quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

A favorita

“The Favourite”, de Yorgos Lanthimos (2018) Você já viu esse filme: “A favorita” é “A malvada”, obra-prima de Joseph Manckiewiz, dirigido por Peter Greenaway. Foi essa a sensação que eu tive ao assistir a esse delicioso drama repleto de alegorias políticas e como não poderia deixar de ser, aquele fino humor inglês, dessa vez apimentado pelo humor negro do grego Yorgos Lanthimos. Peter Greenaway é famoso pelas suas obsessões, além de estéticas, narrativas. Yorgos filme com a mesma elegância e pompa de Greenaway, aquele barroquismo tão apropriado ao Universo aristocrata inglês. E além de tudo, assim como Greenaway, que ama enumerações, Yorgos divide seu filme em capítulos, no caso, 8. Para quem não conhece a filmografia de Yorgos Lanthimos, é dele alguns dos filmes mais ousados, cruéis e polêmicos dos últimos anos: filmes que falam de sexo, Poder e violência, não exatamente nessa ordem: “A lagosta”, “O segredo do cervo sagrado”, “Dentes caninos”, “Alpes”. Sexo e Poder também são os ingredientes principais de “A favorita”. Para quem se lembra de “A malvada”, a história principal gira em torno da disputa do poder entre mulheres que querem ter um reconhecimento dentro do seu ambiente. No caso do filme com Bette Davis, é o meio artístico e a premiação para a melhor Atriz. Em “A favorita”, a disputa é para ver qual das duas conselheiras da Rainha Anne, continuarão ao seu lado como amantes e assessoras para todos os assuntos. E só há lugar para uma, a outra deve ser eliminada. “A favorita” é baseada em história real. No ano de 1708, Inglaterra trava uma guerra com a França. No comando da Inglaterra, se encontra a Rainha Anne ( Olivia Colman, brilhante, engordou 16 kilos para o papel). Doente e sofrendo de gota, o que a impossibilita de poder andar, Anne permite que sua conselheira, Sarah ( Rachel Weiz), dê ordens para tudo. Anne está mais preocupada com jogos e festas. Um dia, surge na porta do Castelo Abigail (Emma Stone), uma prima de Sarah que perdeu toda a fortuna da família por conta do pai viciado em jogos. Abigail pede trabalho. Acomodada na cozinha, aos poucos Abigail entende que nada melhor na vida do que o Poder. Ela descobre um chá para curar a Gota da Rainha e se aproxima dela. Aos poucos, ela vai se tornando a favorita da Rainha, e Sarah se enche de ciúmes. O elenco de apoio tem nomes fortes, como Nicholas Hault, mas não adianta: o filme é desse trio poderoso de mulheres. O filme já ganhou inúmeros prêmios, e no Festival de Veneza, levou o Grande prêmio do Juri e o prêmio de melhor atriz para Olivia Colman. Ela está antológica, e suas expressões faciais são impressionantes. Que Atriz! Há quem compare o filme a uma versão feminina de “Amadeus”, de Milos Forman. Pode até ser, no que tange ao deboche e ao humor existente em ambos os filmes. Mas Yorgos imprime a sua marca no visual do filme: quase tudo filmado em planos de grande angular, assim como ele fez em “A lagosta”. É uma ousadia estética, que sai do óbvio para o espectador comum que quer ver um épico. Mas vale assistir. Os diálogos são ácidos e cá para nós. Poder e Sexo são o prato cheio de muito filme bom.

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