terça-feira, 28 de abril de 2020

30 anos blues

"30 anos Blues", de Dida Andrade e Andradina Azevedo (2019) No ano de 2013, uma dupla desconhecida de jovens cineastas com pouco mais de 20 anos de idade surpreenderam o júri do Festival de Gramado com o seu longa de estréia e arrebataram 2 importantes Kikitos O de direção e o de fotografia. "A bruta flor do querer" foi escrito, produzido, dirigido e protagonizado por Dida e Andradina, dois jovens paulistas que falavam sobre os anseios de 2 jovens que queriam descobrir o mundo. Seis anos depois, a mesma dupla lança seu segundo longa, "30 anos Blues" em Gramado e fatura o Prêmio especial do Juri em 2019. O formato foi o mesmo: dividira direção, protagonismo, produção e roteiro. Mas a dupla amadureceu, e o que vemos na tela é um filme desesperançoso sobre o fim do Brasil, o fim da Arte, o fim do Amor e das relações profissionais. Pais e filhos mal se falam, maridos e esposas trocam farpas. As pessoas traem no trabalho, em casa. Dida e Andradina resolveram falar sobre sonhos frustrados e interrompidos. É um filme melancólico. Tem u diálogo entre pais e filho que sintetiza o que vamos ver na tela: o filho, por necessidade, volta a morar com seus pais. O filho diz: "Quando se tem 30 anos e você vai morar na casa de seus pais, parece que você não deu certo na vida." A sensação de vergonha estampada na cara do filho é patente. Discute-se conceito de Arte de Amor, de Amizade, mas não se encontram respostas. É importante ressaltar a relação de amizade e profissional da dupla de amigos Dida e Andradina, dois batalhadores do cinema independente no Brasil. O tipo de filme que fazem se encaixa naquele termo que americano adora usar, o "Bromance". Os personagens mais erram que acertam, são carregados de conceitos antigos vindo de uma sociedade patriarcal e conservadora. Mas o filme, que para muitos tem uma referência ao cinema de Godard, no meu ponto de vista está mais para a busca de um sonho vindo de Fellini. A cena final me prova isso: assim como em "Noites de Cabíria", após tantas desilusões e fracassos, Cabiria esbarra na rua com uma trupe de mambembes que a encorajam a seguir adiante, e assim, ela dá um belo sorriso para a câmera. Dida e Andradina também se deparam com uma trupe mais conceitual de artistas circenses na rua, e a visão desses artistas que batalham, que fazem a sua arte sem se escorar em editais, criticados no filme, fazem brilhar os seus olhos. Desistir, jamais.

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