sábado, 12 de agosto de 2023

Os meninos de couro

"The leather boys", de Sidney J. Furie (1964) Um dos mais clássicos e cults representantes do movimento cultural inglês denominado "Kitchen sink films", desenvolvido no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, cujos protagonistas são jovens desiludidos com a sociedade moderna. São jovens da classe trabalhadora britânica, morando na periferia e frequentando pubs. Precursores do cinema de Mike Leigh e Ken Loach, muitos filmes importantes surgiram daí. Mas "os meninos do couro" vai além: é adaptado do romance escrito em 61 e que retrata a homossexualidade na Londres do início dos anos 60, ainda sobre a regência de uma lei contra relacionamentos do mesmo sexo. O cineasta Sidney J. Furie é dos mais ecléticos, tendo dirigidos todos os gêneros em cults como "Lady sings the blues", 'Superman 4", o terror "A entidade", o drama com Frank Sinatra "O serviço secreto em ação", 'A mulher cobra", entre outras precisoidades do cinema B e trash. "Os meninos de couro" se destaca pela sua narrativa quase documental, um registro histórico de uma sociedade conservadora representando uma geração de jovens que parecem filhos de Marlon Brando em 'O Selvagem", dos anos 50. Dois jovens, a estudante Dot (Rita Tushingham) e o motociclista Reggie (Colin Campbell) se casam. Filhos de operários, eles passam a lua de mel em um acampamento de férias. Mas Dot é muito ativa na noite e gosta de farra, enquanto reggie quer que ela esteja em casa, cuidando de afazeres domésticos. Logo, o relacionamento esfria. Reggie conhece o motoqueiro Pete (Dudley Sutton), que se torna um amigo, enquanto Dot passa a s erelacionar com Brian. Pete é gay, mas é bastante discreto e faz de Reggie um amigo, mas logo ao dividirem a mesma cama e intimidade, seus desejos por um amante e namorado vão se tornando mais concretos. O grande barato desse filme é ter burlado o código de filmes de Hollywood, que não permitia personagens gays. Mesmo de forma sutil, o filme não esconde a homossexualidade do personagem, não só nos diálogos, como em situações, vide o bar gay frequentado pela comunidade queer. O ator Dudley Sutton interpreta de forma muito sutil e inteligente seu personagem gay, focando mais em olhares e tempos do que em trejeitos físicos óbvios. Mas o filme também traz o frescor do vento feminista: a personagem de Dot sabe o que quer, e mesmo se casando, ela quer ser livre e tem vontades e desejos próprios, se recusando a exercer tarefas domésticas. Um filme muito à frente de seu tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário