quinta-feira, 21 de novembro de 2024

A fanfarra

"En fanfare", de Emmanuel Courcol (2024) Vencedor do prêmio do público no Festival de San Sebastian 2024 e exibido no Festival de Cannes, "A fanfarra" é uma dramédia do mesmo diretor de "A noite do triunfo", um comovente filme sobr eum ator fracassado que dá aula para um grupo de criminosos em uma penitenciária. Com "A fanfarra", Emanniel Corcoul retorna ao tema da fraternidade e amizade entre pessoas muiuto diferentes, mas que se unem pelo amor à arte, aqui no caso, a música. Thibaut (Benjamin Lavernhe) é um famoso maestro que tem duas decsobertas que mudam a sua vida: 1) que é portador de leucemia e precisa de um transplante urgente de medula de algum parente compatível 2) que ele é um filho adotivo. Ao fazer pesquisas, ele descobre que ele te um irmão, e que foram, separados quando crianças. Ele vai até uma cidade litorânea e que vive do proletariado, e lá ele procura Jimmy (Pierre Lottin), chef de uma cantina escolar e envolvido com um grupo de trabalhadores de uma fábrica local que está prestes a fechar. Jimmy faz parte de uma banda local tocando trombone, e junto dos colegas, pretendem participar de um concurso. Quando Thibaut o procura se apresentando como seu irmão, Jimmy fica frustrado ao entender que a sua vida poderia ter sido tão confortável quando a de Thubaut, ao invés de um pobre assalariado. "A fanfarra" mescla drama e pequenas doses de humor. Mas é difícil rir em um filme que fala sobre desemprego, greve, fome, mulheres abandonadas, morte, leucemia, sonhos frustrados, filhos problemáticos e tantos outros sub-temas que percorrem as quase 2 horas de duração. A melancolia e o tom de tristeza estão sempre percorrendo cada minuto do filme. O elenco principal e o de apoio, principalmente os integrantes da fanfarra, entregam emoção e carisma aos personagens, e o público certamente se apaixonará por todos.

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Madame Durocher

"Madame Durocher", de Dida Andrade e Andradina Azevedo (2024) A dupla de diretores Duda ANdrade e Andradina Azevendo tem uma filmografia bastante eclética, que vai do indie premiado em Gramado em 2013 com melhor direção e melhor fotografdia "A bruta flor do querer", passando pelo blockbuster 'Eike- tudo ou nada", e agora trazendo outra cinebiografia, mas com uma alma totalmente intimista e feminina. Aliados à produtora Rita Buzzar, do grande sucesso 'Olga", que também co-escreveu o roteiro junto de João Segall, os diretores levam às telas a história da primeira mulher a obter o título de parteira no Brasil e a se tornar membro oficial da Academia Nacional de Medicina, no período do Brasil Império, sob o comando de Pedro II. Ela é Marie Josephine Mathilde Durocher, mais conhecida como Madame Durocher. Interpretada na juventude por Jeanne Boudier e na fase adulta Sandra Corveloni, a protagonista passou por diversas tragédias em sua vida pessoal, mas sempre mantendo o foco nos pacientes, tendo feito o parto de mais de 4 mil mulheres. O filme mostra uma sociedade misógena, machista, patriarcal e também racista. A mãe de Marie, Anne (Marie-Josée Croze) veio ao Brasil para construir sua vida e ela se vangloria de vir de uma linhagem de mulheres que sempre batalharam a vida sozinhas e independentes, sem precisar de homens para que as sustentassem. Mas a sociedade brasileira via com maus olhos mulheres independentes. Anne sucumbe à sociedade conservadora, e cabe à sua filha Marie dar continuidade ao seu legado, decidindo se tornar parteira, com a ajuda do Dr Joaquim (André Ramiro), médico negro que sofre preconceito da sociedade branca. Os diretores decidiram dar um conceito estético ao filme muito semlehante ao filme "O filho de Saul': com planos fechadosm e câmera na mão, intensificando assim a angústia e martírio de uma mulher lutando contra um mundo que lhe dá as costas. Outra referência é "Albert Nobbs", onde Glenn Close se vestia de homem para poder se igualar aos direitos dos homens e não sofrer violência nem humilhação. A fotografia, de Andradina Azevedo, é outro ponto alto do filme. O extenso e talentoso elenco chama atenção: Armando Babaioff, Adriano Toloza, Fernando Alves Pinto, Matheus Solano, Thierry Tremouroux, Clara Moneke, Junior Vieira, entre outros. Mas quem tem seu momento de brilho é Isabel Fillardis, no papel da escrava Clara: o seu monólogo para Marie é emocionante e traz a força de uma grande atriz que merece mais papéis de destaque.

Continente

"Continente", de Davi Pretto (2024) Prêmio de melhor direção na Mostra novos rumos do Festival do Rio 2024, "Continente" é dirigido pelo porto alegrense Davi Pretto, diretor dos premiados "Castanha" e "Rifle". Com 'Continente", Pretto investe no cinema de terror, mas mantém o seu olhar para as paisagens e a solidão do ser humano diante de um mundo inóspito e vasto. Com referências a 'Grave", de Julia Ducournau, e semelhanças com os recentes brasileiros "Propriedade" e "Cidade campo", todos investindo no cinema de gênero como metáfora para falar das lutas entre patrão e proletariado e a luta de classes, "Continente" traz como protagonista Olívia Torres, em alta no cinema brasileiro com o drama "Ainda estou aqui", de Walter Salles. Olívia interpreta Amanda, filha do fazendeiro Afonso (Anderson Vieira). Ela retorna da frança com seu namorado francês Martin (Corentin Fila), após receber a notícia que seu pai está muito doente. Eles seguem até a fazenda de Afonso, no sul do País. Chegando lá, eles são recebidos pelos empregados da fazenda, que temem a morte de AFonso. A médica da região, Helô (Ana Flavia Cavalcanti), sofre pressão dos empregados para curar Afonso, pois dependem dele para curar uma "doença" que todos são acometidos. Helô propõe m remédio paliativo, mas as pessoas não querem. À medida, que Afonso vai convalescendo, Amanda vai sentindo uma força dentro dela que ela desconhecia, deixando Martin preocupado. O filme é uma saga sobre vampiros e herdeiros bem ao estilo do novo cinema de terror: usando o gênero para falar de temas sociais. a 1a e. a 2a parte do filme são mais focados no drama, com alguma estranheza, e somente no ato final, o filme investe no terror, e memso assim, de forma bastante estilizada, como a um ritual de iniciação. A fotografia de Luciana Baseggio é muito boa, trazendo uma ótima ambientação de pesadelo eminente. O elenco, formado boa parte por atores do sul, formam um talentoso núcleo de tipos e personagens, trabalhando com muia densidade as angústias dos empregados locais. Olívia Torres prova ser uma das melhores vozes da nova geração de atrizes brasileiras, transitando muito bem no terror, exalando sensualidade e drama à sua personagem.

Self destructive boys

"Self destructive boys", de Marco Leão e André Santos (2018) Premiado curta LGBTQIAP+ português, "Self destructive boys" é um filme repleto de homoerotismo, malícia e sensualidade, mostrando corpos nús masculinos em nudez total. O filme tem como referência os sites onde rapazes heteros fazem cenas de sexo com outros homens por dinheiro, os chamados "gay for pay". Sites como "broke straight guys" escalam rapazes heteros para saciar os fetiches do público gay que quer ver heteros fazendo sexo. A partir dessa premissa, o site "Self destructive boys", conduzido pela dupla de diretores pornôs Victor Gonçalves e Nuno velasco escalam rapazes em audições, que topem fazer sexo com outros homens por dinheiro. Miguel (João Mota), Antonio (João Veloso) e Xavier (Miguel Cunha) são os escolhidos e seguem para uma filmagem na floresta, próximo à uma cachoeira. Após sessão de fotos, os 3 rapazes se preparam para gravar a cena de sexo. Durante o ensaio, Miguel não se sente à vontade e decide sair para mijar. Enquanto isos, todos os outros aguardam o seu retorno. Filmado com muito improviso e bastante naturalidade, o filme diverte com momentos engraçados e também faz refletir sobre o quanto as pessoas decidem fazer qualquer coisa por dinheiro. O tema da macsulinidade é apresentado como uma pauta a ser quebrada, mas que ainda sofre resistências em quem teve uma criação estritamente conservadora.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

In camera

"In camera", de Naqqash Khalid (2023) Premiado drama inglês, escrito e dirigido por Naqqash Khalid em seu filme de estréia. O filme apresenta o protagonista Aden (Nabhaan Rizwan), um jovem ator inglês, filho de paquistaneses. Aden vive a rotina de fazer audições para vários filmes, mas por conta de sua fisionomia, ele não passa em nenhum. Nos cursos que ele frequenta para aprimorar a sua atuação, ele se destaca em relação aos atores brancos. Tudo o que ele consegue são pontas fazendo papéis irrelevantes (o filme começa mostrando Aden interpretando um cadáver). Aden divide seu apartamento com o jovem médico Bo (Rory Fleck Byrne), que também vive a pressão da sua profissão, e com o designer de moda Conrad (Amir El-Masry), que arrume uns bicos para Aden como modelo nas fotos. mas Aden acaba sendo contratado por um grupo de terapia, para dar vida aos parentes falecidos dos pacientes, e acaba se envolvendo na vida de um casal de terceira idade enlutado pela morte do filho. Em diversos momentos o filme me fez lembrar de "La la land", com Emma Stone fazendo audições em salas com diversas sósias vestidas exatamente iguais. O filme procura lidar com a pressão profissional de uma geração na faixa dos 30 anos, que ainda não conseguiu um espaço na carreira. A carreira do ator é apresentada no filme de uma forma cruel, com uma forte concorrência e também, no caso de Aden, com preconceito e xenofobia, independente do talento do ator. O filme começa como uma comédia, mas vai entrando em um campo bastante dramático e às vezes, parecendo ser um filme de Spike Jonze. Eu memso fiquei na dúvida se os dois colegas de apartamento de Aden eram reais, ou delírios de sua mente. O ator Nabhaan Rizwan está excelente no papel, e por ele vale a pena assistir ao filme, mesmo que o final seja sme lógica alguma.

Uma cama para três

"Ein Bett für Drei oder die außergewöhnliche und überraschende Komplexität von Schlafzimmermöbeln", de Jan-Peter Horstmann (2023) Comédia alemã LGBTQIAP+, "Uma cama para três" é um curta que apresenta um trisal: 3 homens gays que vivem um relacionamento decidem morar juntos. A primeira providência para Fred (Patrick Güldenberg), Timo (Jan Andreesen) e Jona (Chris Swientek) é comprar uma cama grande que caibam os 3 juntos. Eles são atendidos pela vendedora Bettina, que consegue uma cama king size que é o sonho de consumo deles. Mas com a rotina da divisão da cama, o relacionamento vai se deteriorando. Eles ligam para a loja querendo devolver a cama, mas Betina propõe que eles tentem novas formas de diversão na cama. O filme é de 2023, mas todo o seu visual, tanto figurino , quanto caracterização e direção de arte, além da footgrafia retrô, remetem a um tipo de comédia alemã dos anos 90, como as de Doris Dorrie. Cafona no visual e divertido na trama, "Uma cama para três" propõe discutir o relacionamento entre 3 pessoas que se amam, mas que não conseguem dividir a mesma cama.

Família nuclear

"Famille nucléaire", de Faustine Crespy (2020) Premiado curta belga, "Família nuclear" é totalmente rodado em Waimes, Bélgica, um conhecido acampamento para nudistas. É lá que o jovem Jules (Louka Minnela), 18 anos, vai passar o final de semana com seu irmão pequeno e sua mãe, Adele (Catherine Grosjean). Adele é depressiva e alcoolatra, e perambula totalmente nua pelo acampamento e também por áreas ond eé proibido circular sem roupa. Cansado de ter que segurar a onda de sua mãe, Jules decide caminhar pela praia. É quando conhece Karim (Syrus Shahidi), um belo enfermeiro que trabalha colhendo sangue de voluntários na praia. Karim se torna o primeiro amor de Jules, mesmo que platonicamente. Um filme que lida com 2 temas que sufocam Jules: a depressão de sua mãe, e o primeiro amor por um outro homem. Filmado com delicadeza por Faustine Crespy, o filme lembra um pouco o frescor dos primeiros filmes de Xavier Dolan, apresentando a relação conflituosa entre mãe e filho, mesclados ao desejo do amor juvenil.

Férias trocadas

"Férias trocadas", de Bruno Barreto (2024) Premiado no Festival de cinema da Lapa 2024 com os prêmios de melhor filme do público e de fotografia, para Carina Sanginitto, "Férias trocadas" foi escrito por Bia Crespo, Juliana Araripe e Ricky Hiraoka. O filme é uma comédia que brinca com as situações envolvendo 2 famílias: uma pobre, e uma rica, e como através de diversos momentos de redenção e de reconexão familiar, ambas as famílias entendem que o mais importante é o amor da família, acima de qualquer luxo proporcionado pelo dinheiro. Edmilson Filho, astro de "Cine Holliudi", interpreta o patriarca das 2 famílias: Zé, casado com Suellen (Aline Campos) e pais de Romária (Klara Castanho), uma blogueira. Eles ganham passagens para uma temporada em Cartagena, mas para um hotel afastado e bem simplório. Edu é casado com Renata (Carol Castro) e pais do influencer João (Matheus Costa). Por uma confusão na chegada ao aeroporto da Colômbia, as duas famílias acabam sendo confundidas e trocam de hotel. Edu e família seguem para o bangalô, e Zé e família seguem para o hotel 5 estrelas. O recepcionsta do hotel, Micael (Gustavo Mendes), desconfia de Zé. Kaluma (Flavia Garrafa), uma hipponga, recebe Edu e família no bangalô. A nova realidade de ambas as famílias as transformam, para o bem e para o mal, e Edu parece ser o único desconfortável em ser pobre. Repleto de valor de produção, pelas belas locações, cenas aéreas e marítimas e pela fotografia super colorida, o filme traz situações óbvias que todo espectador sabe como vai terminar. Mas é justamente essa lição de moral proposta pelo filme que agrada e diverte o público, um passatempo totalmente sessão da tarde, com direito a porradaria e muitas confusões. O fato de Edmilson Filho interpretar os dois personagens acaba não sendo epxlorado pelo roteiro, pois não há cenas onde as pessoas o confundem com o patriarca da família alheia. O elenco todo está ótimo, e certamente, se divertiram bastante nos bastidores.

Oasis

"Oasis", de Joshua Longhurst (2016) Premiado curta LGBTQIAP+ australiano, "Oasis" se ambienta em 1993, na Austrália. O adolescente tímido Dale Fielding (Alex PAckard) está escondido em um banheiro público de um acampamento de trailers. Quando o mochileiro Jake (Chris Dingwall) entra no vestiário, Dale sai do banheiro e começa a puxar asusnto com Jake. Jake tira a roupa e toma banho no chuveiro. Sem que Jake veja, Dale tira uma foto do rapaz pelado com sua câmera. Ao sair do banheiro e fazer a barba, Jake percebe a câmera e repreeende Dale, que sai envergonhado. "Oasis" é um filme repleto de homoerotismo e que fala sobre desejos e tesão de um adolescente queer reprimido e que cria toda uma fantasia em cima de seu crush. Belamente fotografado, com cores que lembram os filmes de Wong Kar wai, o desfecho traz uma bela mensagem de aceitação.

O caminho da serpente

"Le chemin du serpent", de Kiyoshi Kurosawa (2024) Concorrendo no Festival de San Sebastian 2024,"O caminho da serpente" é um remake do filme dirigido e escrito pelo mesmo cineasta japonês Kiyoshi Kurosawa, lançado originalmente em 1998. Nessa nova versão de 2024, Kurosawa sobstitui a co-protagonista por uma mulher (no original era um homem pertencente à Yakuza). Co-produzido por Japão e França, "O caminho da serpente" foi rodado em Paris e apresenta uma trama de vingança. Kurosawa lançou em 2024 3 longas: "Chime", "Cloud" e esse remake. Um homem, Albert (Damien Bonnard) e a sua psiquiatra, a japonesa Sayoko (Kô Shibasaki), sequestram um contador de uma empresa, Laval (Mathieu Amalric). Eles o aprisionam e o torturam. Albert apresenta um vídeo onde mostra a sua filha Marie, de 8 anos. Ela foi morta há uma semana, e encontrada sem os orgãos internos. Albert acredita que Laval faz parte de um clube onde crianças são vendidas e tem seus orgaos contrabandeados, além de terem os vídeos gravados e comercializados. Albert e Sayoko sequestram outros homens pertencentem ao clube, e igualmente os torturam, até descobrirem a verdade. O filme tem uma trama confusa, e o ritmo é bem lento e arrastado. Mas traz um pano de fundo bastante sinistro, que é o assassinato de crianças sequestradas e comercializadas por um tráfico internacional. O elenco é composto por grandes nomes do cinema francês, como Grégoire Colin, no papel de um dos suspeitos, Pierre Guérin, e também do cinema japonês, como Hidetoshi Nishijima, protagonista de 'Drive my car" e interpretando um dos pacientes de Sayoko, Yoshimura. Um bom filme, mas bem distante dos cults "Pulse"e "A cura".

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Thirstygirl

"Thirstygirl", de Alexandra Qin (2024) Concorrendo em Sundance, Denver e San Francisco, "Thirstygirl" é um relato autobiográfico da roteirista e cineasta Alexandra Qin. O filme fala sobre viciados em sexo (Charlie, alter ego de Alexandra) e suicídio na adolescência e depressão, através da personagem de Nic. O filme é denso e tem um tom bastante dramático, e fala sobre as doenças mentais que as irmãs carregam. Charlie (Samantha Ahn) e Nic (Claire Makenzie) atravessam de carro para chegar até um estado aonde Nic deverá se internar. A convivência 24 horas com a irmã mais nova deixa Charlie numa situação bastante constrangedora e angustiante: ela é viciada em sexo, e em qualquer oportunidade de parar em algum posto, ela se masturba mo banheiro. Quando Nic pede para jogar boliche, Charlie observa o ambiente, repleto de homens, e se desespera. O vício retrata com bastante crueza o vício que Charlie possui, deixando-a em crise de abstinência, ao ponto de se masturbar ao volante enquanto sua irmã dorme na poltrona ao lado. As duas atrizes estão muito bem, e traz protagonismo asiático. A fotografia de Fletcher Wolfe e o aspect ratio 4:3 ajudam a dar um tom mais claustrofóbico ao filme.

Paper

"Paper", de Charles Wahl (2024) Angustiante drama canadense dividido em 3 histórias que se entrecruzam, no melhor estilo de Paul Higgis em "Crash". As três histórias giram em torno de um círculo vicioso de quem está com dívidas e a sua relação com os cobradores. A idéia para o filme veio para o roteirista e diretor Charles Wahl quando ele conhecer um cobrador de dívidas, e ficou impressionado com a violência que os cobrdaores usam para cobrarem os devedores. Ms Howard (Kaelen Ohm) é uma viuva , mãe de 2 filhos pequenos. Ela deve à escola das crianças e está sendo cobrada de todos os lados. O Agiota, Max (Shaun Majumder), cobra Howard insistentemente até que decide levar o carro dela. Howard implora, mas Max é irredutível. Ele trabalha em uma empresa de emprestimos cujo lema é não ceder às histórias tristes dos devedores. Acontece que Max é um viciado em jogos online e está repleto de dívidas, com empréstimos feitos à uma agiota. Stick (Hugh Thompson) é o cobrador que age de forma violenta, e que vai até Max para cobrar dele. O filme é bem dirigido e possui uma excelente edição, que faz com que as histórias fluam organicamente e sem perder ritmo. O desfecho reserva uma surpresa, e revela que mesmo debaixo de toda uma truculência, muitas vezes se econde um ser humano com compaixão.

Cloud

"Kuraudo", de Kiyoshi Kurosawa (2024) Em 2022, o Japão ganhou o Oscar de filme internacional com "Drive my car". Agora, o país indicou o drama de ação "Cloud", do renomado diretor Kiyoshi Kurosawa para uma vaga ao Oscar de filme internacional 2025. É um risco muito grande, uma vez que o filme não tem o perfil dos acadêmicos: é um thriller de ação, com um 3o ato repleto de tiroteios e morte, no melhor estilo Tarantino ou Takashi Miike. Diferente de seus grandes filmes, "Pulse" e "A cura", cults do terror fantástico, "Cloud" é uma crítica ao mundo da venda de produtos online que resultam em ação de vigaristas que enganam os consumidores. Yoshii (Suda Masaki) é um jovem ambicioso que trabalha em uma fábrica, sem perspectivas de ascender na empresa. Para ganhar um dinheiro extra, Yoshii compra produtos de baixa qualidade e os revende como se fossem premium. A namorada de Yoshii, Akiko (Furukawa Kotone) descobre que Yohsii vive de golpes, mas ela não se opõe. Para ajudá-lo, Yoshii contrata o jovem Sono, que tem um segredo. Mas logo os compradores enganados decidem se unir e localizar Yoshii, para se vingarem dele. O filme é longo e tem um ritmo bem arrastado. A primeira metade do filme acompamhamos a rotina de Yoshii com sua namorada e Sono, e as vendas online. A 2a metade, concentra nos compradores e o ato final é a vingança repleta de porradaria e tiros. O filme é bom, mas não está entre os melhores filmes de Kurosawa. O filme concorreu no prestigiado Festival de Sitges.

Verdade ou desejo?

"Verdade ou desejo?", de Eduardo Albino e Mauro Carvalho (2024) Quem nunca teve um sonho erótico com o seu crush? Pois Lucas (Caio FLiper) e Diego (Luigi Calduch) são dois colegas de faculdade que decidem estudar juntos na casa de Lucas. Sozinhos, no quarto, eles acabam se entregando a jogos eróticos, através do jogo "verdade ou consequência". Mas alguém toca a campainha, e Lucas fica na duvida se atende ou se continua no jogo do prazer com Diego. Um roteiro simples mas bastante divertido, com os dois atores se entregando a um jogo de muita sacanagem e humor. Um filme de orçamento bem modesto, mas que resulta em um passatempo agradável e sensual.

Hey you

"Hey you", de Jared Watmuff (2019) Uma denúncia contra os crimes de homofobia ocorridos na Rússia, "Hey you" é um filme que, através da montagem, engana o espectador. Dois homens se conectam via Grindr na mdrugada. Eles marcam encontro. Porém, um dos homens mora em Londres, e o outro, na Chechênia, Rússia. Um terá uma noite de sexoe. prazer. Outro, encontrará a sua morte através de um encontro fake com um grupo de homofóbicos. COm roteiro e direção de Jared Watmuff, esse filme inglês traz um alerta para os encontros que a comunidade queer marca através de apps, sem qualquer tipo de cuidado ou segurança. E aproveita para denunciar a Rússia como um dos países que mais cometem crimes contra pessoas Lgbt. Um filme sombrio e trágico.

A fold in my blanket

"Chemi sabnis naketsi", de Zaza Rusadze (2013) Concorrendo no Festival de Berlim e vencedor do prêmio de melhor filme no Queer Lisboa, "A fold in my blanket" é um filme da Georgia que traz elementos de surrealismo na sua narrativa. O filme se passa em uma época atemporal, mas parece se ambientar em um país dos anos 70, ainda no regime comunista. Dmitrik (Tornike Bziava) retorna de um período de estudos em Londres para a sua cidade natal. Ele trabalha com seu pai, um poderoso juiz no tribunal da cidade. Dmitrij enfrenta uma rotina entendiante, onde pouco acontece de excepcional em sua vida. Em casa, ele divide o espaço com eus pais e sua tia que sofre de Alzheimer. Para fugir do tédio, Dmitrij escala montanhas em seu tempo vago. Um dia, ele conhece um rapaz, Andrej, com quem forma uma amizade, além de dividirem o hobby do alpinismo. O filme sugere uma trama queer, mas não acontece nada na narrativa que possa indicar um relacionamento homoafetivo entre Dmitrij e Andrei. Um típico caso de queerbaiting, onde o filme é vendido para atrair um público queer. "A fold in my blanket" é um filme hermético, sem uma lógica, que parece caminhar por delírios do protagonista, mas nada fica explicado. Apresentado em sketches, conduzidos por personagens paralelos, certamente o único atrativo é a beleza dos dois atores que interpretam Dmitrij e Andrei.

C'est pas moi

"C'est pas moi", de Leox Carax (2024) Exibido nos festivais de Cannes e San Sebastien, "C'est pas moi" é um manifesto político e cultural realizado por Leos Carax, cineasta francês famoso pelos filmes "Mauvais sang", "Os amantes da Ponte Neuf" e "Holly motors". Frequentemente associado a um cinema provocativo e em busca de novas linguagens, Carax faz de "C'est pas moi" uma video-colagem, um video arte repleto de imagens decsonexas, letreiros enormes que aparecem com intertítulos, uma narrativa já realizada por Godard em diversos filmes. O filme foi realizado quando o Museu de Pompidou decidiu fazer uma exposição pelos 40 anos de filmografia de Carax, e mediante uma pergunta provocativa: "Onde você está Carax?". O filme tem referências cinematográficas ( Hitchcock, Jean Vigo, etc), referências políticas (nazismo), trechos de seus filmes e claro, o seu alter ego Mister Shitt Denis Lavant, ator de quase todos os seus filmes. É experimental e não é para todos os gostos. Eu particularmente não gostei, talvez o filme funcione melhor como uma instalação em um museu, como foi a proposta, do que como filme.

domingo, 17 de novembro de 2024

A casa

"La casa", de Álex Montoya (2023) Vencedor dos prêmios da crítica, do público e de melhor roteiro no Festival de Málaga, "A casa" é adaptação da graphic novel de Paco Rosa, a partir de elementos autobiográficos. Após a morte de Antonio, pai de José, Vicente e Carla, os irmãos se reencontram e decidem vender a casa construída pelo pai e que traz muitas memórias. Ali, os irmãos cresceram, viveram com o pai e a mãe até a morte dela. O pai acabou vivendo sozinho, e muito esporadicamente, os filhos vinham visitá-lo. Agora, os irmãos decidem passar o final de semana com seus familiares e assim, se despedir da casa que traz boas recordações e alguns segredos. José (David Verdaguer) se tornou escritor e vem com sua esposa. Ele é o mais novo dos irmãos. Vicente (Óscar de la Fuente) vem com sua esposa e filhos e é o workhaholick da família. Carla (Lorena Lopez) procura trazer união entre os irmãos, mas sabe que é difícil. O filme lembra "Morangos silvestres", de Bergman, ao trazer as memórias dos irmãos sendo reconstituídas com imagens deles mais jovens, na presença dos pais em diversas idades. É um filme sensível, comovente e traz um olhar sobre a morte de pessoas queridas de forma natural, sem sensacionalismo. os atores são muito bons, e a edição, mesclando épocas distintas, mistura formatos de tela para ajudar o espectador e entender melhor as transições temporais.

O Roteiro da Minha Vida – François Truffaut

"Le Scénario De Ma Vie - François Truffaut", de David Teboul e Serge Toubiana (2024) Exibido no Festival de Cannes 2024, "O Roteiro da Minha Vida – François Truffaut" é um documentário que certamente cinéfilos e apaixonados pelo cinema de um dos precursores da Nouvelle Vague irão assistir. O filme contém trechos de quase todos os seus filmes, e ainda traz segmentos referentes ao livro que escreveu sobre o cinema de Hicthcock e sobre a sua participação como ator em "Contatos imnediatos do terceiro grau", de Spielberg, grande fã do cineasta francês. Falecido prematuramente aos 52 anos em 1984, Truffaut dedicou a sua vida ao cinema, seja filmando, ou admirando os filmes de outros cineastas, a quem deicou muitas críticas enquanto escrevia pra "Cahiers do cinema". O filme é baseado em correspondências com familiares, colaboradores e amigos, e abre a vida de Truffaut narrando as rusgas de família, a sua insatisfação na convivência com seus pais, a sua admiração e apadrinhamento pelo crítico André Bazin, a sua relação com sua primeira esposa, Margareth, e o seu amor pelas 2 filhas. O filme se esquiva em falar de seu relacionamento com Fanny Ardant, estrela de alguns de seus filmes e com quem viveu até a sua morte. O filme dedica grande parte para "Os incompreendidos", considerado um filme autobiográfico, mas a carta de seus pais deixam clara a insatisfação deles de se verem retratados como pais omissos. Amei a declaração de Truffaut em relação ao trabalho de atriz de Catherine Deneuve, uma atriz que ele admira muito, assim como Jeanne Moreau. O filme é um grande presente para amantes do cinema: ainda assim, é cansativo e monocórdico, ele é narrado o tempo inteiro por diversas vozes.

As três filhas

'His three daughters", de Azazel Jacobs (2023) O tema sobre irmãs que se reecontram após a morte de um parente já trouxe excelentes dramas com atrizes excepcionais, como "Crimes do coração", com Jessica Lange, Diane Keaton e Sissy Spacek, e "A partilha", do texto de Miguel Falabella, com Gloria Pires, Andrea Beltrão, Lilia Cabral e Paloma Duarte. Em "As três filhas", as atrizes Carrie Coon, Natasha Lyonne e Elizabeth Olsen se reencontram, cada uma com a sua personalidade e afastadas pelo ressentimento e pelos diferentes temperamentos. Eu nte me lembrei também da peça de Mauro Rasi 'A cerimônia do Adeus": em uma casa, ficamos sabendo que o pai está gravemente enferno no seu quarto, mas nunca o vemos ( aqui, ele surge no final, após muita expectativa). O filme é bastante teatral, focado em boa parte de sua duração dentro do apartamento ond emorava o pai. Rachel (Natasha Lyonne) era quem morava com o pai durante a sua fase terminal. Christina (Elizabeth Olsen) deixa seus filhos e marido e viaja para a casa de seu pai. Catie (Carrie Coon) mora em Nova York mas raramente visitava o pai e a irmã Rachel. O reencontro das irmãs irá botar em pauta as angústias, medos e frustrações das irmãs, enquanto o pai convalesce no quarto. Diferente do que poderia se esperar, o filme traz um fino humor bem distante. Fosse Woody Allen o diretor e roteirista, o reusltado final certamente teria sido mais ácido e rancoroso, mas sempre dosado com humor. Em "As 3 filhas", o diretor e roteirista Azazel Jacobs torna a história mais dramática, mais cruel. O filme rende uma peça teatral espetacular, com 3 atrizes e mais uns 3 atores masculinos: o médico, o namorado de RAchel e o pai, no final. Para quem busca um bom drama com performances matadoras, esse filme é uma ótima pedida.

Blind spot

"Blindsone", de Tuva Novotny (2018) Vencedor do prêmio de melhor performance feminina para Pia Tjelta, no papel da protagonista Marie no intenso drama norueguês sobre doenças mentais e suicídio "Blind spot". Escrito e dirigido pela cineasta Tuva Novotny, o filme é rodado em um único plano sequência real, sem cortes falsos. Li no Imdb que foram rodados 3 takes, e foi utilizado o 2o take. Mas o fascínio pela técnica do plano sequência, que de fato, possui momentos impressionantes de movimentos de câmera e de marcação de atores, esconde uma grande armadilha: os tempos mortos, onde absolutamente nada acontece. E fica a pergunta: qual a real necessidade de ter rodado esse filme em plano sequência? Bom, certamente a diretora quiz passar ao espectador a sensação d etempo real, entre um fato trágico e o desfecho, e entre esse momento, apresnetar ao público o excelente trabalho do elenco, forçado a vivenciar a história em tempo real, tendo que estar cem por cento ativo em cena. Mas ainda assim, fico com a impressão de que o filme poderia ter sido mais potente se tivessse sido decupado em planos. Thea (Nora Mathea Øien) é uma adolescente de 13 anos que retorna da escola após um treino de handebol. Chegando em casa, ela dá boa noite para sua mãe, Marie(Pia Tjelta), para seu irmão menor, lancha e vai até seu quarto, escrevendo no diário. Depois, ela se joga da janela. Marie decsobre a tentativa de suicídio e se desespera, correndo até o térreo e encontrando a filha desacordada e machucada. Ela grita por uma ambulância, acionada por vizinhos. Marie, em choque, acompanha a a filha até o hospital, onde são recebidos pelo enfermeiro Martin ( Oddgeir Thune), que tenta acalmar Marie. Anders (Anders Baasmo) é chamado e chega ao hospital. Em surto, Anders desmaia. A noite reserva segredos de família que serão decsobertos por Martin. O grande acerto do filme é a escalação do elenco, todos excelentes. A narrativa também chama atenção, ao começar o filme em um cotidiano comum e subitamente, o ato de suicício, sem qualquer planejamento. O tema do suicidio juvenil precisa e deve ser discutido, mas aqui infelizmente temos poucas informações sobre Tea e seus reais motivos para cometer o suicídio. Um filme denso, depressivo e que não pode e nem deve sre assistido por ninguém que possa vir a ter gatilhos emocionais.

sábado, 16 de novembro de 2024

Compulsus

"Compulsus", de Tara Thorne (2022) Drama de vingança escrito e dirigido pela cineasta Tara Thorne, "Compulsus' é um filme indie canadense inspirado em "Thelma & Louise" e no movimento #Metoo. O filme, protagonizado por mulheres, apresentam personagens masculinos sem rostos, ecsondidos em capuzes e filmados de costas. Nesse mundo onde o homem é metaforicamente representado como tóxicos , abusivos e violentos, resta às mulheres contra-atacarem e se defenderem, já que a sociedade e os governantes parecem não dar muito atenção à violência feminina e feminicídios. Wally (Leslie Smith) e uma poetisa que, durante uma conversa com mulheres, escuta casos onde aos homens sempre saem bem em relações abusivas contra as mulheres. Cansada de escutar as histórias e em todas, os homens nunca são punidos, Wally decide ela ser a justiceira, caçando homens. Wally faz anúncios pela cidade pedindo às mulheres que, anonimamente, denunciem os homens. Ao mesmo tempo, Wally começa a namorar Lou (Kathleen Dorian), que não suspeita que sua namorada é uma mulher que caça homens pelas ruas. O tempo todo me lembrei do filme com Carey Mullighan, "Bela vingança", que tem um tema bastante parecido. Mas "Compulsos" tem um orçamento ínfimo, e essa falta de estrutura orçamentária é bem nítida na tela: simples, elenco mínimo, e muito diálogos. Falta ação e tensão, e as cenas de ataque são bem pobres. Fica a mensagem de sororidade no final, que vai falar bem ao público feminino.

Goodrich

"Goodrich", de Hallie Meyers-Shyer (2024) Comédia dramática escrita e dirigida pela cineasta e roteirista Hallie Meyers-Shyer, "Goodrich" é um filme indie protagonizado por Michael Keaton e Mila Kunis, como pai e filha em crise de relacionamento. Keaton é Andy Goodrich, um galerista até então bem sucedido, que mora com sua 2a esposa, Naomi (Laura Benanti), mais nova do que Andy e mãe de dois filhos pequenos gêmeos, Billy e Mose. Naomi avisa para Andy que irá se internar em uma clínica de rehab por 90 dias, e se irrita com Andy por ele nem sequer perceber que ela não estava bem emocionalmente, e conclui dizendo que quer se divorciar dele. Com a galeria passando por grave crise financeira e sem saber administrar a rotina dos dois filhos sozinho, Andy liga para Grace (Mila Kunis), sua filha de 36 anos, que se afastou do pai quando ele se dedicou mais ao trabalho do que à ela e à sua mãe. Grace está grávida, casada com o médico Pete. Andy vê a chance de se reconectar com Grace, e aos poucos, Grace vai cedendo ao pai. Um filme sensível e comovente, com atuações preciosas de Michael Keaton e Mila Kunis. Pena que filmes indies como esse nem sequer são cogitados para as indicações ao Oscar. Keaton, especialmente, está muito bem em camadas pouco vistas em seus outros trabalhos. Ele se emociona, faz belas cenas de drama e dosa bem o humor. Um feel good movie de primeira linha.

Pit stop

"Pit stop", de Yen Tan (2013) Concorrendo nos prestigiados Festivais de Sundance e SXSW, dedicados ao melhor do cinema independente, "Pit Stop" é dirigido pelo cineasta da Malásia radicado nos Estados Unidos Yen Tan, que também escreveu o roteiro. O filme me lembrou bastante do argentino "Medianera: o amor na era digital", de Gustavo Taretto, como se fosse uma refilmagem LGBTQI+ do mesmo. "Pit stop" é ambientado em uma pequena cidade próxima a Austin, Texas, e os encontros via aplicativos são marcados em um posto de gasolina. É um drama bastante melancólico sobre pessoas solitárias na faixa dos 40 anos e que não conseguiram manter um relacionamento, deixando a todos deprimidos e sem perspectiva de futuros relacionamentos. Gabe e Ernesto são os protagonistas, mas assim como "Medianera", só irão se conhecer nos 14 minutos finais. Els não se conhecem e cada um deles vive um relacionamento conturbado. Gabe vive com sua ex-esposa, Shannon, e sua filha. Ele decidiu morar com elas por conta da educação da filha. Ao se revelar gay para sua esposa, Gabe acabou tendo um relacionamento tóxico com um outro homem que o deixou bastante abalado. Ernesto, por sua vez, mora com Luis, um rapaz bem mais jovem que ele, mas que não busca por emprego nem estudos, ficando às custa de Ernesto. O filme, curiosamente, apresenta paralelamente as histórias de Shannon e Luís com seus novos pretendentes. Isso para poder dar tempo de encaminhar a história até seu desfecho, quando Gabe e Ernesto finalmente se conhecem. "Pit stop" é um retrato bastante contundente de pessoas solitárias e que apresentam problemas de relacionamento. Em uma divertida cena, Gabe marca um encontro com um professor e o leva para assistir a um filme francês. O professor dorme o filme todo e Gabe se frustra. Os atores são todos muito bons. Gostei bastante do filme, um exemplo de produção de baixo orçamento realizado com muito talento por toda a equipe e elenco.

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Homens maus

"Bad hombres", de John Stalberg Jr. (2023) Excelente drama de ação escrito e dirigido por John Stalberg Jr., o filme faria os irmãos Coen ficarem orgulhosos desse universo de homens maus e anti-heróis que apenas desejam um lugar ao sol, mas encontram drogas e dinheiro em seu caminho. O imigrante equatoriano Felix (Diego Tinoco) chega aos Etados Unidos em busca de trabalho. Ao entrar em uma lanchonete, ele cruza seu caminho com Donnie (Luke Hemsworth), um tipo mau encarado que lhe oferece trabalho. Donnie pede que ele arrume uma outra pessoa para o serviço pesado. Felix encontra um imigrante silencioso e mau humorado do lado de fora, Alfonso (Hemky Madera), que topa a empreitada. Logo os dois descobrem que o serviço é sujo e que eles devem cavar covas para enterrar traficantes. Após um tiroteio, Feliz e Alfonso fogem com o carro que está repleto de dinheiro. Feliz leva um tiro na perna durante a fuga. Os traficantes sobreviventes vão ao encalço da dupla, e quem se mete no caminho dos traficantes, morre. Com ótimas cenas de ação e uma violência brutal, o filme e tenso do iníio ao fim. Os atores interpretam arquetipos de filmes de ação e estão todos divertidos, no contraste de mcoinhos e bandidos. Confesso que morri de pena da morte de uma mulher em sua casa, uma cena muito bem construída, onde pouco se vê mas muuito se entende a violência sofrida por ela.

Gladiador II

"Gladiator II", de Ridley Scott (2024) Quando em determinada cena, uma luta é feita dentro de uma arena repleta de água, com batalha naval e tubarões assassinos, pensei que Ridley Scott ligou o botão do "That's enterteinment" e só quer divertir o seu público. E cenas como essas existem aos montes: tem rinoceronte, macacos sanguinários e muitas, muitas intrigas, traições e 3 vilões dos mais malvados que você terá visto recentemente no cinema, só comparados ao Joffrey Baratheon de "The game of thrones". Yem Denzel Washington ardiloso e perverso, como o comandante dos gladiadores que almeja o Poder; e tem os jovens irmãos imperadores, interpretados com prazer por Joseph Quinn e Fred Hechinge, nos papéis de Geta e Caracalla. 25 anos depois do primeiro filme, quando o jovem Lucius teve que fugir para não ser morto, e enviado por sua mãe Lucilla (Connie Nielsen), irmã do Imperador para bem longe, Roma é governada pelos irmãos Geta e Caracalla. Lucius (Paul Mescal) se esconde sob um pseudônimo e está casado com a jovem Arishat. Após o exército do soldado romano Acacius (Pedro Pascal invadir o país onde Lucius e Arishat moram e lutam com soldados, Lucius e os sobreviventes são feito prisioneiros e levados até Roma, para lutarem no coliseu. Macrinus (Washington) encontra em Lucuius o gladiador ideal para usá-lo em seu plano de tomada de poder, mas não contava com a força e honra do gladiador, que decide seguir a linhagem heróica de seu pai Maximus. "Gladiador 2" é daqueles cinemas pipocas que poucos cineastas, como Ridley Scott, conseguem proporcionar ao seu público, afeito a um cinema clássico e que se baseia em uma ótima trama repleta de heróis e vilões por quem o espectador fica torcendo. Tem muita violência, tem mortes que farão o público ficar triste. E tem um desfecho arrebatador. Paul Mescal está excelente no papel protagonista, trazendo sensualidade e muitas camadas de emoção ao personagem. Mas Denzel é quem rlouba todas as cenas em que aparece. Lembra muito o personagem que interpretou em "A tragédia de Macbeth", aquele tipo vilanesco delicioso que somente com um olhar e um sorriso de canto de boca, já prova que ele é um dos maiores atores dos últimos tempos.

O clube das mulheres de negócios

"O clube das mulheres de negócios", de Anna Muylaert (2024) Vencedor do prêmio especial do juri no Festival de Gramado 2024, "O clube das mulheres de negócios" é uma alegoria social, política e de discussão de gênero e diversidade de Anna Muylaert, que co- escreveu junto de Gabriel Domingues e Suzana Pires e o dirigiu. Seu último longa ficção foi 'Mãe só há uma", de 2016, e ali Muylaert já abria uma provocação sobre orientação sexual em uma relação familiar. Em um mundo distópico, as mulhers e os homens invertem as suas posições e papéis: as mulheres são corruptas, abusivas, assediadoras, portam armas, falam palavrões, amam o poder. Aos homens, cabe o papel da figura submissa, "frágil" e sempre em segundo plano, além de serem os maridos troféus, ou expostos sexualmente, usando shorts e barrigas de fora. Em um clube localizado em São Paulo, mulheres se encontram e discutem o Poder entre elas. Casa uma das mulheres possui um perfil bem definido. A dona, Cesárea (Cristina Pereira), recebe as amigas, interpretadas por Irene Ravache, Ítana Nandi, Polly Marinho, Grace Geanoukas, Katiuscia Canoro, Helena ALbergaria, Louise Cardoso, Maria Bopp, Clodd Dias, Veronica Debom. Dois repórteres, (um fotógrafo (Luis Miranda) e um jornalista (Rafael Vitti) chegam ao local para entrevistar as mulheres. Mas quando 2 onças fogem do cativeiro, todos ali presentes ficam sob a ameaça de suas garras. Muylaert faz uma sátira sobre um Brasil caótico e espelhado nos governos de direita que ocorreram recentemente no país. Muita gente chamou o ato final de terror, mas está muito longe de ser: é uma paródia bizarra e provocativa de "Jurassic Park", com as onças atacando e caçando as pessoas que estão li no clube, ioncluindo os planos de corredores e pessoas ecsondidas atrás de balcões da cozinha. Muylaert não teme abraçar o trash, com sangue falso, onças criadas em CGI e depois, em um plano divertido, sendo associadas às onças das notas do real. A cena de Ítala Nandi em uma orgia com diversos homens nús é uma celebração de sua filmografia que envolve grandes clássicos do cinema novo, entre eles, "O homem do pau Brasil", de Joaquim Pedro de Andrade.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Cidade by motoboy

'Cidade by motoboy", de Mariana Vita (2024) Concorrendo no Festival curta cinema 2024, "Cidade by Motoboy" apresenta um jovem casal gay preto, o motoboy Jorge Neto e seu namorado Dante Preto, que trabalha na cozinha de uma pizzaria com a sua mãe. Os dois inciiam a jornada de trabalho na noite da grande metrópole de São Paulo. O motoboy faz diversas entregar na cidade de São Paulo, entrando em apartamentos e condomínios da classe média alta. QUando um cleinte se recusa a receber a pizza pelo atraso de 1 hora e meia, o motooby ouve um sermão do cliente. O Motooby retorna à pizzaria e desolado, encontra conforto nos braços de seu amado. Um filme que traz um registro quase documental da rotina de um entregador de comida por moto, "Cidade by Motoboy" traz a solidão e a falta de compaixão das pessoas, onde a figura do motoboy é praticamente nula, inexistente para a sociedade. Melancólico, o filme traz uma bela mensagem no seu desfecho, onde a compreensão e amor da pessoa amada traz alento a um futuro profissional que não traz alegrias. Uma forte crítica à mecanização do trabalho promovido pelos aplicativos de entrega de comida.

Fúria sem limites

"Gekido", de Yoshiki Takahashi (2022) Escrito e dirigido por Yoshiki Takahashi, "Fúria sem ilimites" é um filme B distópico japonês. Ambientado na violenta cidade de Fujimi, o filme traz o policial durão Fukama (Yôta Kawase). Ele é acionado pelo chefe sempre que tem que resolver alguma ação que exige força e inteligência na solução da ocorrência. Uma das chamadas, no entanto, termina com a morte de um dos algozes, quando Fukuma excede a sua violência na ação. Ele é obrigado a passar 3 anos fazendo reabilitação psiquiátrica nos Estados Unidos. Ao retornar ao Japão, ele decsobre que a cidade está com tolerância zero aos crimes de todos os tipos. Uma patrulha de segurança comunitária, comandada pelo prefeito e pelos antigos colegas de trabalho, fazem com que Fukuma descubra uma forma de derrubá-los, uma vez que eles acabam matando e torturando inocentes. O filme é obscuro e em alguns momentos, percebe-se que o orçamento estava limitado para cenas de ação e de valor de produção. Mas o 3o ato, a da vingança, compensa bastante, com muita violência gore, incluindo uma mão desgarrada do braço onde o policial usa o osso quebrado para matar as pessoas. Uma diversão totalmente sem compromissos, apenas para zoar as cenas de porradaria.

Corpo aberto

"Corpo aberto", de João Victor Borges e Will Domingos (2024) Concorrendo no Festival do Rio 2024 na Mostra novos rumos, "Corpo aberto" é um drama LGBTQIAP+ rodado em Barra de Guaratiba, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Um professor lamenta que poucos alunos se inscreveram. Os jovens, em sua maioria pretos, vivem suas rotina de trabalho e da busca do prazer e do sexo, em relacionamentos de orientação sexual diversos. O filme traz uma narrativa naturalista e despojada, mostrando cenas de sexo intensas e repletas de fetiches, e tendo como pano de fundo a classe média representada pelos jovens moradores da região de Barra de Guaratiba, lidando com empregos informais, como vendedores de cerveja na praia. A diversidade de corpos positivos e de um elenco majoritariamente negro traz um olhar contemporâneo ao discurso de fluidez de gênero nos relacionamentos, amparado por um bom elenco de atores que se permitem a participar de cenas viscerais.

The girl with the fork

"The girl with the fork", de Ignacio Maiso (2024) Premiado com 12 prêmios em festivais internacionais, esse thriller inglês é bastante confuso e ao final da projeção, fiquei sem entender qual a proposta do filme. Raramente saio assim de um filme, pois entendo que existe a subjetividade do autor e os sub-textos, mas esse filme de vardade não traz nada e apenas joga um esboço de roteiro que não tem a mínima lógica. Algumas pessoas o compararam ao cinema de David Lynch, o que é uma heresia. Muitos misturam o fato de ser um enredo sem lógica e ir logo citando David Lynch. O filme reúne alguns personagens que recebem mensagens de celular, caixas com mensagens escritas. São mensagens enigmáticas, como se fosse o Jigsaw de "Jogos mortais" enviando recadinhos. Mas nada mais acontece: ficam os personagens recebendo mensagens e passando o filme todo perguntando um ao outro: "Viu minha filha", "Viu minha mulher?, etc etc. Chato, arrastado, sem sentido, sem proposta. A única coisa que se salva é a fotografia.

Feeling Randy

"Feeling Randy", de Dean Lent (2024) Drama coming of age indie LGBTQIAP+ americano, "Feeling Randy" é um relato autobiográfico do diretor e roteirista Dean Lent de sua adolescência nos anos 70. Em San Francisco, Randy (Reid Miller) é um adolescente que tem um grupo de melhores amigos: Mark (Oliver Hibbs Wyman), Adam (Shane Almagor) e Sampson (Taylor Lawrence Grey). Seus amigos são o protótipo do macho alfa, falando o dia todo de mulheres e sexo. Eles planejam uma viagem de carro até um bordel em Nevada, para que todos possam perder a virgindade. Randy no entanto, é gay enrudtido: ele tem medo de se assumir para os amigos e principalmente para seu pai conservador e homofóbico. Randy se apaixona platonicamente pelo irmão de seu amigo Sampson, Luke (Blaine Kern III), um usuário de drogas que passa o dia em viagens lisérgicas. O filme traz uma história que poderia ser uma releitura de "Porky's", clássica comédia estudantil com adolescentes tarados em busca de sexo. Mas "Feeeling Randy" acaba sendo uma divertida história sobre um rapaz em busca de sua sexualidade reprimida e a sua saída do armário. Os figurinos, caracterização e direção de arte reproduzem fielmente a ambientaçãsagem envolvendo Randy e o dos anos 70 pós flower power. Os jovens atores são todos ótimos, e Blaine Kern III é um homem muito footgênico que chama atenção em todos os momentos em que aparece em cena. Lá no final, a cena de hidromassageme ntre Randy e Luke é bastante homoerótica e sexy.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

I hope he doens't kill me

"I hope he doens't kill me", de Nora Dahle Borchgrevink e Lyndon Henley Hanrahan (2024) Divertido curta LGBTQIAP+ inglês, repleto de humor ácido e muita malícia, o filme foi protagonizado, co-dirigido e escrito por Lyndon Henley Hanrahan, que interpreta "Buzz", um homem que vai para a casa de seu encontro online, que ele conheceu através do Grindr. Ele toca a campainha e surge uma breve aparição de um homem (Vincent Moisy), que o manda aguardar do lado de fora. Enquanto aguarda, Buzz imagina todos os tipos de perigos que o homem pode vir a oferecer: ser um serial killer, ser portador de HIV, ser drogado, ter fetiches pesados, etc. O filme poderia ser visto como uma crítica aos apps de pegação, especificamente o rgindr, onde os usuários marcam encontros em suas casas, sem nem ao menos saber quem é a pessoa que está invadindo o seu lar. O final é também uma provocação aos gays que temem encontros online, mas que, pelo vício com o sexo fácil, acabam ignorando os perigos constantes.

Malu

"Malu", de Pedro Freire (2024) Malu Rocha foi uma atriz brasileira, nascida em Ourinhos e teve uma carreira em cinema, tv e teatro. Faleceu aos 65 anos, em São Paulo, em 2013. A causa de sua morte foram as complicações decorrentes da Doença de Prion, a vaca louca, que afeta o cérebro. O filme apresenta Malu no ano de 1990, já separada de seus maridos: o 1o, Jonas Bloch, depois Zanoni Ferrite ( pai de Isabela Ferrite, no filme chamada de Joana) e depois Herson Capri, pai de Pedro Freire, roteirista e diretor de "Malu", de quem se separou em 1989. Malu (Yara de Novaes), desempregada, mora em uma casa em construção na zona oeste do Rio de Janeiro. Ali, ela divide o espaço com a sua mãe, Lili (Juliana Carneiro da Cunha), uma mulher religiosa e conservadora, e o melhor amigo de Malu, o ator negro Tibira (Átila Bee). Malu tem o sonho de construir um espaço teatral na parte de cima da casa. Joana (Carol Duarte) acaba de chegar de uma temporada na França, onde foi trabalhar como atriz. Joana decide passar um tempo com sua mãe. Aos poucos, o conflito entre as 3 mulheres segue em um nínel beirando o insuportável, e a convivência se torna praticamente impossível. O filme concorreu no Festival de Sundance e no Festival do Rio, ganhou 4 prêmios: melhor filme (dividido com "Baby"), melhor roteiro, melhor atriz (Yara de Novaes) e melhor atriz coadjuvante (dividido entre Carol Duarte e Juliana Carneiro da Cunha). Pedro Freire citou a sua referência no cinema de John Cassavettes, e é possível enxergar Gena Rowands, atriz fetiche e esposa de Cassavettes na performance admirável de Yara, principalmente de "Uma mulher sob influência".

O conde de Monte Cristo

"Le Comte de Monte-Cristo", de Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte (2024) Premiado no Festival Fantasia como melhor filme e melhor filme internacional, "O conde de Monte Cristo" foi exibido fora de competição no Festival de Cannes 2024. O filme tornou-se um grande sucesso de bilheteria na França, vendendo 8 milhões de ingressos e foi o filme mais caro do país em 2024. A dupla de diretores, Alexandre de La Patellière e Matthieu Delaporte, surgiram em 2012 com a comédia de grande sucesso "Qual o nome do bebê", um filme bastante provocativo sobre pais que querem dar nome do bebê de Adolphe, sugerindo ser Adolph Hitler. Os dois diretores atualizaram o romance de Alexandre Dumas para pautas contemporâneas, trazendo entre outros elementos, mais empoderamento feminino. No ano de 1915, o jovem marinheiro Edmond Dantes (Pierre Niney) salva uma mulher de afogamento. Por esse ato heróico, ele é alçado ao posto de capitão, provocando ciúmes em Danglars, seu amigo que também queria o posto de capitão. Edmond se casa com sua amada Mercedes (Anaïs Demoustier), prima do seu melhor amigo Fernand de Morcef (Bastien Bouillon). No dia de seu casamento, Edmond é preso pela guarda, acusado de conspirar a favor de Napoleão Bonaparte. Ele vai preso na prisão da Ilha de If, enviado pelo juiz Gerard de Villefort (Laurent Lafitte). Durante os 14 anos em que fica preso. Edmond conhece seu colega de cela, o abade Faria (Pierfrancesco Favino), que lhe ensina diversas línguas, além do uso de arma e espada. Faria também fala de um tesouro que ele guarda na Ilha de Monte Cristo, espertando um dia poder sair da prisão e resgatar a sua fortuna acumulada. Mas durante uma tentativa de fuga, Faria morre, e Edmond consegue fugir. Para surpresa de Edmond, ele descobre que Mercedes se casou com Fernanda e que o juiz Gerard e Danglars também conspiraram contra Edmond. Decidio a se vingar, Edmond vai até a Ilha, e assume a alcunha de o Conde de Monte Cristo, se tornando um homem rico e poderoso. Para quem gostou da nova adaptação de 'Os três mosqueteiros", também de Alexandre Dumas e produzido pelo memso estúdio Pathé, "O conde de Monte Cristo" é uma super produção de alta qualidade, um cinema clássico, repleto de vilões e heróis, com todos aqueles ingredientes que fazem o público torcer bastante. Excelente em todos os quesitos técnicos ( fotografia, edição, direção de arte, figurino, maquiagem), a produção traz um elenco de alto nível, encabeçado por Pierre Niney, uma estrela francesa que já trabalhou com François Ozon e grandes cineastas e tem um trabalho versátil como ator ( me faz lembrar às vezesna fisionomia de Adrien Brody).

A balloon's landing

"Wo zai zhe li deng ni", de Angel Ihan Teng (2024) Drama realizado em Taiwan, "A balloon's landing" foi acusado pelo público de "queerbaiting", ou seja, isca para público gay. Isso porquê todo o material promocional, incluindo poster, fotos e trailer, induziram a um romance BL (Boy lover) e isso não acontece no filme. A produção do filme escalou dois jovens atores bonitos e sexies e o filme é repleto de cenas homoeróticas, incluindo olhares insinuosos, abraços, na cama semi-nus, mas em momento algum existe alguma possibilidade na dramaturgia dos dois virem a ter um romance. Tian Yu (Terrance Lau) é um jovem escritor de sucesso, mas ao lançar seu último romance, é acusado de plágio. Deprimido e com desejos suicidas, Tian decide viajar para Taiwan, para tentar encontrar um amigo que ele conheceu por correspondência, mas que nunca se encontraram pessoalmente. Ao sair para uma balada em Taiwan, ele se embebeda e acaba conhecendo o jovem malandro A Xiang (Fandy Fan) , que o leva até sua casa para passar a noite lá. Os dois acabam se tornando amigos, e A Xiang procura fazer Tian voltar a ter paixão pela vida. Tian quer conhecer um local chamado A baía das baleias desaparecidas, uma região que seu correspondente disse ser um lugar próximo ao paraíso. A Xiang o leva até o festival de fogos de artifício, mas ele acaba sendo procurado por uma gangue que cobra uma dívida de A Xiang. A verdade é que o filme o tempo todo sugere um romance queer. Fico imaginando se os produtores tivessem investido em um filme Lgbt, provavelmente teria se tornando um filme cult: tudo nele é belo: fotografia, locações, trilha sonora e claro, os dois atores são um colírio para o público. Não que o filme seja ruim, mas ficou no meio do caminho de criar coragem para que algum personagem declarasse o seu amor pelo outro. Brodregame existe, mas o filme certamente queria dizer outra coisa. O último ato muda de tom e investe na fantasia, que vários espectadores disseram que remeteu ao drama "A casa do lago".

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Larger Than Life: Reign of the Boybands

"Larger Than Life: Reign of the Boybands", de Tamra Davis (2024) Documentário musical que explora as boybands, atualmente no topo dos Spotifies por conta do K-pop. Mas antes dessa explosão musical das bandas sul coreanas, o filme explora como surgiram os grupos comandados por rapazes bonitos, que cantam, dançam e provocam histeria em milhares de fãs no mundo inteiro. O filme traz "The Beatles" como um precursor da relação rapazes sedutores e fãs. Mercadologicamente e como marketing, as boybands precisam ter letras que falem sobre uma garota. Nenhum integrante pode assumir um namoro, pois as fãs os desejam e querem sonhar com essa possibilidade. Não podem ser vistos em público bebendo álcool ou usando drogas, e deve ter uma vida social regrada, sem escândalos. O filme passa nos anos 70 com The Jacksons, The Osmond brothers. Daí, influenciado por esses grupos da Motown dos anos 70, surgiram nos anos 80 o New edition, grupo vocal formado por jovens negros, que por sua vez, inpsirou a banda de rapazes brancos The new kids on the block, com o irmão de Mark Walbherg, Danny Walhberg. Nos anos 90, surgiram The backstreet boys e na esteira do seu mega sucesso, Nsync, o que provocou na indústria uma grande rivalidade entre as duas boybands. O filme apresenta o empresário musical de ambos, que os explorava com tours intermináveis e discos um atrás do outro. Financeiramente,o empresário ficava com quase todo o dinheiro, o que os deixou bastante irritados. Muitos saíram em carreira solo, como Justin Timberlake. Lance, do Nsync, dá um depoimento dizendo o quanto o restante da banda se sentiu traída com a saída de Justin. O grupo nunca mais se apresentou. Outros grupos também são apresnetados; Hansons, The Jonas brothers (ambas as bandas não se consideravam Boybands, termo que achavam pejorativo). Na Europa, são apresentados New direction, Take that, 98 degrees, Boyzone, Westlife. O filme fala do mega sucesso da carreira solo de Harry Styles e finaliza com as K-pop bands, como BTS e Seventeen. A melhor passagem é quando apresenta a cantora Tiffany, grande sucesso teen dos anos 80, e a sua relação com o New kids on the block, que ainda no início da carreira, abriam os shows de Tiffany. Mas quando ela passou a namorar um dos cantores do grupo, Jonathan, as fãs se irritaram e começaram a vaiar a cantora nos shows, que foi obrigada a inverter e a abrir os shows do grupo.

Look back

"Rukku Bakku", de Kiyotaka Oshiyama (2024) Adaptação do mangá de Tatsuki Fujimoto, "Look back" é um anime comovente e que deixará o público chocado em seu 2o ato, que traz uma virada dramatúrgica brutal. A história gira em torno da discussão sovre a arte, no caso o mangá, e a amizade. E como muitos filmes, apresenta um olhar alternativo, com a pergunta "E se...?", e assim, trazendo uma versão alternativa de uma vida que não poderá mais retornar por conta de escolhas feitas no passado. A protagonista é Fujino, uma menina de 13 anos. Durante uma aula, onde o professor propõe um dever onde todos devem desenhar um mangá "one shot" (o padrão de 4 tiras por página e história contada em um único capítulo). Fujino se destaca entre os alunos e todos a elogiam. Um dia, no entanto, chega uma tira de uma garota chamada Kyomoto, que por conta de sua agorafobia ( medo de sair de casa), faz os deveres em seu quarto. Fujino fica enciumada com os traços de Kyomoto, que são melhores que o seu. Obcecada em querer ser a melhor, Fujino decide melhorar os seus traços, passando anos se aprimorando. Um dia, no entanto, ela desiste e volta à sua vida de estudante normal, se dedicando mais aos estudos. Ao se graduar com 17 anos, o reitor pede um favor para Fujino: que leve o diploma na casa de Kyomoto. Fujino se recusa, mas diante da insistência do reitor, ela vai. Ao chegar na casa de Kyomoto, ela bate em seu quarto, mas não é atendida. Fujino desenha um one shot zoando de Kyomoto e o coloca debaixo da porta, o que estimula Kyomoto a sair de casa. As duas acabam se tornando amigas e Kyomoto se esforça em ser uma pessoa menos tímida e aos poucos, esboça sorrisos e alegria. Fujino sugere que elas desenhem juntos. A dupla faz sucesso, comd estaque para Fujino, e Kyomoto sobre sua sombra. Um dia, Kymoto diz à Fujino que deseja estudar na faculdade de arte e aprimorar os seus estudos, diferente de Fujino que tem um pensamento mais mercadológico e de sucesso sobre a arte. O tempo passa. Fujino agora é uma artista de grande sucesso e vende bem seus mangás. Até que ela assiste na tv uma notícia que irá mudar a sua vida para sempre. Livremente inspirado em ataque criminoso que matou 33 desenhistas em Kioto em um estúdio de animação, "Look back" foi um mangá lançado em 2021. Trágico e malancólico, o filme fala sobre luto utilizando lindos diálogos e uma trilha sonora envolvente. As duas personagens são retratadas lindamente, e as cena sonde elas correm pelas ruas da cidade, em uma amizade pura, é antológica.

Alma da festa

"Life of the party", de Ben Falcone (2018) Co escrito e co-produzido pela atriz Melissa McCarthy, a comédia dramática "A alma da festa" apresenta Deanna (McCarthy), uma mulher de meia idade, dona do lar, casada com Dan (Matt Walsh) e mãe da jovem Maddie (Molly Gordon) , que acabou de entrar na faculdade. Dan traz uma notícia devastadora para Maddie: ele quer o divórcio pois está de caso com a corretora Marcie, uma mulher arrogante e interesseira. Fora isso, ele quer vender o imóvele. tirar Deanna doo inventário, deixando-a sem nada. Desesperada, Deanna procura conselho de seus pais, Sandy(Jacki Weaver) e Mike (Stephen Root). Deanna decide voltar para a faculdade e completar o curso de arqueologia, para desespero de sua filha Maddie, que morre de vergonha de ter que compartilhar a rotina da faculdade com sua mãe. Divertida dramédia capitaneada pela talentosa Melissa McCarthy, que está em terreno confortável, e um time de excelente atores que inclui, além dos citados, a genial Maya Rudolph, no papel de Chrtsine, a melhor amiga de Deanna e responsável por alguma das cenas mais hilárias do filme, como a do encontro de Deanna com Dan na sala com advogados. Uma pena que a dupla Jacki Weaver e Stephan Root apareçam pouco, pois também alegram toda as vezes em que aparecm. Vale ressaltar também as ótimas atrizes que interpretam as colegas de Maddie na faculdade, e a garota que divide o quarto com Deanna. O filme celebra a elevação da auto estima da mulher 40+, trazendo um romance entre Deanna e um estudante, sem problematizar o etarismo.

Eletrodoméstica

"Eletrodoméstica", de Kleber Mendonça Filho (2005) Vencedor do prêmio de melhor curta no Cine PE em 2006, "Eletrodoméstica" é escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho. O filme é uma parábola sobre uma mulher, dona de casa (Magdale Alves), que cuida do lar enquanto seu marido, que nunca aparece, está ausente, trabalhando. A mulher cuida de seus dois filhos adolescentes, Nelsinho e Fernanda, que passam o dia vendo tv e jogando game. A mulher se utiliza de eletrodmésticos na sua rotina: microondas, a tv nova que chega, aparelho de som, fogão e principalmente a máquina de lavar, que ela utiliza como escape emoicional e sexual, em cena divertida e já vista em comédias, mas aqui ganha simbolismos. O filme é rodado no mesmo apartamento de "o som ao redor", lançado em 2012, e algumas cenas desse curta foram refilmados no longa de Kleber. O cinema de Kleber fala sobre o vazio, sobre o silêncio e sobre a falta de comunicação entre familiares.

MMXX

"MMXX", de Cristi Puiu (2023) Drama romeno c-escrito e dirigido pelo cineasta Cristi Puiu, considerado um dos fundadores do movimento "novo cinema romeno", com seu drama premiado 'A morte do Sr Lazarescu". Com "MMXX"(2020, em vocabulário romano), Puiu faz uma crítica à burocracia que ele considera fascista sobre a forma como os governos impuseram regras rígidas à população em relação à covid e ao lockdown. Puiu foi um dos grandes detratores do uso da máscara e do confinamento e aqui, ele faz críticas ácidas `à forma como o governo de apropriou das regras "kafkanianas". Concorrendo em San Sebastian, o filme é dividido em 4 segmentos, cada um com cerca de 40 minutos e estilisticamente, filmados de forma distintas. 1) Uma terapeuta, Oana, recebe uma nova paciente, Nadia. Ao longo da sessão, inverte-se a relação e Nadia provoca Oana. Ela revela que a sessão foi um presente de uma amiga. 2) Oana conversa com seu irmão Mihai sobre o marido dela, Septimiu, e a crise que estão vivendo no relacionamento. De repente, uma amiga de Oana,que acabou de dar à luz em um hospital, relata que está impedida de ver o filho por ela ter sido diagnosticada com covid 3) Septimiu, que é médico, conversa com um colega no hospital sobre uma amante e fala também sobre tere scutado uma conversa sobre a máfia local 4) Um investigador policial e seu assistente invadem um funeral que estava escondendo uma rede d etráfico humano, e interrogam uma prostituta que faz relatos bárbaros sobre como agiam. Com 2hrs 40 min de duração, é uma tarefa hercúlea acompanhar esse filme que é a nata do cinema romeno, com muitos planos estáticos e longos, contemplando um cinema naturalista e rígido formalmente. Assim assim, é de se elogiar o excelente trabalho de todo o elenco, atuando em cenas muitas vezes em planos sequências. É um filme cansativo e traz um olhar provocativo sobre a pandemia e as diversas formas de relacionamento, sejam conjugais, profissionais ou de exploração camufladas pelo lockdown que acabou se aproveitando da situação para fazer práticas criminosas.