terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Jurado No 2

"Juror# 2", de Clint Eastwood (2024) "Jurado no 2" foi escrito por Jonathan A. Abrams, e dirigido por Clint Eastwood aos 94 anos de idade. O texto daria uma excelente peça de teatro, pois acontece quase que todo dentro de um tribunal da Geórgia. O filme me lembrou de "Sobre meninos e lobos", também dirigido por Eastwood, por apresentar um tribunal, flashbacks, dúvidas sobre a autoria do crime e um desfecho dúbio. Mas também faz lembrar, e muito, da obra-prima de Sidney Lumet, "12 homens e uma sentença", ao apresentar o ponto de vista dos jurados sobre o veredito do caso. Justin Kemp (Nicholas Hoult) é um escritor que escreve para uma revista online. Ele é casado com Ally (Zoey Deutch), que está grávida. Eles formam um casal feliz. Justin recebe uma carta o intimando para ser jurado de um caso que abalou a cidade: uma jovem, Kendall Carter (Francesca Eastwood), foi encontrada morta, e a acusação caiu sobre seu namorado, James Sythe (Gabriel Basso). Justin tenta ser dispensado de ser jurado, mas não consegue. Ao entender melhor o caso, que tem como advogada de acusação a promotora Faith Killebrew (Toni Collette) e de defesa Eric Resnick (Chris Messina), Justin vai aos poucos entrando num terrível dilema: ele sabe quem matou Faith. O excelente elenco do filme, que traz ainda J. K. Simmons como um dos jurados, e Kiefer Sutterland como um colega de Justin, além de um time de ótimos atores de apoio, traz uma direção precisa de Eastwood. Não é fácil realizar um filme quase todo num tribunal e manter o interesse do espectador. Para isso, é necessário um bom roteiro, bons diálogos, boa direção é ótimos atores. Tudo isso o filme tem. Mas ainda assim, senti que o filme poderia ter atrasado o conflito de Justin, para mim, foi revelado cedo demais e estragou a surpresa. O filme teve ótimas críticas nos Estados Unidos, mas aqui no Brasil foi lançado direto em streaming.

O gigolô

"Aap wong", de Cheuk Man Au (2015) Produção de Hong Kong, "O gigolô" é um filme que veio na esteira de produções americanas como "Magic mike", com Channing Tatum, e "The Hustler", com Jennifer Lopez. Mescla de drama, erotismo e thriller, o filme traz cenas quentes, além de uma apresentação com um pênis gigante do protagonista, no mesmo estilo de Mark Whalberg em "Boogie nights". Ho Kui Fung (Dominic Ho) é um estudante que procura ajudar nos gastos de sua casa. Ele mora com sua mãe divorciada, que vive de cozinhar para fora. Seu pai , ex-gigolô, agora trabalha na estação de metrô, cantando para poder ganhar alguns trocados. Seu pai deve dinheiro para agiotas. Quando sua mãe fica doente, Ho acaba indo trabalhar como faxineiro na boite para mulheres ricas de sua prima Hung. Tímido, ele é assediado pelas mulheres, até que um dos gigolôs, Absom, o ensina a se comportar como gigolô e assim, ganhar muito dinheiro. O filme ainda traz uma sub-trama onde uma cineasta, Chloe, escala Ho para interpretar um gigolô em um filme, sem saber que ele é um na verdade. O filme é bem cafona e traz personagens caricatos. Dependendo do mood que o espectador estiver, pode até se divertir com o filme. Se quiser ver um filme repleto de erotismo, o filme também irá agradar, mas é soft, estilo Cine privé.

Rent boys

"Die Jungs vom Bahnhof Zoo", de Rosa Von Praunheim (2011) Dirigido por um dos mais controversos e premiados cineastas queer da Alemanha, Rosa Von Praunheim, "Rent boys" é um documentário Lgbtqiap+ visceral e frio como só os alemães sabem fazer. O filme não apresenta cenas de sexo, mas os depoimentos bastam por si só, trazendo revelações chocantes, melancólicos e viscerais sobre garotos de programa, clientes, donos de bar e assistentes sociais. Fico imagino um ótimo drama de ficação baseado em alguma das histórias contadas. O filme começa com um prólogo com imagens de arquivo dos anos 60, logo após a contrução do muro de Berlim, em 1961. Um chefe de polícia anuncia que muitos rapazes fugiram da Alemanha oriental para a ocidental para se prostituirem na Zoo Bahnhof a estação de trem Zoo, famosa pela prostituição masculina em seus interiores. O policial diz que a polícia irá prendê-los e os chama de criminosos. Nos dias de hoje, são coletados depoimentos de garotos de programa dos anos 80, hoje já idosos, e garotos d eprograma que continuam trabalhando na estação. Boa parte fala sobre abusos sexuais em família, fuga de casa, vício em drogas, doenças venéreas, Hiv, clientes abusivos e violentos. Os garotos de programa de hoje em dia em sua maioria são imigrantes, diferente dos antigos, que eram da Alemanha oriental. Os donos de bar lucram com os michês, que trazem clientes, em sua maioria idosos, para consumo no bar. Os assistentes sociais alertam para uso de camisinhas, que eles distribuem nos bares e nas ruas.

Boca Chica

"Boca Chica", de Gabriella A. Moses (2023) Vencedor do prêmio Nora Ephron no Festival de Tribeca, dedicado a narrativas femininas, "Boca Chica" é um filme realizado na República Dominicana, dirigido por Gabriella A. Moses, escrito por Mariana Rondón e Marité Ugas e lindamente fotografado por Micaela Cajahuaringa. A história envolve como pano de fundo uma família moradora da turística ilha da República Doninicana. Desi (Scarlet Camilo) é uma menina de 12 anos que sonha em ser cantora. Ela é filha da mãe solteira Carmen (Lia Chapman), que administra um restaurante à beira da oraia junto da tia Nena (Xiomara Rodriguez). O irmão de Desi, Fran (Jean cruz), trabalha em Nova York como entregador de pizza, mas mente para a família dizendo que trabalha como músico em uma orquestra. uando o primo de Desi, Elvis (Richardson Diaz), que mora na Europa, anuncia para sua família que vai retornar para uma festa de casamento com sua esposa européia, Carmen e Nena ficam animadíssimas. É uma oportunidade para reunir a família e convidarem turistas para uma festa que tará lucros para as mulheres. Inesperadamente, Fran retorna sme avisar, e decide no dia da festa expôr todas as mentiras da família. O roteiro e a direção souberam lidar com muita sensibilidade e respeito ao elenco e figuração, tratar do tema do turismo sexual infantil na história. É só reparar nas cenas, e sempre haverão meninas em pano de fundo fazendo algum tipo de atividade, ou visto através de comportamente ou figurino. Com excelente performance de todo o elenco, é um filme duro, embalado com lindas imagens turísticas da região, justamente para dar esse constraste para que o espectador perceba o que existe por trás de tanta beleza.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

A canga

"A canga", de Marcus Vilar (2001) Uma pequena jóia do cinema brasileiro, "A canga" é um drama primoroso dirigido pelo cineasta paraibano Marcus Vilar. Adaptado de um conto escrito pelo ator W.J. Solha, o filme tem uma fotografia de Walter Carvalho que emula grandes clássicos do cinema ambientados no sertão de sol escandante e de terra árida e morta. O elenco traz o melhor do cinema parabiano: Além de W.J. Solha, no papel do velho Ascenço, tem Zezita Mattos, como sua esposa, Everaldo Pontes, no papel do filho, casado com Veronica Cavalcanti. O outro filho de Ascêncio, interpretado por Servílio de Holanda, tem problemas mentais. O filme foi vencedor no Festival de Gramado 2001 com os prêmios de aquisição do Canal Brasil e de melhor curta do público, além de diversos outros prêmios em importantes festivais. O filme traz uma família de miseráveis, liderados por Ascênio, que na pior tradição de um coronel sem terra, mas ainda assim bruto e violento, chicoteia a sua família como se fossem animais, para poderem arar a terra seca, carregamdo uma canga de boi. O filme é uma metáfora sobre Poder, patriarcado e abuso totalitário. Quase sem diálogos, "A canga" traz enquadramentos e imagens duras e trágicas, recheadas por uma forte dramaturgia e um trabalho cênico de atores comprometidos com a história que estão contando.

Young hearts

"Young hearts", de Anthony Schatteman (2024) EXCEPCIONAL! Um dos melhores, senão o melhor, retrato do primeiro amor na pré-adolescência entre dois meninos. Esse drama romântico belga juvenil me lembrou bastante de "Close", também belga, e de "I love, Simon". Do primeiro, traz o drama realista de dois meninos que se descobrem interessados um pelo outro, só que não traz a tragédia que comoveu o mundo. De "I love, Simon", ele traz o tom açucarado, fofo e sensível, com amigos e familiares respeitosos com a saída do armário de um dos meninos. Não tenho como não começar a comentar sem destacar a espetacular performance de Lou Goossens, um jovem ator de 14 anos, que traz muita maturidade em um papel complexo e repleto de camadas, com cenas intensas de angústia e desilusão. Os olhares que ele traz de paixão e amor, tudo registrado no mais absoluto silêncio, é apaixonante. Elias (Goossens) é um menino de 14 anos feliz: seu pai é um famoso cantor de músicas bregas, sua mãe é carinhosa, seu irmão mais velho está namorando e Elias namora Valerie. QUando uma nova família se muda para a casa da frente, Elias acaba conhecendo Alexander (Marius De Saeger), da mesma idade. Órfão de mãe, Alexander vai estudar na mesma sala de Elias. Extrovertido, Alexander logo conquista todo mundo, inclusive Elias. Quando Elias sofre bullying, Alexander o defende e ambos se tornam melhores amigos. Durante um passeio, os dois meninos falam de amores e Alexander confessa que já namorou um menino e que não tem problemas com isso. Essa declaração mexe com Elias, que fica confuso em relaç/ão a seus sentimentos por Alexander, até que os dois trocam um beijo. Elias passa a evitar Alexander, com medo que os outros meninos o rotulem como gay, mas a verdade é que ele é apaixonado pro Alexander e não consegue ficar um minuto sme pensar nele. O filme é muito bom e traz uma gama de personagens carismáticos e queridos. A cena de Elias e seu avô, é dos momentos mais emocionantes que você verá em um drama recentemente. Uma cena de confissão de Elias dentro do carro para sua mãe, merecia ser resgatada por atores e ser um monólogo brilhante para apresentação em self tapes. Impossível não chorar muito e sair apaixonado por esse filme.

El paraiso

"El paraiso", de Enrico Maria Artale (2023) Premiado drama italiano, vencedor dos prêmios de melhor roteiro e melhor atriz para Margarita Rosa de Francisco na Mostra Horizonte do Festival de Veneza 2023. Visceral e comovente, o filme retrata a dura vida de colmbianos que migraram para Roma e vivem de tráfico de drogas. Julio(Edoardo Pesce), 40 anos, mora com sua mãe, La Madre (Margarita Rosa de Francisco) em Roma. A mãe de Julio nasceu em um bairro pobre da Colombia e migrou para Roma em busca de uma vida melhor para ela e para Julio, quando ainda era pequeno. Julio nunca foi para Colombia, e sua mãe quer ser enterrada de volta em em seu país no dia que morrer. Quando Julio e sua mãe vão receber um rapaz colombiano no aeroporto, que traz dentro de si cápsulas de cocaína, eles descobrem que o rapaz mandou sua irmã, Ines (Maria del Rosario) no seu lugar. Assustada, Ines segue para a casa de Julio para poder evacuar as cápsulas, e não fosse pela destreza de Julio, ela teria morrido. Ines passa uns dias na casa de Julio para se recuperar, contra a vontada da mãe de Julio, que percebe que o rapaz está com interesse na mulher. Uma reviravolta no filme faz com que Julio precise retornar para a Colombia para levar uma varga dentro de si. O filme traz interpretações monstruosas de Edoardo Pesce, no papel do filho obediente à mãe e de Margarita Rosa de Francisco, uma mulher bruta, violenta, mas ao mesmo tempo, carinhosa e protetora com seu filho. A reviravolta na trama do meio em diante é inesperada e muito melancolica, e a forma como o filme começa e termina, com uma dança, é devastadoramente lúdico e poético.

Vollúpya

"Vollúpya", de Jocimar Dias Jr e Éri Sarmet (2024) Premiado curta LGBTQIAP+, "Vollúpya" mescla fantasia, ficção científica e documentário para apresentar ao público a história da boite queer Vollúpya, que abriu em 1992 e funcionou até o ano de 2005 no Largo do Gragoatá, Niterói. O filme começa com um homem do futuro investigando um museu e encontrando uma Fita Vhs. Ali, ele vê imagens da Vollúpya. Muitas imagens gravadas em dvcam da época, câmera Vhs, registrando depoimentos com os donos da boite, com os frequentadores, as drags, os go go boys e um ambiente onde tinha pista de dança e mesas de sinuca. O filme me lembrou a estética e narrativa de "Era uma vez Brasília", de Adirley Queirós, onde um homem do futuro chega em Brasília atual para fazer reflexões sobre o país. As imagens da galera nas noites da boite certamente são um formidável registro histórico da cultura queer e do quanto as pessoas podiam se expôr na época, muito diferente da liberdade e expressão dos dias de hoje. Uma espécie de clube, onde artistas como Miguel Falabella, Zelia Duncan e outros se misturavam a anônimos com a única finalidade de se divertir e poder ser livre na sua expressão e orientação sexual.

Vão das almas

"Vão das almas", de Edileuza Penha de Souza e Santiago Dellape (2023) Premiado curta goiano, "Vão das almas" traz uma narrativa de terror bem brasileiro, baseado em folcore. O filme é ambientado no quilombola da Chapada dos Veadeiros, chamada de Vão das almas. Uma família d eretirantes, Bastião, Alzira e o bebê, chegam querendo um pedaço de terra que Bastião diz ter direito. Um capataz das terras diz para eles irem embora até o anoitecer, sob ameaça de arma. Alzira vai rezar na Igreka, e quando volta, vê Bastião conjurando o Saci à volta da fogueira. E ccomo diz a frase do filme, "Existem vários tipos de Saci. O Pererê é menor e é brinca;hão. Já o Saçurá é amedrontador". O filme traz diversos sub-textos, como a luta por terras, desemprego, a fome e a região aonde o filme é ambientaod, o quilombola, que traz em um flashback a origem do Scai que foi punido por um leão de chácara que arrancou sua perna ao tentar fugir. Um filme curioso, com um tipo de horror que remete aos filmes de Rodrigo Aragão e Marcos de Britto, realizados com baixo orçamento mas com muita criatividade.

domingo, 1 de dezembro de 2024

Teca e Tuti- uma noite na biblioteca

"Teca e Tuti- uma noite na biblioteca", de Diego M. Doimo, Tiago Mal e Eduardo Perdido (2023) Vencedor de diversos prêmios, incluindo melhor filme do FIC- Festival internacional de cinema infantil 2024, "Teca e Tuto- uma noite na biblioteca", é certamente uma das melhores produções brasileiras voltada para os pequeninos, junto de obras clássicas como "A dança dos bonecos", de Helvécio Ratton. Um filme que traz uma mensagem muito clara sobre a importância de se formar um público infantil que aprecie a leitura e assim, ajudar a elaborar argumentos próprios e dar asas à imaginação. A criatividade do roteiro é que a protagonista é uma traça, Teca, que entra em um conflito enorme: devoradora de papéis, ela passa a entender que as páginas que ela come possuem letras e desenhos que formam um sentido, frases, que no final de tudo, contam histórias que devem ser guardadas na memória para sempre. Teca mora com sua família e seu ácaro de estimação, Tuti, numa caixa de costura de uma idosa costureira que recebe o neto para passar um tempo na casa dela. Ele traz o livro de "Alice no país das maravilhas". Acidentalmente, Teca se esconde dentro do livro que é devolvido para a biblioteca da cidade, e lá ela faz novos amigos: a aranha Clarice e o rato João. O filme levou mais de 10 anos para ficar pronto, e envolve diversas técnicas de animação, incluindo o stop motion. O filme também tem atores, mesclando live action e animação. O filme é produzido pela Rocambole produções, do interior de São Paulo, o município de São Carlos. Imperdível, e possui um trabalho impecável de dublagem do elenco.

Bernadette

"Bernadette", de Léa Domenach (2023) Catherine Deeunve é das poucas atrizes da época de ouro do cinema que ainda continuam trabalhando e exibindo seu talento em filmes bastante versáteis, e é uma grande honra poder vê-la em papéis onde fica claro que ela está se diverrindo em compôr personagens fortes e contraditórias em suas essências. 'Bernadette" é o filme de estréia da atriz Léa Domenach, que aqui se aventura por trás das câmeras no papel de diretora. O filme foi bastante criticado na França, e eu acredito que mais pelo contexto político da obra, do que pelo filme em si, que é divertido e tem um elenco formidável de atores franceses. O que eu não curti, e foi um risco da direção, é narrar a história como uma fábula, através de um coro grego formado por cantores de uma igreja gregoriana. Ficou exagerado e saiu do tom. O filme é uma livre adaptação baseada na história real da ex-primeira dama francesa Bernadette Chirac, esposa de François Chirac (Michel Vuillermoz), que foi presidente por dois mandatos seguidos, de 95 a 2007, e que terminou o seu mandato sob chuvas de protestos e críticas de corropção durante seu mandato ainda como prefeito de Paris. O casal Chirac era visto como conservadores e de direita, e o roteiro de Clémence Dargent e Léa Domenach procura trazr um protagonismo à Bernadette, como uma líder feminista e que não aceitou estar sob à sombra do marido. Bernadette sempre apoiou o marido durante a vida pública e durante a campanha para a presidência, mas assim que ele vence, ele a coloca totalmente em 2o plano. Sentindo-se rejeitada, Bernadette ainda se resigna pela forma como François lida com uma das filhas, Laurence, em detrimento de Claude, a filha preferida e que se torna sua secretária. Claude vive recriminando sua mãe Bernadette pela forma antiquada que se veste e pelo jeito dela ser. Cansada, Bernadette decide dar a volta por cima, junto de um dos assessores de François, Bernard (Denis Podalydès) e entra para a vida política. O filme traz muitas sub-tramas envolvendo o contexto político da França entre os anos 90 e 2000, principalmente a rivalidade de François com o futuro presidente Nicholas Sarkozy. Mas o que interessa aqui é testemunhar a força que se cria em torno da personagem Bernadette, de esposa troféu à uma das figuras públicas mais famosas e queridas da sociedade francesa. Um filme elegante, com um toque de humor sutil e a alegria de acompanhar cenas ótimas de Deneuve com Michel Vuillermoz e com Denis Podalydès.

All you need is blood

"All you need is blood", de Cooper Roberts (2023) Divertido terrir que homenageia a arte de ser um cineasta e de se contar histórias baratas e do jeito que for possível. Obviamente, o filme faz lembrar de "Super 8" e de "The Fabbelmanns", filmes onde os protagonistas jovens reúnem os amigos e fazem filmes dentro de uma infra estrutura simples e bastante criativa para criar narrativas próprias e exercitar a realização de filmes. O filme se passa no final dos anos 90, ainda no uso de câmeras domésticas dvcam, que muitos utilizavam para fazerem seus filmes. Bucky (Logan Riley Bruner) é um adolescente que mora com seu pai, Walter (Tom O'Keefe). A esposa de Walter e mãe de Bucky faleceu e ambos vivem um luto. Bucky é apaixonado por filmes e realiza filmes com seu melhor amigo, o indiano Vish (Neel Sethi), que é mudo. Vish é o ator e Bucky é o diretor. No entanto, os filmes que realizam não são selecionados para os festivais, que criticam a falta de qualidade nos efeitos e atuações. Uma amiga deles, June (Emma Chase), que sonha em ser atriz mas nunca passa em audições pela timidez, se oferece para ser atriz dos filmes deles. Além dela, uma outra atriz fracassada, Vivien (Mena Suvari, o objeto de desejo de Kevin Spacey em 'Beleza americana") também deseja estar nos filmes dos meninos. O que ninguéme sperava, é que caísse um meteoro no quintal da casa de Bicky e seu pai se transformasse em um zumbi, e claro, estrela dos filmes de Bucky, que aproveita a oportunidade para faezr o filme dos sonhos. O filme tinha tudo para dar certo: efeitos práticos divertidos e toscos, elenco conectado com a proposta do projeto, repletos de caricaturas, e uma história que só quer homenagear o cinema, antes de qualquer outra coisa. Mas o filme peca em ser mais longo do que precisaria ser. Uma história dessas deveria ter no máximo 80 minutos, e os 20 minutos a mais acaba deixando a traama arastada e repetitiva. Mas vale como passatempo.

Open

"Open”, de Richard Paris Wilson (2024) Curta inglês escrito e dirigido por Richard Paris Wilson, o filme fala da obsessão para tratar de doenças mentais. Me lembrei, a grosso modo comparando, do personagem do Scratch de “A era do gelo:, que era obcecado por possuir uma noz. Em “Open”, o protagonista é Trevor ( George Naylor), um jovem que está sozinho em seu quarto, comendo pistaches. Quando sobra somente um pistache, ele não consegue abri-lo. A partir daí, o filme segue para o universo do absurdo e do cômico para diversas tentativas de abrir a semente. No final, o filme ganha um contorno dramático e simbólico, explicitando o porquê da obsessão do rapaz. Li numa matéria que a idéia do diretor veio durante o lockdown. Sozinho em sua casa, ele tentava escrever um roteiro para um filme, mas estava sem criatividade. No momento ele estava comendo pistaches, e ficou irritado porque não conseguia abri-las. O grande mérito do filme é a forma de contar a história, com uma decupagem e uma técnica muito criativa em um projeto de baixo orçamento.

Jellyfish and lobster

"Jellyfush and lobster", de Yasmin Afifi (2023) Prêmio Bafta de melhor curta inglês de 2024, "Jellyfish and lobster" é um comovente e sensível drama sobre o sexo na terceira idade, através de 2 personagens que moram em uma casa para idosos. O filme me lembrou "Coccoon", pelo uso da fantasia e da mistura de romance e comédia. Com performances irrepreensíveis de Flo Wilson como Grace e de Sayed Badreya como Mido, o filme foi rodado no reino unido e foi escrito e dirigido por Yasmin Afifi. Grace é uma idosa que vive de mau humor: ela está com câncer terminal, seu filho mal a visita e ela está odiando morar no asilo e ser tratada com piedade pelos enfermeiros. Um dia, ao fumar escondida, ela se depara com Mido, um idoso indiano que sofre de demência. Eles se conectam de imediato, e entre várias tentativas de fazerem sexo escondido, eles precisam lidar com os efeitos colaterais dos remédios que usam. Um dia, ao pularem na piscina interna da clínica que decsobriram ao acaso, eles se descobrem jovens quando estão debaixo d'água, e esse se torna o segredo deles. Um dia, Grace confessa a Mido o medo dela de morrer, e ele tem uma idéia. Apesar de toda a graciosidade do filme e o trabalho incrível de atuação e de roteiro, o filme traz um desfecho que pode servir de gatilho para pessoas que estejam sensíveis ao tema da mortalidade, e por iisso, não é recomendado para depressivos ou quem se identifique com as condições dos personagens.