quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Intimidade entre estranhos

"Intimidade entre estranhos", de José Alvarenga Jr (2018) O fascínio de adolescentes por mulheres mais velhas já rendeu verdadeiros clássicos do cinema: “A primeira noite de um homem”, “Ensina-me a viver”, “Era uma vez um verão”. Todos esses filmes com altas doses de romantismo e o famoso “Coming of age”, termo americano dado a filmes onde os personagens jovens passam por experiências que os tornam mais maduros e prontos para enfrentar a vida adulta. Em “Intimidade entre estranhos”, o assunto é exatamente esse. Matheus Souza, o roteirista, estourou aos 20 anos de idade com “Apenas o fim”. 10 anos se passaram, e aos 30 anos, Matheus coloca Horácio (Gabriel Contente) como o seu alter ego: é através dele que ele fala de rock , de amor adolescente, de frustração amorosa, de morte. Horácio é um adolescente com alma velha. Os personagens do filme vivem um eterno luto: no caso de Horácio, a morte de sua avó, que criou ele. No caso de Maria (Rafaela Mandelli) e Pedro (Millhen Cortaz), é o luto pelo amor perdido e determinado a morrer. Maria retorna ao Rio de Janeiro, anos depois te ter trocado por São Paulo, aonde conheceu Pedro. Esse foi contratado por uma emissora de Tv carioca para interpretar Noé. Maria sente ciúmes da parceira de cena de Pedro, e ao mesmo tempo, se irrita com Horácio, uma figura solitária, exótica ( dorme em uma cama caixão) e que ela pasma, descobre ser o síndico do prédio. Logo Maria e Horácio se conectam através da solidão. “Intimidade entre estranhos” tem de melhor o trabalho dos 3 atores. Uma pena que José Dumont, excelente ator, faça uma ponta tão mínima, no papel do porteiro. O filme, diferente de outros roteiros escritos por Matheus Souza, investe em um drama mais denso, com personagens repletos de traumas e frustrações. São muitas as cenas onde os personagens expõem seus medos e inseguranças, embalados por uma fotografia muito escura e uma trilha sonora melancólica. Algumas referências ao universo de Matheus Souza se fazem presente bem ali, ao fundo: Gang 90 e as absurdetes, o próprio apartamento de Horácio, repleto de universo Geek em tudo quanto é canto. Por isso, quem for buscar assistir ao filme achando que irá encontrar uma comédia de Matheus Souza, irá se frustrar. O humor só existe nas cenas da novela bíblica, ridicularizadas, e no ar patético do personagem de Pedro.

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