domingo, 18 de agosto de 2019

Humberto Mauro

“Humberto Mauro”, de André Di Mauro (2018) Dirigido e escrito por André Di Mauro, sobrinho-neto do Cineasta mais famoso de Cataguazes, Minas Gerais, “Humberto Mauro” é um filme obrigatório para estudantes e estudiosos de Cinema, Cinéfilos e para quem acredita que o Brasil não preserva a sua memória cultural. André levou cerca de 2 anos decupando, estudando cerca de 300 filmes ( editou trechos de 70 no final) dirigidos por Humberto, entre curtas, longas e filmes educativos produzidos depois de 1936 no Instituto Nacional de Cinema Educativo, o INCE, financiado pelo Governo Vargas e que tinha como intuito, produzir curtas e médias para serem exibidos em escolas e instituições públicas de todo o Brasil. André construiu o seu filme todo a partir de material de arquivo, não tendo cenas filmadas posteriormente nem as tradicionais entrevistas com amigos e parentes vivos. Costurando imagens dos filmes com entrevistas cedidas por Humberto nos anos 60, o filme se torna uma linda declaração de amor do próprio à Arte de se fazer e apreciar o Cinema. Assim como “Cinema Novo”, de Eryk Rocha, ou “Histórias que nossas Babás não contavam”, que tinha como tema a pornochanchada e o seu olhar sobre a Ditadura militar no Brasil, todos esses filmes reconstroem as imagens originais, transformando-as em um filme próprio, trazendo um novo olhar sobre os filmes envolvidos. Ao final da projeção, tem um depoimento contundente de Humberto, já com voz embargada pela idade avançada (Humberto faleceu aos 86 anos em 1983) dando a declaração: “Gostaria que um bisneto ou um tataraneto me confirmasse, lá pelo ano de 2020, se a Terra é azul”. O Cineasta André di Mauro editou o filme de forma que o próprio Humberto, metafisicamente, já tem a resposta. No belíssimo prólogo do filme, vemos imagens da natureza, um dos temas recorrentes e mais apaixonantes de Humberto. Logo vemos crianças observando o céu, e também alguns adultos. Sobre essas imagens, ouvimos a voz de Humberto surgindo como se ecoasse do Universo, desse céu azul, no filme retratado em imagens em preto e branco. O grande acerto de André di Mauro foi ter focado o seu documentário na experiência de Humberto com o cinema, evitando falar d avida pessoal dele. Logo em seu primeiro filme de1926 ,” Na Primavera da Vida”, assinou como Reinaldo Mazzei. Por sugestão do Produtor carioca Adhemar Gonzaga, alterou sue nome para Humberto Mauro. Filho de italiano com brasileira, Humberto veio ao Rio de Janeiro em 1937, a convite de Adhemar Gonzaga, e realizou o primeiro filme do Estúdio Cinédia, “Lábios sem beijos”. Vários outros filmes foram produzidos pela Cinédia, formando uma bela parceria. Humberto gostava de filmar sem muita preparação, gostava do improviso e do elemento surpresa, principalmente quando filmava a Natureza, segundo ele. “Na Natureza, nada se repete, cada instante acontece uma única vez”. Humberto nunca estudou Cinema nem leu livros, diz que é um processo próprio que nasce com a pessoa. Parafraseando uma frase de Michelangelo, onde “A escultura já vem dentro do bloco de mármore, basta esculpir que ele sai.”. Humberto: “O Cinema tá lá dentro da gente, basta apertar um botão que ele sai”. A parte curiosa é quando diz que as mulheres de sua família, que o ajudavam em seus filmes, o censuravam quando o assunto era a exposição de corpos femininos: sugeriam enquadramentos que não mostrassem demais, figurinos que não explorasse a sensualidade delas. Outro momento revelador, é quando Humberto explica o sentido de sua famosa frase, ‘Cinema é Cachoeira”: Muitos amigos seus, fazendeiros, chamavam Humberto para filmar as cachoeiras de suas fazendas. Humberto concluiu que a Cachoeira trazia esse desejo das pessoas de filmar algo belo, que merece ser imortalizado na película. Cachoeira é Cinema, logo, Cinema é Cachoeira. Na última cena do documentário, temos a imagem do próprio Humberto Mauro, representando um Coronel no seu filme “Canto da saudade”, do alto de um Morro, orgulhoso, como se refletisse sobre toda a sua História no Cinema Brasileiro e dissesse para si mesmo: “Meu legado agora pertence a vocês.” “Humberto Mauro” concorreu nos prestigiados Festivais de Cinema de Veneza e Rotterdan em 2018, e concorre a uma vaga para representar o Brasil no Oscar 2020.

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