quinta-feira, 22 de agosto de 2019

La Manuela

“La Manuela”, de Clara Linhart (2018) Diretora assistente do longa “Gabriel e a montanha”, de Fellipe Barbosa, a cineasta Clara Linhart estréia como Diretora solo no comovente documentário “La Manuela”. Como tema do seu primeiro filme, Clara escolheu um assunto muito íntimo e pessoal: sua melhor amiga Manuela Picq. Nascidas no mesmo ano de 1977 na França, vieram juntas ao Brasil 4 anos após a anistia política no Brasil (curioso como de início lembra o recente drama “Deslembro”, de Flávia Castro). Logo após esse prólogo de apresentação, narrado em off por Clara usando como base foto das 2 crianças, o filme corta imediatamente para cenas jornalísticas de Manuela fazendo parte de uma manifestação contra o Governo do Presidente equatoriano Rafael Correa, em Quito. Por conta de seu envolvimento com o movimento indígena, tema da manifestação, Manuela no mesmo dia teve o seu visto revogado e expulsa do País, acusada de ato terrorista. Esse dia, 21 de agosto de 2015, marcou para sempre a vida de Manuela, que havia escolhido o Equador como o País aonde ela se sentia em casa. A paixão de Manuela pelo Equador veio totalmente do acaso. Ela quis juntar várias paixões em um só lugar: estudar direitos políticos, estudar espanhol e praticar parapente. O equador foi o lugar mais apropriado, por conta de suas montanhas muito altas. Por conta dos ventos fortes, Manuela trocou o parapente pelo alpinismo. Durante as caminhadas, Manuela se deparava com comunidades indígenas que habitavam ali. Ela ficava impressionada como as mulheres que aparentavam ter 80, 100 anos conseguiam se locomover com tanta destreza, até que descobriu que essas mulheres tinham 40, 50 anos de idade. Impressionada com a baixa qualidade de vida das indígenas, Manuela começou a se envolver com os direitos sociais e políticos dos indígenas, estudando a história dessas mulheres. Acabou conhecendo o líder Carlos Perez Guartambel, presidente da confederação indígena Ecuarunari, que fazia estudo sobre a água nos Andes, e logo se apaixonaram. Juntos, lideraram obras sociais e manifestos contra o Governo, em prol da comunidade indígena. Ao chegar no Brasil, em 2016, após ser expulsa do Equador, Manuela foi recebida no Aeroporto por um grupo de Mulheres ativistas e concluiu que seu exilio não tinha data para acabar. Junto de sua mãe, tentou de tudo para conseguir retornar ao Equador, sem sucesso. O Equador para Manuela era tudo na sua vida: seu lar, lugar de trabalho e do seu companheiro. Sem conseguir se habituar a morar no Brasil (Manuela diz que por conta do que ela chama de colapso do sistema educacional no Brasil, ela não vê qualquer chance de continuar morando aqui), Manuela decide ir morar em Berlim por um tempo, para escrever um livro sobre a condição das Mulheres indígenas na América Latina. Em um momento muito íntimo para as câmeras, Manuela revela para Clara Linhart que desde que foi expulsa do Equador e até os dias de hoje ( 2017, data da gravação), ela nunca mais havia se masturbado, deixando claro como todo esse rebuliço emocional mexeu com o seu metabolismo. Logo depois, Manuela foi convidada a dar aula em Boston, para onde foi na sequência. Durante esses anos longe de Carlos, a relação de ambos foi se desgastando pela distância: em longas conversas via Skype (registradas com extrema franqueza em seus diálogos), testemunhamos do encantamento das primeiras conversas para a falta de assunto. Havia uma possibilidade concreta de Manuela retornar para Quito, e assim ],d essa forma, salvar o relacionamento: um dos candidatos à Presidência, o banqueiro Guillermo Lasso, deixou claro que se ganhasse a eleição, traria Manuela de volta e colocaria ela e Carlos no dia da posse. Manuela se tornou importante figura política no País: se tornou um símbolo nacional de resistência. Dentro do imaginário nacional,, o povo quer sempre uma dupla atuando em conjunto: Assim foi com Simon Bolivar e Manuela Canizares, e com Antônio Sucre e Marianita Carcelen. O povo queria ver novamente Carlos e Manuela juntos. O filme reserva um final pós créditos: um comovente retorno de Manuela ao Equador, em janeiro de 2018. Um final feliz para um filme que fala sobre o Amor: o amor de duas amigas, Manuela e Clara Linhart, motivo do filme existir; o amor de Manuela pelo Equador e pela comunidade indígena; o amor de Manuela por Carlos; o amor da mãe de Manuela pela filha; o amor de Clara Linhart pela sua mãe Ana Maria, a quem ela dedica o filme. E finalmente, o Amor de mulheres batalhadoras pelo audiovisual brasileiro, as produtoras Paula Horta e Chaiana Furtado, em levantar esse projeto que traz um legado importante às causas indígenas, feministas e sociais.

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