segunda-feira, 27 de abril de 2020

Santiago

"Santiago", de João Moreira Salles (2007) Desde que me entendo por cinéfilo, e isso tem muitas décadas, toda vez que eu assisto a um filme ou do João Moreira Salles, ou de seu irmão Walter Salles, sempre vem uma dúzia de Cinéfilos me enchendo o saco e dizendo a mesma ladainha que cansei de escutar: esses irmãos Salles fazem filmes para expiara culpa deles serem bilionários. Só fazem filmes do ponto de vista dos ricos sobre os pobres." Isso não é argumento para eu deixar de assistir a um filme, e mesmo porquê eu gosto de ter meu próprio juízo de valor. Admiro os filmes de ambos e mesmo gostando mais de uns filmes do que de outros, é inegável a contribuição artística e cultural de seus projetos para a história do cinema brasileiro. "Santiago" é um filme que era para ter sido lançado em 1992, época em que João Moreira Salles resolveu entrevistar o mordomo argentino que serviu à sua família por mais de 30 anos na famosa casa da Gávea, onde hoje existe o Museu Moreira Salles. Santiago Badariotti Merlo nasceu na Argentina em 1912. Ele serviu à Família Moreira Salles como Mordomo. Os irmãos Salles : Walter, Pedro, Fernando e João conviveram desde pequenos ao lado dos serviçais da casa e segundo João, quando haviam festas, os irmãos gostavam de se vestir de copeiros e era Santiago quem os ensinava a servir as bebidas. em 1992, Santiago já estava aposentado. João resolveu entrevistá-lo em sue pequeno apartamento no Leblon. Por 5 dias, João o entrevistou sem uma pauta certa. Foram gravadas mais de 9 horas de material, captadas pelas lentes de Walter Carvalho e pelo som de Jorge Saldanha. João chegou a filmar em estúdio imagens de lutador de box, flores e outras imagens aleatórias que pudessem ilustrar o depoimento de Santiago, mas não encontrou uma linha narrativa que desse uma liga perfeita e resolveu abandonar o projeto. Santiago veio a falecer 2 anos depois, em 1994. Somente 13 anos depois, João resolveu recuperar o projeto. A id;eia da nostalgia da mansão onde João e sua família morou , e de onde ele saiu aos 20 anos de idade, foi a moto propulsora do retorno à história de Santiago, que virou pano de fundo para o resgate de memórias. Muita gente gosta do filme, e outra mesma quantidade de gente não gosta, acusando-o de ser um filme elitista e que aponta a sua câmera para Santiago na mesma relação que um patrão tem com o seu empregado, um olhar inquisidor, que tem o poder de cortar a câmera e de fazer o o seu "ator" atuar na hora que o Diretor bem entender. É um filme bastante complexo eticamente falando. Mas o próprio João faz um mea culpa logo no desfecho, explicando o porquê da opção de sempre filmar Santiago distante, sem direito a closes. Como cinéfilo, amei as referências cinematográficas do filme: "A roda da fortuna", com Fred Asteire e Cyd Charisse, e "Era uma vez em Tóquio", de Yasujiro Ozu, um filme onde explicitamente João Moreira diz que se inspirou para os enquadramentos usados para se filmar Santiago. A trilha sonora do filme é um caso à parte: que lindeza, como compõem bem as imagens com as músicas listadas. A narração de Fernando Moreira Salles também é outro ponto positivo, dá uma atmosfera de tranquilidade e serenidade que combinam com a elegância do filme. Obs: amei as anotações de mais de 30 mil páginas de Santiago, que pessoa extraordinária. Pena que não se falou de sua vida pessoal, amigos, família. Pelo visto, a sua vida foi totalmente dedicada à família.

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