sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Estou pensando em acabar com tudo

"I'm thinking of ending things", de Charlie Kauffman (2020)
Meu Deus, estou em crise: não ei se assisti a uma obra-prima, ou se a um filme complexo e impenetrável de Charlie Kauffman, que está aberto a várias interpretações, e talvez uma seja bem óbvia, mas não posso falar aqui senão dirão que estou dando spoiler, mas comentarei no final.
Charlie Kauffman é o roteirista e cineasta que virou cult já no seu primeiro trabalho. Roteirista dos premiados "Quero ser John Malkovich", "Brilho eterno de uma mente sem lembrança", "Adaptação" e depois dirigindo "Sinedoque NY" e a animação Anomalisa", Kauffman ganhou uma legião de fãs e também, uma legião de detratores que dizem que seus filmes são herméticos e sem lógica.
O filme pode ser pensando como dividido em 4 atos: a ida até a fazenda dos pais de Jake (Jessie Plummer), para apresentar a sua namorada (Jessie Buckey), cujo personagem não tem nome. Ela está em crise, se arrepende de ir nessa viagem e pensa em dizer a Jake que ela não sente nada por ele. O 2o ato, já na casa, onde somos apresentados aos excêntricos Toni Colette e David Thewlis. No 3o ato, o retorno para a cidade, de carro, de baixo de uma nevasca. E no 4o ato, a parada em uma escola, onde Jake estudou. E onde acontece o evento mais bizarro e louco do filme.
O 1o e o 3o ato, dentro do carro, duram mais da metade do filme, que tem 135 longos minutos. É um papo sobre vários assuntos, mas nitidamente, desabafos existenciais. A parte mais divertida e a cara de Kauffman é a da fazenda, com os pais. Mas o último é a anarquia total: tem números musicais e é onde o filme investe pesado no lúdico e no surreal.
Provavelmente é um filme que deva ser visto novamente. Toda a parte técnica é louvável. Kauffman dirige o seu texto
, adaptado do livro de Ian Reid, de forma extremamente pessoal, a famosa "cara do autor". Mas o elenco...puta que o pariu,que elenco! Jessie Buckley eu já acompanho desde "Beast", um suspense inglês, e depois ela fez "Judy",como a assistente de produção. Jessie Plummer é o ator que faz coadjuvante em muitos filmes maravilhosos, e aqui, ganha um protagonismo mais do que merecido. Toni Colette é o monstro que todos sabemos de sua fabulosa capacidade! Que atriz! e David Thewlis também empresta garra ao pai maluco.
SPOILER
No meu ponto de vista, tudo ali era viagem mental de Jake: é ele já velho, como faxineiro da escola, pensando em vidas possíveis, mas que ele não teve coragem de assumir. Os personagens que surgem, assim como em 'brilho eterno", são fantasmas do seu passado. O filme é a reflexão de um idoso, de uma vida sem ambições, que está perto do fim.

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