Aqui comento os filmes que assisto...mas sem muito saco de teorizar demais..somente comentando o básico: se gostei ou não hehehe (Comento apenas filmes vistos a partir de Outubro de 2010)
domingo, 11 de agosto de 2019
Num ano com 13 luas
“In einem Jahr mit 13 Monden ”, de Werner Fassbinder (1978)
Realizado com extrema rapidez em 1978, “Num ano com 13 luas” é uma resposta de Fassbinder ao suicídio do Ator Armin Meier, também namorado do cineasta alemão, que o acusava de negligenciar o seu amor e não lhe dar atenção. Fassbinder se sentiu culpado pela morte de overdose de Meier e decidiu seguir até Frankfurt e rodar esse denso e provocativo drama assumindo quase todas as funções técnicas: Direção, roteiro, fotografia, câmera, direção de arte, montagem. O título significa que 1978 é um ano de 13 luas, e que esse fenômeno provoca em algumas pessoas uma tristeza profunda.
A protagonista do filme é Elvira, uma mulher trans (em atuação impecável de Volker Spengler). Antes de transitar, Elvira era Erwin, funcionário de um matadouro e casado com Irene, com quem teve uma filha, Marie Anne. Erwin no entanto se apaixonou pelo colega de trabalho, Anton, que disse ser impossível manter um relacionamento com Erwin, a não ser que ele se torne uma garota. Erwin resolve seguir até Casablanca e faz a mudança de sexo. Ao retornar como Elvira, ela sofre um duplo baque: Anton a rejeita, assim como sua esposa Irene. Elvira acaba se relacionando com um Ator, Christoph. Durante anos, eles se apaixonam, com Elvira sustentando o amante, mas quando Christoph passa a trabalhar, rejeita Elvira e passa a desprezá-la.
Fassbinder realiza um de seus filmes mais cruéis, e transforma Elvira em uma personagem aonde ele despeja todo o seu rancor pela sociedade: ela sofre, é desprezada, humilhada, espancada. Logo no prólogo do filme, buscando um pouco de amor, Elvira vai até um lugar de pegação gay, mas é espancada pelos gays que descobrem que ela é uma trans. Em 1978 Fassbinder já foi vanguarda ao tratar do tema da Trasnfobia entre a própria comunidade gay.
Fassbinder faz várias referências cinematográficas: além dos melodramas clássicos de Douglas Sirk, fonte eterna de seus dramas com protagonistas femininos, temos “Amarcord”, de onde vem a trilha sonora de Nino Rota, acompanhando as entradas em cena da prostituta Zora. Na apresentação de Anton, o vemos já milionário, assistindo na tv a cena da parada com as mulheres do filme “O meninão”, com Jerry Lewis e Dean Martin.
Duas grandes polêmicas surgiram por causa do filme: o personagem Anton é um judeu sobrevivente dos campos de concentração. Logo depois se tornou um milionário, aprendendo a ganhar dinheiro com informações de judeus que foram mortos nos campos. Se tornou um homem desprezível e frio. Fassbinder foi acusado por boa parte da mídia de anti-semitismo. Outro momento desconfortável, é na famosa cena do suicídio de um ex-funcionário de Anton. Elvira presencia o homem se preparando para se matar, e nada faz: ele se enforca na sua frente, com todo um ritual de preparação. Essa cena seria uma forma de Fassbinder se colocar no lugar de Elvira como se testemunhasse o suicídio de Armin e nada fez para impedir.
Depressivo mas ao mesmo tempo fascinante, “Num ano de 13 luas” é um filme obscuro de Fassbinder que tive o prazer de descobrir ao assistir a um documentário sobre a obra do cineasta.
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