quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Vende-se esta moto

"Vende-se esta moto", de Marcus Faustini (2017) Filme de estréia do escritor, diretor teatral e jornalista Marcus Faustini, "Vende-se esta moto"são 2 filmes em um: tem o filme com inspiração neo-realista italiana, e tem o filme poético, lúdico, algo passeando entre o Fausto, de Goethe, tentando comprar a alma de um pobre infeliz desacreditado pelo amor, e o "Orfeu negro", de Marcel Camus, com o olhar apaixonado por uma periferia infestada pela violência na vida real ( comunidades do Batan e Maré), mas que aqui na ficção só encontramos alegria, amor, sorrisos, solidariedade. Xéu ( João Pedro Zappa) e Lidiane (Mariana Cortines) moram na comunidade do Batan. Eles são jovens, eles são apaixonados um pelo outro. Xéu trabalha em uma lanchonete da comunidade que vende Yakisoba fazendo entregas de quentinhas. Ele ganha pouco, e por conta disso, não tem como sustentar a gravidez de sua namorada. Ela pede para que ele venda a moto, e ele pede ajuda ao seu primo Cadu, que mora na Maré. Mas Cadu, que já namorou Lidiane, ainda sente paixão por ela. E nessa noite, tudo pode mudar na vida desses personagens. O filme fala sobre Amor: Amor físico, do casal Xéu e Lidiane. Amor frustrado, caso do trágico personagem de Cadu. Amor ao cinema, numa participação divertida do crítico de cinema Rodrigo Fonseca. Amor pela poesia e pela literatura, no personagem de Guti Fraga. Amor pela cidade do Rio de Janeiro, verbalizada em poesia pelo personagem misterioso de Silvio Guindane, um punk das ruas. Só que a cidade apontada pelas câmeras do fotógrafo Pedro Paiva, é a do subúrbio, da periferia, a mesma onde a mídia apresenta como território de traficantes e milicianos, mas que aqui no filme, são espaços de lazer e de moradia de moradores honestos, em busca de emprego e de diversão (bailes funks pacíficos, piscinão de RAmos democrática. É um filme realizado com muito pouca grana: fosse nos Estados Unidos, o filme teria recebido o rótulo de "Mumblecore", filmes realizados com quase nada). O produtor Cavi Borges é famoso aqui no Brasil por produzir filmes nessa levada, com pouca grana mas com um selo de qualidade. Mas é exatamente essa simplicidade que seduz o espectador. A trilha sonora envolvente, apaixonante, com um olhar carinhosos sobre os seus personagens. Fiquei especialmente emocionado na sequência onde Xéu busca trabalho no Centro da cidade. Uma via crucis que envolve entrevista para office boy, para vendedor de sapatos femininos e como vendedor de um sebo. Que excelente Ator é o João Zappa: ele convence tanto como um rapaz da classe média alta em "Gabriel e a montanha", como um jovem da comunidade. Ponto alto também para a atriz Mariana Cortines, no papel de Lidiane, de Quitta (Priscila Lima), a amiga bissexual do casal, e de Vinicius de Oliveira, arrasando como o controverso e angustiado Cadu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário