segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Os desgraçados não choram

"Les damnés ne pleurent pas", de Fyzal Boulifa (2023) Que filme triste!!! O co-roteirista e cineasta marroquino Fyzal Boulifa homenageia o neo-realismo italiano e traz referências evidentes, inclusive na cena final, a duas grandes obras-primas com a prostituição como tema central: "Mamma Roma", de Pasolini, e "A snoites de Cabíria", de Fellini. O título ele pegou emprestado de um grande clássico do melopdrama protagonizado por Joan Crowford: "Os desgraçados não choram", de 1950. Tanto Crowford, Giuletta Masina e Anna Magnani estão soberbamente representadas por Aïcha Tebba, no papel de Fatima, mão do adolescente Selim (Adbellah El Hajjouji). Os dois são não atores, como era praxe do neo-realismo, e sofrem todo tipo de maus tratos da vida nesse drama pungente sobre desvalidos e desesperançosos que não possuem emprego, lar, comida, amigos. O filme concorreu em Veneza e outros importantes festivais. Mãe e filho moram em um pequeno quarto alugado com dificuldades. Desesperada, FAtima decide se prostituir. Só que o homem lhe rouba seu dinheiro e suas jóias. Fatima decide procurar ajuda com seu pai e suas irmãs, com quem ela cortou relações. Eles a expulsa, alegando que o passado de Fatima a condenou: diferente do que ela dizia a Selim, que o pai morreu, a verdade é que ela foi estuprada e por conta disso, teve que se prostituir para sobreviver, já que a família a expulsou pela vergonha. Salem consegue um emprego em uma construtora, mas seu chefe coloca Salim em contato com o francês empregador, que quer ter relacionamento com o rapaz. Salim no início recusa, mas necessitado, aceita a relação, que lhe traz benefícios. Fatima, por sua vez, conhece um motorista de ônibus que encantado com ela, a pede em casamento. O trabalho dos dois não atores é emocionante e é difícil acreditar que nunca estudaram atuação. A footgrafia da francesa Caroline Champetier é exuberante e remete aos grande smelodramas dos anos 40 e 50. As locações, filmadas em ruas da cidade de Tânger, mesclam o que a cidade tem de mais rica e mais pobre. O filme não permite a felicidade. É cruel, é um soco. Mas não deixa de pulsar encantamento pela personagem de Fatima.

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