terça-feira, 12 de novembro de 2024
Larger Than Life: Reign of the Boybands
"Larger Than Life: Reign of the Boybands", de Tamra Davis (2024)
Documentário musical que explora as boybands, atualmente no topo dos Spotifies por conta do K-pop. Mas antes dessa explosão musical das bandas sul coreanas, o filme explora como surgiram os grupos comandados por rapazes bonitos, que cantam, dançam e provocam histeria em milhares de fãs no mundo inteiro. O filme traz "The Beatles" como um precursor da relação rapazes sedutores e fãs. Mercadologicamente e como marketing, as boybands precisam ter letras que falem sobre uma garota. Nenhum integrante pode assumir um namoro, pois as fãs os desejam e querem sonhar com essa possibilidade. Não podem ser vistos em público bebendo álcool ou usando drogas, e deve ter uma vida social regrada, sem escândalos. O filme passa nos anos 70 com The Jacksons, The Osmond brothers. Daí, influenciado por esses grupos da Motown dos anos 70, surgiram nos anos 80 o New edition, grupo vocal formado por jovens negros, que por sua vez, inpsirou a banda de rapazes brancos The new kids on the block, com o irmão de Mark Walbherg, Danny Walhberg. Nos anos 90, surgiram The backstreet boys e na esteira do seu mega sucesso, Nsync, o que provocou na indústria uma grande rivalidade entre as duas boybands. O filme apresenta o empresário musical de ambos, que os explorava com tours intermináveis e discos um atrás do outro. Financeiramente,o empresário ficava com quase todo o dinheiro, o que os deixou bastante irritados. Muitos saíram em carreira solo, como Justin Timberlake. Lance, do Nsync, dá um depoimento dizendo o quanto o restante da banda se sentiu traída com a saída de Justin. O grupo nunca mais se apresentou. Outros grupos também são apresnetados; Hansons, The Jonas brothers (ambas as bandas não se consideravam Boybands, termo que achavam pejorativo). Na Europa, são apresentados New direction, Take that, 98 degrees, Boyzone, Westlife. O filme fala do mega sucesso da carreira solo de Harry Styles e finaliza com as K-pop bands, como BTS e Seventeen.
A melhor passagem é quando apresenta a cantora Tiffany, grande sucesso teen dos anos 80, e a sua relação com o New kids on the block, que ainda no início da carreira, abriam os shows de Tiffany. Mas quando ela passou a namorar um dos cantores do grupo, Jonathan, as fãs se irritaram e começaram a vaiar a cantora nos shows, que foi obrigada a inverter e a abrir os shows do grupo.
Look back
"Rukku Bakku", de Kiyotaka Oshiyama (2024)
Adaptação do mangá de Tatsuki Fujimoto, "Look back" é um anime comovente e que deixará o público chocado em seu 2o ato, que traz uma virada dramatúrgica brutal. A história gira em torno da discussão sovre a arte, no caso o mangá, e a amizade. E como muitos filmes, apresenta um olhar alternativo, com a pergunta "E se...?", e assim, trazendo uma versão alternativa de uma vida que não poderá mais retornar por conta de escolhas feitas no passado.
A protagonista é Fujino, uma menina de 13 anos. Durante uma aula, onde o professor propõe um dever onde todos devem desenhar um mangá "one shot"
(o padrão de 4 tiras por página e história contada em um único capítulo). Fujino se destaca entre os alunos e todos a elogiam. Um dia, no entanto, chega uma tira de uma garota chamada Kyomoto, que por conta de sua agorafobia ( medo de sair de casa), faz os deveres em seu quarto. Fujino fica enciumada com os traços de Kyomoto, que são melhores que o seu. Obcecada em querer ser a melhor, Fujino decide melhorar os seus traços, passando anos se aprimorando. Um dia, no entanto, ela desiste e volta à sua vida de estudante normal, se dedicando mais aos estudos. Ao se graduar com 17 anos, o reitor pede um favor para Fujino: que leve o diploma na casa de Kyomoto. Fujino se recusa, mas diante da insistência do reitor, ela vai. Ao chegar na casa de Kyomoto, ela bate em seu quarto, mas não é atendida. Fujino desenha um one shot zoando de Kyomoto e o coloca debaixo da porta, o que estimula Kyomoto a sair de casa. As duas acabam se tornando amigas e Kyomoto se esforça em ser uma pessoa menos tímida e aos poucos, esboça sorrisos e alegria. Fujino sugere que elas desenhem juntos. A dupla faz sucesso, comd estaque para Fujino, e Kyomoto sobre sua sombra. Um dia, Kymoto diz à Fujino que deseja estudar na faculdade de arte e aprimorar os seus estudos, diferente de Fujino que tem um pensamento mais mercadológico e de sucesso sobre a arte. O tempo passa. Fujino agora é uma artista de grande sucesso e vende bem seus mangás. Até que ela assiste na tv uma notícia que irá mudar a sua vida para sempre.
Livremente inspirado em ataque criminoso que matou 33 desenhistas em Kioto em um estúdio de animação, "Look back" foi um mangá lançado em 2021. Trágico e malancólico, o filme fala sobre luto utilizando lindos diálogos e uma trilha sonora envolvente. As duas personagens são retratadas lindamente, e as cena sonde elas correm pelas ruas da cidade, em uma amizade pura, é antológica.
Alma da festa
"Life of the party", de Ben Falcone (2018)
Co escrito e co-produzido pela atriz Melissa McCarthy, a comédia dramática "A alma da festa" apresenta Deanna (McCarthy), uma mulher de meia idade, dona do lar, casada com Dan (Matt Walsh) e mãe da jovem Maddie (Molly Gordon) , que acabou de entrar na faculdade. Dan traz uma notícia devastadora para Maddie: ele quer o divórcio pois está de caso com a corretora Marcie, uma mulher arrogante e interesseira. Fora isso, ele quer vender o imóvele. tirar Deanna doo inventário, deixando-a sem nada. Desesperada, Deanna procura conselho de seus pais, Sandy(Jacki Weaver) e Mike (Stephen Root). Deanna decide voltar para a faculdade e completar o curso de arqueologia, para desespero de sua filha Maddie, que morre de vergonha de ter que compartilhar a rotina da faculdade com sua mãe.
Divertida dramédia capitaneada pela talentosa Melissa McCarthy, que está em terreno confortável, e um time de excelente atores que inclui, além dos citados, a genial Maya Rudolph, no papel de Chrtsine, a melhor amiga de Deanna e responsável por alguma das cenas mais hilárias do filme, como a do encontro de Deanna com Dan na sala com advogados. Uma pena que a dupla Jacki Weaver e Stephan Root apareçam pouco, pois também alegram toda as vezes em que aparecm. Vale ressaltar também as ótimas atrizes que interpretam as colegas de Maddie na faculdade, e a garota que divide o quarto com Deanna. O filme celebra a elevação da auto estima da mulher 40+, trazendo um romance entre Deanna e um estudante, sem problematizar o etarismo.
Eletrodoméstica
"Eletrodoméstica", de Kleber Mendonça Filho (2005)
Vencedor do prêmio de melhor curta no Cine PE em 2006, "Eletrodoméstica" é escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho. O filme é uma parábola sobre uma mulher, dona de casa (Magdale Alves), que cuida do lar enquanto seu marido, que nunca aparece, está ausente, trabalhando. A mulher cuida de seus dois filhos adolescentes, Nelsinho e Fernanda, que passam o dia vendo tv e jogando game. A mulher se utiliza de eletrodmésticos na sua rotina: microondas, a tv nova que chega, aparelho de som, fogão e principalmente a máquina de lavar, que ela utiliza como escape emoicional e sexual, em cena divertida e já vista em comédias, mas aqui ganha simbolismos. O filme é rodado no mesmo apartamento de "o som ao redor", lançado em 2012, e algumas cenas desse curta foram refilmados no longa de Kleber. O cinema de Kleber fala sobre o vazio, sobre o silêncio e sobre a falta de comunicação entre familiares.
MMXX
"MMXX", de Cristi Puiu (2023)
Drama romeno c-escrito e dirigido pelo cineasta Cristi Puiu, considerado um dos fundadores do movimento "novo cinema romeno", com seu drama premiado 'A morte do Sr Lazarescu". Com "MMXX"(2020, em vocabulário romano), Puiu faz uma crítica à burocracia que ele considera fascista sobre a forma como os governos impuseram regras rígidas à população em relação à covid e ao lockdown. Puiu foi um dos grandes detratores do uso da máscara e do confinamento e aqui, ele faz críticas ácidas `à forma como o governo de apropriou das regras "kafkanianas".
Concorrendo em San Sebastian, o filme é dividido em 4 segmentos, cada um com cerca de 40 minutos e estilisticamente, filmados de forma distintas.
1) Uma terapeuta, Oana, recebe uma nova paciente, Nadia. Ao longo da sessão, inverte-se a relação e Nadia provoca Oana. Ela revela que a sessão foi um presente de uma amiga.
2) Oana conversa com seu irmão Mihai sobre o marido dela, Septimiu, e a crise que estão vivendo no relacionamento. De repente, uma amiga de Oana,que acabou de dar à luz em um hospital, relata que está impedida de ver o filho por ela ter sido diagnosticada com covid
3) Septimiu, que é médico, conversa com um colega no hospital sobre uma amante e fala também sobre tere scutado uma conversa sobre a máfia local
4) Um investigador policial e seu assistente invadem um funeral que estava escondendo uma rede d etráfico humano, e interrogam uma prostituta que faz relatos bárbaros sobre como agiam. Com 2hrs 40 min de duração, é uma tarefa hercúlea acompanhar esse filme que é a nata do cinema romeno, com muitos planos estáticos e longos, contemplando um cinema naturalista e rígido formalmente. Assim assim, é de se elogiar o excelente trabalho de todo o elenco, atuando em cenas muitas vezes em planos sequências. É um filme cansativo e traz um olhar provocativo sobre a pandemia e as diversas formas de relacionamento, sejam conjugais, profissionais ou de exploração camufladas pelo lockdown que acabou se aproveitando da situação para fazer práticas criminosas.
Blaga's lessons
"Urotcite na Blaga", de Stephan Komandarev (2023)
Drama indicado ao Oscar de filme internacional 2025 pela Bulgária, "Blaga's lessons" venceu mais de 22 prêmios internacionais em importantes festivais. O filme traz a atriz Eli Skorcheva no papel principal, de Blaga Naumova, 70 anos. Me lembrei de filmes como "Noites de Cabíria", de Fellini, onde a protagonista, a professora aposentada Glaga, é enganada por um golpista e vai ao fundo do poço. Mas diferente de "Cabíria", em "Blaga's lessons" o diretor e co-roteirista Stephan Komandarev não faz concessões; o munndo é cruel e boa parte da sociedade é má, egoísta e interesseira. No caso de Blaga, ela é viúva de um policial, recém falecido. Católica fervorosa, Blaga decide comprar um jazigo para o falecido. Durante toda a sua vida, Blaga economizou dinheiro e o escondeu em casa. Para sobreviver, Blaga vive com o dinheiro de aulas para imigrantes que querem aprender a língua búlgara. Ao chegar em casa, Blaga atende um telefone. É um golpista, que através de chantagem, a faz dar todas as suas economias. Desesparada, ela procura a polícia, que nada pode fazer. Sem ter como se sustentar e também pagar o jazigo, Blaga decide procurar qualquer emprego, mas a sua idade, de 70 anos, a impede de ser mão de obra em um mundo etarista. Resta à ela ser mula de carregamento de drogas, dirigindo um carro até os fornecedores na estrada.
Confesso que foi difícil assistir ao filme. ë angustiante e deseperador acompanhar a descida ao inferno de Blaga, que assim como outros idosos, são presas fáceis para golpistas que extorquem dinheiro. Mas o filme vai além: os golpes contra idosos incluem contratá-los para serem mulas de carregamento de drogas. A atriz Eli Skorcheva interpreta Braga de forma bastnate inteligente: de personalidade dúbia, ela parece ser carrasca e exigente com seus alunos, e esse dado faz com que o espectador não fique cem por cento piedoso com o seu dilema. Ela mereceu? ela foi ingênua demais? Quem faria isso nos dias de hoje? O desfecho é de doer a alma pela violência que ouvimos, e não vemos.
segunda-feira, 11 de novembro de 2024
Ainda estou aqui
"Ainda estou aqui", de Walter Salles (2024)
Adaptação do livro escrito por Marcelo Rubens Paiva e lançado em 2015, "Ainda estou aqui" concorreu no Festival de Veneza 2024 e de lá saiu com o prêmio de melhor roteiro, concedido a Heitor Lorega e Murilo Hauser. O filme venceu também o prêmio de melhor filme brasileiro do público na Mostra de SP. Ambientado em 3 épocas, 1970, 1996 e 2014, o filme explora a vida da família do ex-deputado pelo Partido trabalista brasileiro PTB e engenheiro civil Rubens Paiva. Nascido em Santos, ele foi cassado e se exilou, indo morar no Rio de Janeiro, na Av Delfim Moreira, Leblon, em uma casa de classe média alta. Sua esposa, Eunice (Fernanda Torres) e os 5 filhos Marcelo Rubens Paiva, Vera, Eliana, Ana Lúcia e Maria Beatriz vievem uma aparente felicidade, rodeados de amigos, até que um dia, a polícia invade a casa de Rubens e o leva para um interrogatório. Dias depois, Eunice e Eliane também são levadas para depôr: Eliane é liberada no dia seguinte, e Eunice fica 12 dias presa. A partir daí, Eunice inicia uma árdua luta para decsobrir o paradeiro do marido. Em 1996, finalmente o certidão d eóbito é reconhecido, e em 2014, Eunice (Fernanda Montenegro), já com Alzheimer, testemunha a criação da Comissão da verdade, instituída para investigar as graves violações de direitos humanos ocorridos durante a ditadura militar.
O filme é certamente o filme brasileiro mais alardeado no Brasil e no mundo, alcançando grande sucesso de crítica e público. Toda a força do filme está em cima de Fernanda Torres, que joga em cena com um time de excelentes atores, culminando com Fernanda Montenegro a interpretando em 2014. A equipe técnica é primorosa, com destaque para Adrian Teijido como o fotógrafo que mescla imagens em super 8 e uma imagem vintage alternando claro e escuro em momentos de alegria solar e escuridão dos porões e da casa melancólica.
domingo, 10 de novembro de 2024
Aniversário sangrento
'Bloody birthday", de Ed Hunt (1980)
Esse slasher de 1980 é um dos maiores exemplos do anacronismo da liberdade criativa e sem censura dos anos 80 com o politicamente correto dos dias de hoje. O filme é protagonizado por 3 crianças de 10 anos de idade, tão cruéis quanto Jason ou Michel Meyers: matam pelo simples prazer de matar, sem remorsos nem culpa, e não importa se as vítimas forem inclusive parentes. O filme traz inúmeras cenas das crianças assistindo casais fazendo sexo e peeping tom com uma mulher totalmente nua, pagando para saciar desejos eróticos.
Na pequena cidade de Meadowvale, 3 crianças nasceram no mesmo dia e hora de um eclipse solar. 10 anos depois, no dia de seus aniversários, Debbie (Elizabeth Hoy), Curtis (Billy Jane) e Steven (Andrew Freeman) passam a matar as pessoas aleatoriamente, comandados por Debbie. O sherife da cidade, pai de Debbie, tenta descobrir quem é o assassino. Um vizinho, o colega de turma das 3 crianças, Timmy (K. C. Martel) testemunha um dos assassinatos, mas ao contar para a sua irmã mais velha, Joyce (Lori Lethin), ela não acredita. DEbbie descobre que Timmy os viu e decide matá-lo, assim como a Joyce.
O filme choca pela crueza das crianças, e certamente hoje em dia esse filme não poderia ter sido realizado. A violência é branda, e a cena mais gore é a de uma fechada no olho de uma das vítimas. As outras mortes não vemos a ação no momento do crime, só a pessoa já morta. Mas o que interessa aqui, é o estudo sobre a natureza do mal. Não existe concessões do roteiro nem da direção, e muito menos, um arrependimento moral. Merece o seu lugar de cult e mesmo não sendo um primor, por conta do amadorismo de parte do elenco e dos efeitos toscos, é uma pequena pérola do cinema B.
Inside the yellow cocoon shell
"Bên trong vo kén vàng", de Thien An Pham (2024)
Vencedor do prêmio de melhor filme na mostra paralela Camera D'or do Festival de Cannes 2024, "inside the yellow cocoon shell" está entre os 5 finalistas indicados o prêmio de melhor filme internacional do Gothan Awards. É impossível não associar essa impressionante estréia na direção do vietnamita Thien An Pham ao cinema do tailandês Apichatpong Weerasethakul: um cinema contemplativo, de planos longos, flertando com o sobrenatural, falando de religiosidade, fé, morte, e a relação entre o homem e a natureza. A natureza no caso, visto como um ambiente de renovação espiritual, de busca da alma, um lugar de silêncio para reflexões sobre a trajetória da vida de um personagem. Foi assim em "Tropical malaie", o filme que lançou Apitchapong. Outro fato que os une é que o crédito do filme surge já após meia hora de filme, deixando clara a divisão temática do filme em 2 atos.
A 1a parte se passa na cidade grande, Saigon. Ali, através de um impressionante plano-sequência com muita movimentação de atores e figurantes em cena rigidamente marcada, as pessoas estão assistindo uma partida de futebol , bebendo e conversando. Um acidente de moto tira a atenção de todos: o casal morre, e o filho de 5 anos sobrevive. Somos apresentados a Thien (Le Phong Vu), um jovem cinegrafista que grava festas de casamento. A mulher que morreu, Teresa, é sua cunhada, e ele agora precisa cuidar de seu sobrinho, Dao (Nguyen Thinh). Ele tem a missão de levar o garoto aos parentes na cidade do interior, e acompanhar os serviços funerários. Thien decide revisitar o seu passado: quer reencontrar seu irmão, pai da criança, que desapareceu, e ir atrás do amor de sua vida, que se tornou uma freira.
O filme tem cenas memoráveis, mais por conta dos movimentos e trabalho de câmera, do que pela cena em si. Tem uma enorme cena, de mais de 20 minutos, onde a câmera acompanha Thien de moto por um longo trajeito. Ele entra em uma casa e a camera entra pela janela e faz um trajeto dentro da casa, revelando detalhes. É um trabalho incrível de técnica. Existem outros planos igualmente impressionantes. É um filme para cinéfilos, e digno representante do slow cinema. Seu desfecho é em aberto e deixa o espectador imerso em pensamentos sobre jornada da alma e reconexão espiritual.
Herege
"Heretic", de Scott Beck e Bryan Woods (2024)
Terror psicológico escrito pelos mesmos roteiristas da franquia "Um lugar silencioso", Scott Beck e Bryan Woods, qu etambém dirigem o filme. "Herege" é uma co-produção Estados Unidos e Canadá e tem sido celebrado como uma das melhores performances de Hugh Grant. ele é Reeds, um homem religioso que mora com sua esposa em uma casa isolada. Um dia, duas jovens mórmons, Irmã Barnes (Sophie Thatcher) e Irmã Paxton (Chloe East), batem à sua porta. Reeds havia se cadastrado na igreja das missionárias solicitando uma visita para obter maiores informações sobre a igreja onde elas trabalham. Ele as convida para entrar, mas elas recusam pois não podem entrar em casa de homens solitários. Ele diz que a esposa está preparando uma torta, e com a chuva que começa a cair, elas acabam aceitando. Durante um bom tempo, Reeds discute com as missionárias sobre as diversas religiões, e ele tenta convencê-las de que a religião que ele prega é a verdadeira. Logo as meninas decsobrem que estão presas na casa e não podem sair.
Boa parte da crítica elogiou o filme como um dos melhores terror do ano. Confesso que fiquei um pouco frustrado, queria ter visto um filme de terror assustador. Durante 2/3, ele é bastante verborrágico e isso pode tornar a experiência dos fãs de terror em busca de gore e tensão bastante cansativa. Mas para quem busca um terror inteligente, provocativo, com diálogos que colocam em xeque o papel da religião e da fé, vai sair do cinema satisfeito. O que sustenta o filme certamente é o excelente trabalho dos 3 atores. Hugh Grant está maquiavélico, alternando muitas camadas para o Sr Reed: carismático, divertido, anárquico, sedutor, ardiloso, ou seja, um serial killer inesperadamente assustador. Topher Grace faz uma participação como um missionário, mas acaba sendo um personagem desnecessário para a trama. A direção de arte é um grande acerto, o filme é quase todo ambientado na casa labiríntica do Ser Reeds, um ambiente claustrofóbico insirado em "O iluminado", com um easter egg que faz um match cut da tentativa de fuga com uma maquete do local, semelhante à cena do filme de Stephen King, com uma câmera zenital vista de um plano geral.
sábado, 9 de novembro de 2024
A música de John Willians
Music by John Willians", de Laurent Bouzereau (2024)
"O maior pop star de todos os tempos". Esse depoimento é do cantor do Coldplay Chris Martin, ao comentar sobre o compositor John Willins. Indicado 54 vezes ao Oscar e vencedor de 5 pelos filmes "Um violinista no telhado", "Tubarão", "Star wars", 'Et, o extraterrestre" e "A lista de Shindler", Willians é visto como marca registrada da filmografia de Steven Spilberg e George Lucas, cujos filmes são inimagináveis sem as famosas e icônicas trilhas do mestre da música. Entre outras tantas trilhas famosas, tem "Superman", "Os caçadores da arca perdida", "Esqueceram de mim", "Jurassic Park", "O resgate do soldado Ryan", a série "Perdidos no espaço", além de temas como a da abertura das Olimpíadas de Los Angeles e da Nbc. Não podemos esquecer também a trilha de "Harry Potter" , que consolidou toda a identificação da narrativa do famoso bruxinho com seu gigantesco fã clube.
Os depoimentos no filme são de 1a linha: Steven Spielberg e Ron Howard, produtores do filme; os compositores Thomas Newman e Alan Silvestrei; os músicos Brandford Marsallis e Yo Yo Ma; os cineastas J. J Abrahams, Lawrence Kasdan, James Mangoldl, Frank Marshall, Chris Columbus; a produtora Kathleen Kennedy e o ator Ke Hui Quan. Chris Martin diz que seu primeiro filmes visto no cinema foi 'Et, o extraterrestre", e que usa a música tema do filme todas as vezes que sua banda sobre aos palcos durante os shows da turnês, pois quer ter a sensaçao de estarem voando.
Spielberg dá depoimentos emocionantes, como quando Willians, após assistir a um corte de "A lista de Schindler" ainda sem trilha, comentou que Spielberg deveria convidar um compositor melhor. "Eu sei, mas eles estão todos mortos". O filme fala sobre como Spielberg decidiu convidar Willians para seu 1o filme, "Louca espacada", em 1974, e desde então, nunca largou não dele. Muitas curiosidades sobre o processo de Willians para pensar nas trilhas; a sua demissão da orquestra de Boston Pops após comentários de músicos da orquestra insatisfeitos com o repertório, alegando que música de trilhas eram arte menor; como foi sondado por George Lucas para fazer a trilha de 'Star wars" e a força que Spielberg deu para ele fazer a famosa trilha. O filme irá comover e fazer o público soltar lágrimas, pois é impossível não se emocionar ouvindo músicas que acompanharam a vida de todo cinéfilo.
Picture day
"Picture day", de Kelly Pike (2022)
Premiado em Palm Spring, Varsóvia e Dallas, "Perfect day" é um belo curta Lgbtqiap+ americano elegível para o Oscar da categoria em 2025. O filme fala sobre aamadurecimento, questões de gênero e relacionamento geracional. Em uma base militar, moram a adolescente de 12 anos Casey ( Oona Mei Yaffe), sua mãe, Ayn (Michelle Krusiec), seu pai militar Bill (Michael Perl) e seu irmão mais velho. Casey tem problemas de relacionamento com todos, especialmente sua mãe, incomodada com a aparência da filha, que insiste em ter uma postura masculinizada. Ao chegar na nova escola, Casey sofre bullying dos colegas da turma, que a ridicularizam perguntando à ela se ela é menina ou menino. A escola quer marcar o dia da foto e a mãe de Casey quer que ela se vista para a foto de forma feminina, mas Casey não aceita, e acaba gerando um conflito familiar com todos os integrantes.
Um filme econômico nas falas, mas repleto de sensibilidade, ao trazer o portagonismo para uma menina que está em dúvidas sobre como lidar com a sua sexualidade e aparência diante da família e da sociedade. Excelente trabalho de todo o elenco, em um roteiro escrito pela diretora, que soube lidar com respeito o olhar de uma adolescente sem torná-la estereotipada.
sexta-feira, 8 de novembro de 2024
Medo
"Angst", de Gerald Kargl (1983)
Baseado na história do serial killer Werner Kniesek (matou 3 pessoas por puro prazer em 1980), esse obscuro filme austríaco de 1983 foi o único filme dirigido por Gerald Kargl. Narra a história de um psicopata esquizofrênico, que é liberado da prisão, e imediatamente, sente necessidade de matar. O filme é todo narrado em off, e ouvimos a mente do assassino, o que ele pensa e porque age assim. Ele invade uma casa e mantém como reféns uma senhora, sua filha e o filho com demência. O psicopata os tortura e ao mesmo tempo, vai tentando entender porquê se excita vendo o sofrimento dos outros.
Um impressionante filme, com uso magistral da câmera, a cargo do premiado fotógrafo polonês Zbigniew Rybczyński. Os movimentos são estranhíssimos e ao mesmo tempo inovadores. A direção segura de Gerald Kargl faz o espectador se sentir angustiado. O ator alemão Erwin leder está brilhante, e realmente assustador no seu difícil papel. O filme procura amenizar algumas passagens aterradoras com humor, como por ex, nas aparições do cachorro. Mas como um todo, é um filme que causa desconforto, mais por sua crueza e realismo, que mais parece se utilizar de uma linguagem documental, devido aos seus longos planos e uso de câmera na mão. Um clássico, não recomendado para pessoas sensíveis.
Boa menina
"Good one", de India Donaldson (2024)
Concorrendo no Festival de Cannes 2024 na Mostra Un certain regard, "Boa menina" também participou de outros importantes fetsivais, como Sundance. O filme foi enaltecido como um dos melhores "coming of age" de 2024, trazendo a protagonista Sam (Lily Collias), adolescente lésbica, filha do empreiteiro Chris (James le Gros), um homem divorciado. Os dois decidem passar um final de semana em uma trilha nas montanhas, juntos do melhor amigo de Chris, o ator Matt (Danny McCarthy) e seu filho adolescente. Quando o filho de Matt desiste da viagem, Matt decide acompanhar Chris e Sam no acampamento. Sam passa a testemunhar a relação de dois homens adultos que cresceram mediante uma educação de masculinidade tóxica, e Matt é quem mais sente os efeitos da reeducação que deve passar para poder estar antenado diante das novas pautas que a geração de Sam batalha e luta a favor.
Com 3 atores em cena, o que poderia ser uma comédia dramática esconde na verdade um drama intimista, em tons melancólicos, sobre uma geração de homens que perdeu o bonde da contemporaneidade e vive sobre frustrações e falta de entrosamento com as gerações mais novas. Muita gente chamaria o filme de "agenda woke", mas certamente é um filme que representa uma época.
Too cozy
"Too cozy", de George Halal (2023)
Curta LGBTQIAP+ americano, "Too cozy" foi rodado com orçamento zero e com 3 atores dentro de um apartamento. O filme traz 3 homens: Ricardo, Enrique e Joseph que juntos, dividem um apartamento no airbnb. O apartamento é apertado para os três. Ricardo é amigo de Enrique e Joseph. Enrique é gay e quer dar em cima de Joseph, mas Ricardo diz que Joseph é hetero e que não vai rolar nada. Enquanto preparam um jantar, Enrique , que está com herpes na boca, prova a comida com uma colher e com ela, mexe na comida. Ricardo dá uma bronca nele, dizendo que não pode expor ele e Joseph à herpes de Enrique ao colocar a colher na comida. Os três começam a discutir pequenos segredos que podem interferir no bom relacionamento no apartamento.
Uma comédia de costumes, "Too cozy" poderia ter sido um filme bem divertido se tivesse um diretor com mais experiência e três atores talentosos. Mas os atores são fraquíssimos, e a direção, além da edição sem ritmo e uma fotografia sem brilho acabam prejudicando o resultado.
Time still turns the pages
"Nin siu yat gei", de Yick-Him Cheuk (2023)
Premiado drama chinês ambientado em Hong Kong, "Time still turns the pages" é um retrato cruel sobre o alto índice de suicídio entre jovens chineses, na maioria dos casos provocado pela pressão dos pais para que seus filhos sejam exemplo de estudante modelo, tirando notas altas e ser motivo de orgulho perante amigos e familiares.
Cheng é um professor de ensino médio que descobre um bilhete de suicídio de algum aluno de sua turma que ele não consegue identificar. O bilhete acaba se tornando um gatilho para o próprio Cheng: ele relembra a sua infância, quando ele morava com seus pais e seu irmão Eli, um ano mais velho. Cheng era o modelo para os pais: estudioso e excelente nas aulas de piano. Já Eli não tirava boas notas e nem era perfeito no paino, por mais que ele estudasse. Seu pai só elogiava Cheng e Eli apanhava o tempo todo.
Repleto de excelentes atuações, o filme é dirigido com seriedade e sensibilidade pelo diretor Yick-Him Cheuk, que aposta no melodrama para intensificar a tragédia do suicídio juvenil e a culpa dos pais exigentes. Boa montagem, trazendo memórias e sentimentos em narrativa não linear.
quarta-feira, 6 de novembro de 2024
Calígula- The ultimate cut
"Calígula- The ultimate cut", de Tinto Brass (2023)
Relançado no Festival de Cannes 2023 em exibição especial, "Calígula- The ultimate cut", é uma reedição do polêmico e famoso filme lançado em 1979 e conhecido por ter sido reeditado com cenas de sexo explícito pelo produtor Bob Guccione, dono da famosa revista pornô "Penthouse", com o conhecimento de seu elenco. O produtor e historiador Thomas Negovan estudou todas as 96 horas de filmagem dirigidas por Tinto Brass e com roteiro original do romancista Gore Vidal ( ambos pediram para retirar seus nomes dos créditos na versão original) e o aproximou mais da visão de Gore Vidal, que mostrada Calígula como um Imperador que ficou seduzido pelo Poder e foi enlouquecendo. Essa nova versão seria relançada em 2019, mas com o advento da Covid, foi adiada para 2023.
O filme original tinha 2 hrs 36, e agora tem 3 hrs. Thomas Negovan reeditou absolutamente todo o filme: trouxe muitas cenas inéditas e mesmo as que já existiam, ele remontou e colocou novos planos com ângulos diferentes e com mais tempo de cena. Todas as cenas de sexo explícito foram retiradas, mas o filme continua ainda com conteúdo erótico, com muita nudez e sexo implícito. Para quem já assistiu, é um filme totalmente novo e com um contexto mais focado no drama de Calígula (Malcom Macdowell), sua relação incestuosa com a sua irmã Drusilla (Therese Ann Savoy), o casamento com a ambiciosa Caesarina (Helen Mirren) e as muitas intrigas e traições dos senadores, generais e assessores. No elenco luxuoso, ainda tem Peter O'Toole e Sir John Gielgud. Os cenários são babilônicos, construídos em estúdio em Roma e Lazio. O filme é repleto de valor de produção, com centenas de figurantes. Mas se for comparar as duas versões, eu fico com a original: ousada, lasciva, demonstrando toda a saga de loucuras, luxúria, devassidão e prazer do governo de Calígula, com Malcom Macdoweel bizarramente genial. Bob Guccione certamente lançou um filme que, para o bem ou para o mal, entrou para a história, quando lançado em 1979.
What my love is for
"What my love is for', de Philip Embury e Sebastian Rea (2016)
Drama romântico LGBTQIAP+ realizado de forma totamente indie, baixíssimo orçamento, foi escrito, dirigido. e protagonizado por Philip Embury. Ambientado em East Hampton, Long Island, Nova York, o filme apresenta o jovem gay Philip, aspirante a escritor. Ele mora com seu irmão mais velho, Doug (David Maloney), que sofre de ansiedade e transtornos mentais, na casa da mãe de ambos. Katie (Bianca Rotigliano) é a melhor amiga e confidente de Philip. Philip mantém uma relação conflituosa com sua mãe, que não aceita o filho ter uma postura rebelde e ser gay. Quando a avó de Philip morre, ela coloca a sua casa em East Hampton em testamento para Philip, que a herda. Philip decide ir morar lá junto de Katie. Doug vai junto para ficar umas semanas. A casa está abandonada, mas os trÊs a colocam de pé. No entanto, Philip recebe uma carta avisando que a casa está cheia de dívidas que se não forem pagas, deverá ser entregue para hipoteca. Ao entrarem como penetras em uma festa, Philip conhece o jovem artista Michael, que é bancado por um homem mais velho. Philip se apaixona por ele, ao memso tempo que precisa encontrar uma solução para pagar as dividas. "What my love is for" é um filme decente, com boas performances, uma história simples mas que se acompanha pelo naturalismo que as performances são apresentadas, e pelo frescor da narrativa. Sem pretensões, é um filme indie com uma bela cena de sexo entre os dois protagonistas.
Se meu apartamento falasse
"The apartment", de Billy Wilder (1960)
Indicado a 10 Oscars em 1961, e vencedor de 5 (melhor filme, diretor, roteiro, edição e direção de arte). Há exatamente um ano antes, Wilder havia lançado o mega sucesso "Quanto mais quente melhor", com Marylin Monroe, Jack Lemmon e Tony Curtis. Repetindo a parceria com Lemmon, o filme agora traz um tom de comédia acredoce. Rodado em preto e branco, o filme se passa em Nova York, e traz como protagonistas, pessoas anônimas que passariam despercebidas numa cidade com mais de 8 milhões de pessoas. Em um enorme prédio de uma seguradora, trabalham mais de 20 mil funcionários, entre elas, o vendedor de seguros C.C. Baxter (Jack Lemmon). O desejo de Baxter é ascender dentro da empresa, e ganhar um cargo mais elevado. Mas para poder ser notado e reconhecido, Baxter se propõe à uma situação inusitada: ele cede o seu apartamento, onde mora sozinho, para que seus chefes possam levar as suas amantes. Com todo um cronograma organizado de escalas, dias e horários, Baxter espera assim receber uma promoção. Em toda a empresa, a única pessoa que repara em Baxter é a ascensorista Fran Kubelik (Shirley Maclaine). Quando o presidente da empresa, Jeff (Fred Macmurray), procura Baxter e pede pela chave do apartamento, Baxter imediatamente a entrega. Mas para sua surpresa, a amante de Jeff é Fran.
O roteiro do filme é um primor e já na sua época, em 1960, já seria ousado realizar uma comédia com o tema de traições e encontros em um apartamento para sexo. Mais ousado ainda, é falar de suicício e depressão, através da personagem de Fran, que vive uma desilusão amorosa. Mas Billy Wilder rege tudo com maestria, e faz o público rir e se emocionar com a história de duas pessoas solitárias que moram em uma grande metrópole. Isso é intensificado na cena da festa de reveillon, quando toda a organbizacão está em festa, e Baxter e Fran se sentem sós, diante de toda uma intensa alegria dos companheiros. Wilder ainda faz um easter egg com Marylin Monroe: uma das amantes é cópia fiel de Marylin e fala exatamente igual à ela. A cena final é linda, comovente e um show de atuação e de cinema. Jack Lemmon é um gigantesco talento para a comédia, sabendo lidar com os tempos, com o corpo, com as falas e o olhar.
terça-feira, 5 de novembro de 2024
The outrun
"The outrun", de Nora Fingscheidt (2024)
Adaptado do livro de memórias escrito por Amy Liptrot em 2020, "The outrun" foi exibido em Sundance e no Festival de Berlim 2024. Protagonizado por Saorsie Ronan, atriz que sempre presenteou o público com um talento inquestionável, desde tenra idade, quando começou a trabalhar em filmes.
Saorsie é Rona (alter ego de Amy), uma estudante de biologia de 29 anos, que sai de sua cidade natal, nas Ilhas Orkney, na Escócia, em direção a Londres, para estudar e trabalhar. Mas ela está desempregada, parou os estudos e dedica os seus dias a baladas e bebidas. Quando rompe o namoro com seu namorado Daynin (Paapa Essiedu), que não consegue mais lidar com os rompantes etílicos de Rona, Rona é agredida e atacada na rua. Ela decide voltar para sua terra natal, para dar um tempo. Seus pais estão separados: o pai, fazendeiro, é bipolar e mora sozinho. A mãe é católica fervorosa e arma reuniões com fiéis em casa, além de pressionar Rona a dar um jeito em sua vida. Ela se filia ao AA local, e vai trabalhar em uma Ong dedicada a estudar espécimes animais extintos na região.
Toda essa narrativa é contada de forma não linear, com muitos vai e véns temporais. O espectador só fica sabendo que mudou a época por causa da cor do cabelo de Rona, que toda hora pinta com uma cor diferente. Muita gente apelidou o filme como sendo uma versão adulta da personagem de Saorsie no filme "Lady bird": rebelde, tempestuosa, de forte personalidade. O trabalho de fotografia e câmera no filme são um grande chamariz para a narrativa quas eexperimental, que mescla ficção, documentário e imagens estilizadas que expressasm os sentimentos de Rona.
A different man
"A different man", de Aaron Schimberg (2024)
Exibido no Festival de Berlim e de Sundance em 2024, "A different man" é produzido pela A24, e tem roteiro e direção de Aaron Schimberg. Mas o tempo todo, o público vai ficar achando que está assistindo a um filme de Spike Jonze com roteiro de Charlie Kauffman. A estranheza na história, comum aos filmes da A24, dessa vez tem como pano de fundo o tema do lugar de fala, e o quanto um ator não contextualizado em termos de raça, deficiência, gênero, pode interpretar um personagem.
Edward (Sebastian Stan) é um ator que não consegue papéis por conta de sua doença, neurofibromatose, uma síndrome que deforma os tecidos da pele. Ele vive com dificuldades em um pequeno apartamento e por conta da sua condição, é uma pessoa com baixa auto-estima. Um dia, uma nova vizinha se muda para o apartamento ao lado do seu. Ingrid (Renate Reinsve, de "A por pessoa do mundo"), é uma dramaturga que busca um lugar ao sol, assim como Edward. Edward se interessa por Ingrid, mas se auto-sabota. Ao ser convidado para ser cobaia em um experimento médico, Edward ganha um novo rosto, mas não avisa ninguém. Surge Guy Moratz, um homem bonito e com estima elevada, que se torna um corretor de imóveis de grande sucesso. Ele comunica a todo mundo que Edward se matou. Ingrod decide escrever um texto teatral chamado 'Edward" e baseado no seu vizinho. Guy decsobre que está acontecendo uma audição e se submete ao teste, e acaba passando. Mas para dar vida a Edward, ele usa uma máscara. Durante os ensaios, surge inesperadamente Oswald (Adam Pearson) , portador de neurofibromatose e com muita confiança, que quer s eoferecer ao papel. Ingrid se entusiasma e o escala no lugar de "Guy", que aos poucos, vai perdendo novamente a sua confiança.
O filme tem um roteiro repleto de camadas, trazendo diversas pautas, e principamente, a doença mental relacionada à baixa auto-estima e depressão. Mas o que prevalece mesmo é a pauta artística, sobre o lugar de fala. Um filme polêmico, que pode render muitas discussões sobre o tema. Goste-se ou não do filme, é inegável o ótimo trabalho dos atores. A maquiagem é retratada de forma realista (fiz pesquisas) é me lembrou do filme com Eric Stoltz e Cher, "Marcas do detsino", onde o personagem tinha a mesma condição.
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
Peça por peça
"Piece by piece", de Morgan Neville (2024)
Documentário musical sobre vida e obra do cantor , ccompositor e produtor musical Pharrel Willians. O filme foi produzido pelo cantor, e muitos críticos citaram a visão "chapa branca" do projeto, por envolver a sua família, algo semelhante ocorrido nos filmes de Whitney Houston, Bob Marley e Amy Winihouse. Eu conheço diversas músicas de Pharrel e não sabia absolutamente nada sobre a sua vida pessoal. A decisão de ter sido feito como animação, com o brinquedo LEGO, provavelmente veio em função da dificuldade de se agendar tantos artistas e produtores musicais que dão depoimento, dublados pelos própios: Justin Timberlake, Britney Spears, Daft Punk, Madonna, Gwen Stefani, Snoopy Doggy Dog, Timbaland, Hay-Z, uma infinidade de artistas que foram produzidos por Pharrel. A sua história pessoal não difere muito de tantos artistas: nasceu pobre, batalhou seu espaço ( foi inclusive atendente do Macdonald's) , teve grande influência de sua família, especialmente sua avó e seus pais. Se casou , teve 4 filhos. Em 1992, descobertos pelo produtor musical Teddy Riley, Pharrel e seu amigo Chad Hugo formaram a banda "The neptunes". O auge de sua carreira foi ao compôr a música "Happy", em 2013, para o filme "Meu malvado favorito 2 ", no mesmo ano de "Get lucky", da dupla francesa eletrônica Daft Punk,
O filme dedica espaço para falar das causas sociais de Pharrel, que fala sobre racismo e sobre a luta da comunidade negra nos Estados Unidos no movimento "Black lives matter". Fica aqui uma dúvida minha sobre o filme: a qual público se destina. A partir do momento que foi desenvolvido como animação, qual seria o interesse do público adulto em assistir a sua cinebiografia em formato Lego, e o interesse das crianças por sua história.
Conversas com Billy Wilder
"Billy Wilder speaks", de Gisela Grischow e Volker Schlöndorff (2006)
Documentário obrigatório para fãs de Billy Wilder e de seus filmes. Rodado em 1988 pelo período de 2 semanas, no escritório de Billy Wilder em Beverlly Hills, o filme, por demanda de Wilder, somente poderia ser exibido após a morte dele, falecido em 2002. Na época da entrevista com 83 anos, Wilder traz histórias de bastidores de seus filmes mais famosos, com condução do famoso cineasta alemão Volker Schlöndorff, que na ocasião da entrevista, já havia recebido o Oscar de melhor filme estrangeiro por 'O tambor", em 1979, e tinha acabado de finalizar sua primeira produção americana, "A morte de um caixeiro viajante". Conversando em inglês e em alemão, Wilder fala sobre sua mãe, que na adolescência havia visitado os Estados Unidos e se apaixonara pelo filme 'Billy the kid", razão de ter dado esse nome para ele. Wilder começou a escrever argumentos para filmes austríacos, entre eles, o famoso "People on sundays", dos irmãos Siodmark. Com a chegada do nazismo, Wilder decidiu abandonar o país e após Paris, imigrou para os Estados Unidos em 1933. Entre seus famosos roteiros, antes de começar a dirigir, estava "Ninotchka", que ele escreveu junto do diretor, Ernst Lubitsch. Lubitsch se tornou seu mentor e grande influência no cinema. Em 1942, dirige seu primeiro filme, " A incrível Susana". Seu terceiro filme, "Pacto de sangue", foi um dos pilares do cinema noir, adaptado do romance de Raymond Chandler. Wilder diz que Chandler ajudoua. escrever o roteiro, mas não entendia nada de estrutura para cinema. Em 1945, Wilder foi contratao pelo exército americano para dirigir um documentário sobre os campos de concentração, com a finalidade de alertar o povo alemão da veracidade sobre o holocausto, fato que era visto como falsa pela sociedade alemã. Durante a entrevista , Wilder fala sobre seu processo de trabalho com os atores, em especial, sobre Jack Lemmon, que elee afirma saber tudo de atuação. Expõe os problemas que teve com Marylin Monroe, que esquecia as falas, e com Shirley Maclaine, que dvidava do talento de Wilder. Fala sobre curiosidade de bastidores de clássicos como "Crepúsculo dos deuses": como filmou o plano debaixo da piscina revelando o morto e os policiais. Mas a maior curiosidade, essa eu não sabia: mostra imagens do prólogo original do filme, que foi rechaçado em sessões teste pelo público: inicialmente, o filme começava em um necrotério, com os mortos conversando entre si. Mas talvez de todos os atores, foi Humphrey Bogart que Wilder teve o maior conflito. Obrigado a trabalhar no filme "Sabrina" por conytrato, Bogart estava odiando tudo. Wilder diz uma frase espirituosa: "Que durante um filme, ele se sente numa prisão por dois meses, mas depois, ele está livre.". e ainda cutuca Bogart ao dizer que anos depois ele descobriu estar com câncer, e de que herói ele não tinha nada. Sobra elogios para Marlene Dietrich, que ele dirigiu em "A mundana" e "Testemunha de acusação", dizendo o quanto ela entendia de iluminação e de como se posicionar para a câmera para captar o melhor ângulo.
Death mills
"Die Todesmühlen", de Billy Wilder e Hans Burger (1945)
Billy Wilder foi um dos maiores cineastas da história: foi roteirista e diretor tantos na Áustria quanto nos Estados Unidos, país que imigrou após abandonar a Europa com a entrada da Alemanha nazista em 1933. Após ter dirigido seu terceiro filme americano, "o clássico noir "PActo de sangue", pelo qual recebeu 8 indicações ao Oscar, Wilder decidiu que estava na hora de fazer algo para ajudar a divulgar as atrocidades da Alemanha nazista. A sociedade alemã dizia que os campos de concentração não eram reais, e que eram propagandas contra o nazismo. Wilder foi contratado pelo Exército dos Estados Unidos para documentar o horror dos campos de concentração nazistas no final da Segunda Guerra Mundial. O diretor e roteirista alemão Hans Burguer co-dirigiu o filme. O filme traz imagens de campos de concentração após a libertação dos sobreviventes pelos aliados. As imagens captadas pelas câmeras são chocantes: milhares de cadáveres, alguns queimados, outros em inanição. O narrador conta todo o histórico sobre os mortos: dependendo dos campos de concentração, eles eram mortos ou por balas, ou por gás, ou com choques de cerca elétrica, ou morriam de fome, ou por torturas. Imagens de cinzas humanas são apresentadas enquanto o narrador diz que os fazendeiros alemães recebiam toneladas de fertilizantes, sem terem idéia de que se tratava de cinzas humanas. A trilha sonora ajuda a trazer um tom de pesadelo às imagens. Sobreviventes que mal conseguem se manter em pé, tal o aspecto cadavérico em que se encontram. Wilder, no documentário "Conversas com Billy Wilder", dirigido pelo alemão Volker Schlöndorff, disse que numa sessão para o público, as pessoas iam embora durante a sessão, e teve a idéia para que elas permanecessem até o final: como a população recebia cartões de racionamento, elas deveriam carimbar o cartão após a sessão.
Saturday night- A noite que mudou a comédia
'Saturday night", de Jason Reitman (2024)
Uma aula de cinema, "Saturday night- a noite que mudou a comédia" me fez lembrar do recente "Setembro 5", de Tim Fehlbaum. Ambos os filmes lidam com a tensão e ansiedade do ao vivo na tv. No caso de "Saturday night", o filme apresenta ao público os 90 minutos tensos e angustiantes antes do primeiro programa ir ao ar, ao vivo, na NBC, no dia 11 de outubro de 1975, às 11:30 da noite. Tudo parecia estar fadado ao fracasso absoluto: o dia e horário escolhidos são naturalmente péssimos pela baixa audiência; o vice presidente de talentos da NBC, David Tebet (Willian Dafoe) não faz idéia de que tipo de programa que irá ao ar e está certo de cancelar a transmissão em cima da hora e colocar no lugar uma reprise do "The tonight show com Jonnhy Carson (J. K. Simmons)"; fora isso, o elenco do 'Saturday night" está tenso e também não faz idéia de o formato do programa dará certo, e também tem as crises internas de alguns integrantes, principalmente uma de suas estrelas, John Belushi (Matt Wood). Lorne Michaels (Gabriel Labelle, que interpretou o jovem Steven Spielberg em "The Fabbelmans") é o único que procura manter toda a estrutura do programa de pé, e mesmo com tanto descrédito, quer fazer com que todos continuem acreditando no programa. Para isso, ele discute com o elenco, vai atrás de equipe que ainda etsá em falta e convence Tebet e seus assessores sobre a qualidade e sucesso do programa.
O filme foi exibido com grande sucesso no Festival de Toronto e mantém a atenção do espectador o tempo todo. Mesmo que a platéia já saiba de toda a história de sucesso do programa 'Saturday night live", que se mantém ativo até os dias de hoje, pelo conteúdo politicamente incorreto e iconoclasta, sendo referência para comediantes no mundo inteiro, o filme, graças à uma excelência da equipe técnica, traz tensão e suspense durante a sua narrativa. O vasto e talentoso elenco impressiona pela semelhança com os verdadeiros artistas, com o figurino de Danny Glicker e caracterização de Tricia Sawyer e Janine Rath Thompson. A fotografia de Eric Stellberg e a edição de Nathan Orloff e Shane Reid trazem toda uma linguagem da época, aliada à dinâmica dos programas de tv. Mas não tenho como não mencionar a trilha sonora de John Batiste, que ecoa durante toda a projeção, com sons rítmicos que colorem o filme com camadas de suspense, humor e muita adrenalina. Dylan O'brien está irreconhecivel como Dan Akroyd, Cory Michael Smith é perfeito como Chevy Chase (lembrando até Vladimir Brichta).
domingo, 3 de novembro de 2024
Kubi
"Kubi", Takeshi Kitano (2024)
Em 1999, o cineasta japonês Nagisa Oshima provocou polêmica ao trazer o filme "Tabu", onde retratava amor entre samurais, especialmente com um personagem abertamente gay. O filme foi exibido no Festival de Cannes e mexeu com os brios da masculinidade, ao invadir um dos poucos universos da representatividade viril, que são os samurais. Concorrendo no Festival de Cannes 2924 na mostra Palm Queer, dedicado a filmes com temática Lgbt, "Kubi" é adaptação do livro homônimo escrito por Takeshi Kitano em 2019. O filme também traz personagens homossexuais na representação dos samurais. Desde 1997, quando ganhou o Leão de ouro pela sua obra-prima de Yakuza "Hana bi", Takeshi Kitano se tornou um queridinho do público e de festivais. Mas os últimos anos não foram bem com Kitano: seus filmes não tiveram a mesma recepção calorosa da crítica. Ambientado no ano de 1582, o filme é bastante confuso ao apresentar uma infinidade de personagens e sub-tramas, lembrando as tramas de vingança e traição de Shakespeare, e há quem o compare à "Game of thrones", pela óbvia alusão à luta pelo poder. Como fio narrativo, tem o Lorde Oda Nobunaga, que deseja controlar o Japão. Diversos senhores da guerra rivais travam batalhas, eliminando clãs inteiras. Quando um dos senhores leais ao Lorde, Araki Murashige, desaparece, sendo acusado de traidor, Nobunaga pede para que travem uma busca pelo seu possível corpo, e quer que tragam a sua cabeça, com direito a recompensa.
O filme traz elementos de humor ácido e muita violência gore, bem ao gosto dos exageros de Kitano. Centenas de cabeças decapitadas, mutilações, harakiris, flechadas, espadadas e todo tipo de massacre é visto em cena. Kitano não economiza em sangue e efeitos para trazer uma sensação desconfortável ao espectador.
Foreigners only
"Foreigners only", de Nuhash Humayun (2023)
Premiado curta co-produzido por Bangladesh e Estados Unidos, "Foreigners only" é um excelente exercício de terror gore filmado em cortiço real de Bangladesh. O filme é uma parábola sobre a colonização e sobre como o Bangladesh é xenofóbico com sua própria população e abre a guarda para estrangeiros, que são bem tratados por comerciantes. Um trabalhador nativo, que trabalha em um matadouro, quer se hospedar em um cortiço, mas o dono aponta para uma placa dizendo que somente estrangeiros são aceitos no local. Mesmo com dinheiro, o homem não consegue ser aceito. Ao ir até uma farmácia para comprar um creme para uma irritação de pele, o homem é despretirdo em relação a um estrangeiro, que fura a fila. O homem decide tomar uma atitude drástica para poder ser aceito por todos.
Tudo no filme é perfeito: roteiro, diálogos, maquiagem, fotografia, atmosfera. O diretor e roteirista Nuhash Humayun cria um visual aterrorizante e assustador, com um pano de fundo social e se apropriando do gênero terror para dar o seu recado.
Blitz
"Blitz", de Steve McQueen (2024)
Diretor dos premiados "Hunger", Shame" e "12 anos de escravidão", o cineasta inglês Steve Macqueen escreve e dirige "Blitz", drama ambientado na 2a guerra mundial em Londres em setembro de 1940. O título "Blitz" vem do alemão Blitzkrieg, que é o toque de recolher para os cidadãos ingleses que devem evacuar para áreas mais seguras. Mais da metade das crianças foram enviadas para o interior do país. Steve Macqueen conta uma história tradicional, que lembra muuito "Império do Sol", de Spielberg, quando uma criança é separada de seus pais. Mas Macqueen adiciona o tema do racismo à essa Inglaterra racista e segregada. A mãe é Rose (Saorsie Rosnan), que trabalha em uma fábrica que produz munição para as armas bélicas. Seu filho é George (Elliott Heffernan), e tem 9 anos. O pai de George era um imigrante negro de Granada, por quem Rose se apaixonou. Mas durante uma discussão com homens brancos, ele foi preso e deportado. Rose mora com seu pai, Gerald (Paul Weller). Preocupada com os constantes ataques aéreos em Londres, Rose decide enviar George para o interior. Ele se recusa a ir, mas Rose o coloca em um trem. Durante a viagem, George escapa e decide voltar para casa. Quando Rose , arrependida por enviar seu filho, descobre que ele fugiu, ela vai numa via crucis para tentar encontrá-lo.
O filme tem cenas de grande valor de produção, com muitos efeitos especiais e de CGI. Macqueen não economizou em orçamento, tendo até uma cena digna do filme "Titanic", com pessoas presas no subterrâneo do metrô e tentando fugir à inundação. O filme é dividido entre a saga de Rose e a saga de George. Saorsie Rosnan demonstra novamente o grande talento, e dessa vez, ainda canta e dança. O pequeno Elliott Heffernan é bastante carismático e lembra a força que Christian Bale tinha em "O império do sol". Assim como boa parte de seus filmes, Macqueen traz manifestos políticos e sociais disfarçados nas entrelinhas. O que não gostei, foi da morte aleatória de dois personagens, que meio que não deu em nada e não vi ea menor necessidade, só para intensificar a tragédia da guerra.
sábado, 2 de novembro de 2024
Rotina
"Rutina", de Adriana Vivár (2022)
Premiado curta LGBTQIAP+ mexicano, "Rotina" traz a narrativa do Loop temporal, onde todos os dias, a rotina do adolescente Mario(Luis Ceceña)se repete. Gay enrustido, ele mora com seus pais homofóbicos e conservadores, Raul (Andrés Gallegos) e Laura (Sandra Sánchez). Todos os dias, de manhã até final do dia, tudo o que Mario escuta são frases e situações homofóbicas: com os pais, com o taxista e com os colegs de classe. Quando sai uma matéria no jornal sobre uma ementa que precisa ser aprovada para que o México vote a favor do matrimônio gay, a rotina de Mario passsa a mudar. Ele já passa a defender aos poucos a homossexualidade e também começa a sair com Mauricio (Edsohn Logax), seu crush na ecsola.
Bastante exagerado nas atuações e diálogos com frases feitas, "Rotina" tem como ponto positivo a sua mensagem clara e objetiva sobre a luta da comunidade homossexual contra a homofobia. O jovem ator Luis Cecena está bem no papel, uma pena que o roteiro não explore melhor os conflitos de seu personagem perante sua família, escola e sociedade.
This is for you
"This is for you", de Alon Borten (2023)
Escrito e dirigido por Alon Borten, "This is for you" é um sensível drama LGBTQIAP+ indie americano. Retratando um final de semana de um casal gay, David (Griff Stark-Ennis) e Robert (Marc Jordan Cohen), o filme é ambientado em Los Angeles. Os dois namoram há um tempo, mas Robert, que é do Oriente médio e vivendo nos Estados Unidos, precisa voltar ao seu país. O casal passa esses últimos dias fazendo sexo, namorando, conversando e fazendo uma despedida onde certamente, n!ão se verão mais. Retratando um final melancólico de um relacionamento bastante apaixonado, "This is for you" é triste e comovente, amparado por duas performances intensas dos dois atores protagonistas. A fotografia de Marcus Patterson reforça a
natureza emotiva do drama, e nas cenas de sexo traz imagens quentes e repletas de erotismo.
O aprendiz
"The apprentice", de Ali Abbasi (2024)
Concorrendo no Festival de Cannes 2024, "O aprendiz" apresenta um jovem Donald Trump, dos anos 70 ao final dos anos 80. Seria algo como "a ascenção do Mal" de um jovem inseguro e com sonhos profissionais, se tornando o Donald Trump misógeno, arrogante, homofóbico, racista e defensor do armamento que todos conhecem. Sebastian Stan o interpreta magnificamente, repetindo todos os trejeitos e cacoetes.
Nos anos 70, Trump contrata o advogado Roy Cohn (Jeremy Strong) para defender os interesses de seu pai, Fred Trump (Martin Donovan), que está sendo processado por afro americanos que alegam que Fred está sendo racista nos assuntos imobiliários. Trump encontra em Roy um grande mentor: Roy é frio, corrupto, arrogante e ambicioso. Roy ensina a Trump três regras a se seguir na vida, para obter sucesso: "Atacar, atacar, atacar"; "Não admitir erro, negando tudo" e "Nunca admita derrota". Durante uma festa, Trump testemunha Roy em uma orgia com homens. Aos poucos, Trump vai ganhando espaço no mercado imobiliáro, construindo e arrendando prédios, lançando cassinos ese tornando um midas do mercado imobiliário. Ao conhecer Ivana Trump (Maria Bakalova, indicada à atriz coadjuvante por "Borat 2"), Trump decide conquistá-la de qualquer jeito. Mas com o tempo, e após obrigá-la a fazer intervenções cirúrgicas, Trump passa a ter ciúmes do grande chamariz que é Ivana, que acaba ofuscando Trump na mídia.
O filme apresenta com o passar dos anos, um Trump maquiavélico. O próprio Trump e seus eleitores e correligionários ficaram irritados com o lançamento do filme, alegando que poderia prejudicá-lo nas eleições de novembro de 2024. A reconstituição de época, a fotografia reproduzindo a textura vintage da película, a direção de arte caprichada, a edição, e claro, maquiagem e figurino, auxiliam o espectador a entrar em uma verdadeira viagem do tempo. A trilha sonora é composta de grandes clássicos pop: "Always on my mind", Pet Shop Boys, "Rock Your Baby", de
George McCrae, "Yes Sir, I Can Boogie", de Baccara, "I'm Your Boogie Man", de KC & The Sunshine Band, "Blue Monday", de New Order, entre outros.
Zona de exclusão
"Zielona granica", de Agnieszka Holland (2023)
Vencedor do prêmio do juri no Festival de Veneza 2023, "Zona de exclusão" certamente será um dos filmes mais angustiantes e trágicos que voc6e terá visto recentemente. Baseado em histórias reais de milhares de refugiados africanos e do Oriente médio, que procuram migrar para países da União européia, que dizem, recebe os imigrantes de braços abertos, conferindo alojamento, documentos e trabalho e sistema de saúde, Em busca dessa ajuda humanitária, uma família síria, composta por marido, esposa e 3 filhos pequenos, além de um casal afegão (uma professora de inglês e seu marido) fogem dos talibãs e sonham em morar na Suécia. Eles chegam de avião até a Bielorússia, país que faz fronteira com a Polônia, país que faz parte da União européia. Os dois países são cercados por uma kilométrica cerca de arame farpado, com uma vasta floresta perigosa até chegar no centro da Polônia. Os refugiados são jogados pelos soldados russos através da cerca e tendo que se virar sozinhos na floresta, passando fome, frio e machucados. Ao darem de cara com soldados poloneses, eles são novamente expulsos e obrigados a retornar para o lado da Bielorússia. Durante o filme, os refugiados são jogados de um lado para o outro, sendo roubados, extorquidos, feridos, até terem um destino trágico. O filme se divide em 3 pontos de vista: os refugiados, um soldado polonês em crise ao se confrontar com a violência que seus colegas soldados infringem aos refugiados, e uma ativista , Julia, ex-psicóloga mas que decide ajudar os refugiados, entrando na floresta e correndo o risco de ser morta.
A Polônia fez duras críticas ao filme, acusando-o de traição e de expor o país perante o mundo. Por isso, o filme foi despreterido na escolha de filme para representar o país no Oscar, sendo escolhido "Under the volcano". Filmado como um documental, com não atores, a fotografia em preto e branco bem densa e as locações assustadoras e pouco acolhedoras fazem do filme uma experiência bastante dolorosa. Agnieska Holland, atualmente com 75 anos, desbrava um drama humanitário através de muito sofrimento, lembrando o seu filme mais famoso, o premiado 'Filhos da guerra", sobre um jovem judeu que se faz passar por alemão. Agnieska já foi duas vezes indicada ao Oscar de filme estrabgeiro: por "Colheita amarga", de 1986, e "Na escuridão", de 2011.
Megalópolis
"Megalopolis", de Francis Ford Coppola (2024)
Na extensa e premiada filmografia de francis Ford Coppola, existem alguns filmes que eu não consigo gostar, e entre eles, "Virginia" e principalmente, "Velha juventude". Mesmo filmes menores, como "Tetro", são interessantes e bons o suficiente para serem memoráveis. Exibido em competição no Festival de Cannes 2024, "Megalópolis" vem depois de 12 anos sem filmar, sendo seu último filme, "Virginia", de 2012. "Megalopolis" é um projeto de Coppola que data desde os anos 80, mas somente em 2019 ele decidiu bancar essa custosa produção, desembolsando 140 milhões de dólares, já que nenhum grande estúdio se interessou. O filme foi lançado e se tornou um fracasso de público e crítica. Todos os adjetivos já foram ditos sobre o filme, e talvez ainda faltem alguns: indulgente, teatral, megalomaníaco, equivocado....e eu poderia acrescentar, confuso, sem alma, aleatório.
Ambientado em um futuro onde a cidade chamada Nova Roma é comandada por um prefeito corrupto, Cicero (Giancarlo Esposito), em embate com o arquiteto Cesar (Adam Driver), que busca solução para a cidade através de projetos envolvendo um tecido que ele criou, que regenera pele e serve também para ser usado em construções. Seu sonho é criar a cidade de Megalópolis, mais humanizada e auto suficiente. Mas ele precisa enfrentar a resistência do prefeito e de poderosos como o banqueiro interpretado por John Voight e seu filho, Shia Labeouf. A esposa de Casar morreu em circustâncias misteriosas, mas ele flerta com a filha do prefeito, Julia (Nathalie Emmanuel). O filme é repleto de sub-tramas envolvendo um elenco all star: Dustin Hoffman, Lawrence Fishburne (que narra em off o filme), Talia SH=hire (irmã de Coppola), Jason Schwartzman (sobrinho de Coppola), entre outros. Uma pena que não tenha uma cena com Hoffman e Voight juntos, que pudesse homenagear a feliz parceria em "Perdidos na noite". A direção de arte é oscilante, com belas imagens e alguns efeitos de CGI duvidosos e bem fakes, que parecem gerados por AI. Eu não consegui me conectar ao filme, que me pareceu o tempo todo sem alma e segundo li em uma matéria, remetendo ao delírio de Baz Luhrmann em "O grande Gatsby".
sexta-feira, 1 de novembro de 2024
Dublê de namorado
"Dublê de namorado", de Christopher Faust (2024)
O cinema independente brasileiro realizado em Curitiba já nos trouxe ótimas obras, como "Alice Junior", de Gil Baroni, "Coração de neon", de Lucas Estevan Soares, e os primeiros filmes de Aly Muritiba, como "Para minha amada morta". Com 'Dublê de namorado", filme de estréia do diretor e roteirista Christopher Faust, dá-se início à incursão de um cinema mais popular, dialogando com o público teen e também com os marmanjos que viveram os anos 80 e assistiram a clássicos do cineasta John Hughes, mestre do diálogo entre temáticas juvenis. Realizado com baixíssimo orçamento, o cineasta Christopher Faust encontrou na estética dos anos 80 a linguagem para apresentar o seu filme, sem perder qualidade e trazendo uma contextualização que os jovens da era Tik Tok e viciados em filtros irão reconhecer. Vintage no visual, com textura, filtro e aqueles famosos arranhões e drop outs na imagem, a temática no entanto é bastante atual. Renan (Gustavo Piaskoski) é um estudante de biologia de 21 anos, namorando Taís (Mia Bueno) há 2 anos. O casal divide o mesmo apartamento, mas como boa parte dos jovens, Renan sente saudades de sua época de solteiro, quando, sem compromissos de relacionamento, ele podia namorar quem quisesse. Ao conversar com seu melhor amigo Moita (Ramon Ramos), Renan desabafa com seu professor de genética Jorjão (Daniel del Sarto), que tem a solução para os seus problemas: a sua máquina de clonagem (um freezer decadente!!!!). Assim, Renan poderá deixar seu clone com Taís, e ele próprio pode namorar outras garotas, entre elas, a estudante de arquitetura Marcella (Manuella Prestes).
O filme traz claras referências principalmente a "Mulher nota 1000", onde estudantes lidam com tecnologia para reproduzir seres humanos. Mas a mensagem do filme é clara: não se mexe com os sentimentos de quem você ama. O filme traz boas cenas de relacionamentos, com performances menos caricatas e mais naturalistas, reforçando o talento do jovem elenco do filme. Gustavo Piaskoski é carismático e talentoso o suficiente para dar conta de 2 personas totalmente distintas, enquanto Ramon Ramos é divertido e camarada como todo best friend deve ser. Exibido no Festival Fantaspoa 2024, o filme ainda homenageia o cinema independente produzido no Brasil, com trechos de "Houve uma vez dois verões", de Jorge Furtado, "O balconista", de Cavi Borges, entre outros. Uma aula de cinema independente e possível de ser feito, com todas as suas limitações orçamentárias, mas cuja criatividade se sobrepões a problemas técnicos.
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