sábado, 4 de abril de 2020

Uma vida em segredo

"Uma vida em segredo", de Suzana Amaral (2001) Em 1985, a cineasta Suzana Amaral se projetou para o mundo com o grande sucesso de "A hora da Estrela", adaptação de Clarice Lispector e que lançou a carreira da atriz Marcélia Cartaxo. A saga da menina retirante e ingênua e que encontra um fim trágico se repete, 16 anos depois, no clássico "Uma vida em segredo", adaptado da obra de Autran Dourado. Sai Macabéa, entra Biela, em performance minimalista e brilhante de Sabrina Greve, que estréia na tela grande após carreira como atriz de teatro. Biela foi criada na roça, de família rica e sempre preferiu a companhia dos criados do que de sua família e da aristocracia. Com a morte dos pais, Biela vai morar com seus primos, que ela não conhecia, na cidade grande: Constança (Eliane Giardini, primorosa) e Conrado (Cacá Amaral). Constança quer mudar o jeito brejeiro e pobre de Biela: muda seu figurino, a separa da criadagem, quer que ela se case e até arranja um noivo. Mas Biela é de poucas ambições na vida: ela quer conversar com os criados na cozinha e comer torresminho frito. Assim como em 'A hora da estrela", ela conhece um noivo, mas ele simplesmente a abandona, e nesse universo de olhar feminino, mas conservador onde moram as heroínas da literatura, n!ao lhes é permitido ser independente. O filme é lindamente dirigido por Suzana, que apostou em um cinema de delicadeza, lento como um sopro de sopro. Tudo é muito sensível: as performances, os enquadramentos, o olhar sobre a natureza, a trilha sonora. A fotografia do Mestre Lauro Escorel ajuda a dar esse componente de mundo realista e mágico ao mesmo tempo. Uma obra imperdível, vencedora de vários prêmios no Brasil e no exterior.

Nenhum comentário:

Postar um comentário