismo desenfreado, tendo a televisão como símbolo máximo da conquista social. Em um vilarejo, os adultos passam os dias fazendo fofocas dos outros vizinhos. Em uma dessas famílias, 2 irmãos desejam assistir um campeonato de sumô pela televisão, mas eles não têm tv em casa, e acabam assistindo no vizinho, mentindo para os pais que foram para a aula de inglês. Quando os pais descobrem, proíbem os filhos de irem assistir tv no vizinho. Os dois irmãos resolvem então fazer greve de silêncio e não se comunicarem mais com os pais, nem com ninguém, enquanto não tiverem uma tv. Essa atitude transforma a vida de todos, inclusive os adultos da vizinhança. Divertido, repleto de gags e piadas sensacionais,, o filme tem um roteiro tão comovente e transformador: através do ato das crianças que resolvem ficar em silêncio, os adultos passam a se comunicar. Isso está patente nos personagens da tia dos meninos, apaixonada por um vizinho, mas que ambos têm vergonha de se comunicarem. A sequência final desse casal na estação de trem é de uma beleza sensibilidade extraordinária. Muito do sucesso do filme obviamente vem da graciosidade das crianças, principalmente o menorzinho, responsável pelos momentos mais fofos e engraçados do filme.

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