quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Os miseráveis

"Les miserables", de Ladj Ly (2019) O drama "Os miseráveis"ficou conhecido pelos brasileiros por ter dividido o Grande Prêmio do Juri no Festival de Cannes com "Bacurau". Dirigido pelo cineasta nascido no País africano Mali e radicado na França, o filme é livremente inspirado no clássico de Vitor Hugo, "Os miseráveis", escrito em 1845 no bairro Montfermeil, que se localiza na periferia de Paris, local onde todos os operários, pobres, imigrantes e desiludidos moram. No mesmo bairro , em 2018, encontramos a mesma situação sócio-econômica do bairro, agora populada por africanos, muçulmanos e árabes. O filme acontece no mesmo dia em que a França ganhou a Copa do Mundo de 2018. Somente em eventos grandiosos como esse, a população se mistura para comemorar, como se todos fossem um só. Passada a euforia, a realidade cruel e brutal volta à tona. O policial da anti-brigada Stephanie Ruiz é transferido de uma cidade provinciana para Paris e se junta a dois outros policiais, Chris e Gwada, para fazerem a ronda em Montfermeil. Chris e Gwada são obrigados a fazerem um treinamento em Ruiz, que logo percebe que a realidade do bairro e dos seus colegas policiais é muito mais trágica do que parece. Um evento onde os três policiais se envolvem com um garoto rebelde, Issa, que roubou um filhote de leao de um circo culmina em um ato errôneo por parte dos policiais, que acidentalmente aturam uma bala de borracha no garoto. Para piorar a situação, um dos moradores gravou com um drone a ação, e os policias precisam encontrar a gravação antes que o menino poste na internet. Filmes com essa temática já vimos aos montes: "Faça a coisa certa", "Policia", "O ódio", "Cidade de Deus", entre outros. O uso da linguagem documental também já foi bastante explorada. O que o diferencia é a visão de uma juventude relegada à base da pirâmide que decide dar um basta na situação passiva em que se encontram, e partem para a luta. Bem dirigido e com um time de jovens atores muito convincentes, o filme é um retrato desolador de um País de primeiro mundo que insiste em camuflar as suas mazelas.

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